Nos
20 anos do Plano Real, quero aqui lembrar frases célebres da companheirada.
Antes, no entanto, algumas considerações.
Como vocês devem ter lido em
toda parte, ocorreu nesta terça, no Senado, uma sessão solene em homenagem aos
20 anos do Real. A estrela do dia foi o presidente Fernando Henrique Cardoso.
As conquistas oriundas do plano devem ser um dos pilares da campanha do tucano
Aécio Neves à Presidência — foi ele, aliás, quem dirigiu as palavras mais duras
contra o governo Dilma.
Falando, como é de seu feitio,
uma linguagem mais institucional, FHC reconheceu os avanços, inclusive do
governo Lula — deferência que seu sucessor jamais lhe fez —, mas afirmou que o
país precisa de mudanças, de ventos novos, porque há “fadiga de material”, o
que disse ter percebido também em seu governo.
Referindo-se à eventual
reeleição de Dilma, afirmou:
“A partir
de certo momento, tem fadiga de material. Eu sofri essa fadiga quando estava no
governo. Agora, tem fadiga de material: ‘De novo o mesmo, meu Deus?’. O Brasil
é um país novo, precisa de sentir ventos novos”.
Para Aécio, “os 12 anos de
governo do PT levaram o Brasil a estar hoje mergulhado em ambiente de
desesperança e descrença do futuro”. “De tijolo sólido, viramos hoje frágil
economia. (…) Quem suceder ao atual governo governará em tempos difíceis até o
país recuperar o entusiasmo num futuro melhor.”
Guerra
de propaganda
Os vinte anos do Plano Real estão a
merecer, certamente, um trabalho de fôlego. É impressionante que os tucanos
tenham perdido a guerra de propaganda para o PT nos últimos, vá lá, 14 anos —
já que o governo FHC ficou sob intenso bombardeio nos dois anos finais.
Lembre-se de que, um ano antes
do Real, o então ministro da Fazenda FHC adotou um conjunto de 58 medidas para
criar as precondições da estabilização da economia — de pronto combatidas por
Lula (vejam abaixo frase de janeiro de 1994).
Como todo mundo sabe, o partido
não ficou só na retórica: votou contra a MP do Real no dia 29 de junho de 1995.
Foi além. Recorreu ao Supremo com uma ADI (Ação
Direita de Inconstitucionalidade) contra o plano. E voltou ao tribunal para
tentar derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Abaixo, um pouco do que
disseram alguns patriotas.
*
Lula
“Esse plano de
estabilização não tem nenhuma novidade em relação aos anteriores. Suas medidas
refletem as orientações do FMI (…) O fato é que os trabalhadores terão perdas
salariais de no mínimo 30%. Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral,
mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo com o plano, aí sim
haverá condições” (O Estado de S. Paulo, 15.1.1994).
“O Plano Real tem cheiro de
estelionato eleitoral” (O Estado de S. Paulo, 6.7.1994).
Guido
Mantega
“Existem
alternativas mais eficientes de combate à inflação (…) É fácil perceber por que
essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e
ineficiente, é socialmente perversa” (Folha de S. Paulo, 16. 8.1994).
Marco
Aurélio Garcia
“O Plano Real é
como um “relógio Rolex, destes que se compra no Paraguai e têm corda para um
dia só (…) a corda poderá durar até o dia 3 de outubro, data do primeiro turno
das eleições, ou talvez, se houver segundo turno, até novembro” (O Estado de S.
Paulo, 7.7.1994).
Gilberto
Carvalho
“Não é possível que
os brasileiros se deixem enganar por esse golpe viciado que as elites aplicam,
na forma de um novo plano econômico” (“O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de
Conto).
Aloizio
Mercadante
“O Plano Real não
vai superar a crise do país (…) O PT não aderiu ao plano por profundas
discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira” (“O Milagre do Real”,
de Neuto Fausto de Conto)
Vicentinho, atual líder do PT
na Câmara dos Deputados
“O Plano Real só
traz mais arrocho salarial e desemprego” (“O Milagre do Real”).
Maria da Conceição Tavares
“O plano real foi
feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro”
(Jornal da Tarde, 2.3.1994).
Paul Singer
“Haverá inflação em
reais, mesmo que o equilíbrio fiscal esteja assegurado, simplesmente porque as
disputas distributivas entre setores empresariais, basicamente sobre juros
embutidos em preços pagos a prazo, transmitirão pressões inflacionárias da
moeda velha à nova” (Jornal do Brasil, 11.3.1994).
“O Plano Real é um arrocho
salarial imenso, uma perda sensível do poder aquisitivo de quem vive do próprio
trabalho” (Folha de S.Paulo, 24.7.1994).
Gilberto
Dimenstein
“O Plano Real não
passa de um remendo” (Folha de S.Paulo, 31. 7.1994 ).
Por Reinaldo Azevedo