sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Lula cai um tombo, que estava fora do script da história, logo depois de anunciar que é o dono do futuro. Sabem o que ele aprendeu com isso? Nada!


 O lobo perde o pelo, mas mantém o vício, não é mesmo? As recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha deram algum ânimo aos petistas. E, como não poderia deixar de ser, o mais arrogante, como de hábito, é Lula, o palanqueiro.  Nesta quarta-feira à noite, ele participou de um comício na Bahia, mais um Estado em que o PT pode ser apeado do poder. E mandou bala, dando a entender que pode voltar em 2018: “Eles devem se preparar porque eu vou estar vivo. Eles ficam dizendo: ‘Dilma vai ser reeleita para ficar mais quatro anos e depois vem um tal de Lula e vai ficar mais quatro?’ É muito cedo para a gente discutir, mas uma coisa eu digo para vocês: em 2018, eu vou estar com 72 anos. Enquanto eu tiver forças para brigar por esse país, não vou permitir que aqueles que não fizeram nada pelo Brasil em 500 anos voltem”. Depois de fala tão iluminada, ele tropeçou e caiu no palco, sem se ferir.

Pois é, né, Lula? Para cair, basta estar de pé. Este senhor acha mesmo que controla a força dos astros, da natureza, as vontades humanas, a história… Notem o tom: o chefão petista acha que a eventual volta ao poder daqueles que ele considera adversários depende da sua vontade. A fala é de uma arrogância sem limites.

Boa parte do país, diga-se, está com o saco cheio é precisamente disto: empáfia, bazófia, o permanente tom de ameaça. Eis ali, de novo, o discurso insuportável, mentiroso, vigarista, acusando os tais que não teriam feito nada em 500 anos. Se o PT tivesse vencido a batalha contra o Plano Real, em 1994, o Brasil seria hoje não um gigante meio entorpecido, mas um gigante destroçado. Se o PT tivesse vencido a batalha contra as privatizações, em vez de mais de 240 milhões de celulares, estaríamos nos comunicando com tambor e sinais de fumaça. Se o PT tivesse vencido a batalha contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, as finanças públicas — que já vivem uma razoável desordem — estariam, de fato, destroçadas.

Quem esse cara pensa que é para julgar que a história do Brasil se divide em antes e depois do PT? Conheço pessoas às pencas que detestam o partido, mas têm igual horror — ou até mais — ao discurso de Marina Silva. Há muita gente assim e que até poderia votar em Dilma, reconhecendo na presidente um pouco mais de objetividade, caso ela realmente dispute o segundo turno com a candidata do PSB. Mas aí vem Lula, com a sua carga de rancor, de preconceito, de simplificação barata.

As circunstâncias foram escancaradamente didáticas com Lula: escorregou e caiu logo depois de assegurar que é o dono do futuro e da história. Ninguém é, Lula. Ninguém!

Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Dilma, a grande derrotada da noite!

O saldo do debate promovido nesta segunda pela Jovem Pan, Folha, UOL e SBT? Uma Marina Silva que se consolidou como alternativa aos olhos do eleitorado e que cresceu, como presidenciável, atropelando Dilma Rousseff, que teve, de muito longe, o pior desempenho entre os três principais candidatos. O debate está na Internet, pode ser visto por qualquer um que não o tenha feito. O tucano Aécio Neves se saiu muito bem. Respondeu, como de hábito, com clareza e desenvoltura. Demonstrou conhecimento de causa e segurança. Mas, como afirmei no post de ontem, as circunstâncias não o transformaram em um dos polos do debate, que caminhou para o confronto entre Marina, ora no PSB, e Dilma, do PT. Qualquer juízo objetivo constata o óbvio: a candidata à reeleição perdeu feio o embate. Os petistas estão completamente desorientados.

Há dias, chamo aqui a atenção para o desastre a que as ideias fixas podem conduzir as pessoas, lembrando o Machado de Assis de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Como nunca, o PT tem sido vítima de sua natureza. Se não conseguir sair da encalacrada em que está, perdeu a eleição.

Os petistas só sabem fazer campanha presidencial contra, nunca a favor. A de 1989 se organizou na oposição a José Sarney e Fenando Collor, hoje seus queridos aliados. Em 1994, passa a ser vítima da ideia fixa: atacar os tucanos. Perdeu dois pleitos consecutivos no primeiro turno no ataque ao Plano Real, às privatizações e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2002, mudou de rumo: passou a falar uma linguagem propositiva e se tornou monopolista da esperança e da mudança — um discurso que hoje, tudo bem pensado, serve a Marina Silva.

Muito bem! Eleito presidente, Lula resolveu governar com os marcos macroeconômicos herdados do PSDB — não adianta disfarçar —, mas deu início à demonização do adversário. Com impressionante vigarice, o PT se portava como “oposição”, embora fosse governo, embora fosse situação, embora estivesse no controle do estado. Exercitou, no limite do possível, o discurso do ressentimento, do ódio e da perseguição aos adversários. Queria, em suma, ser o senhor — e era! —, mas com o poder das… vítimas.

Enquanto as circunstâncias econômicas foram favoráveis à construção dessa farsa, surfou na onda. Acreditem: os petistas já não contavam mais — e não contam ainda — com a possibilidade de deixar o poder. Há pouco mais de um ano e meio, falavam abertamente na reeleição de Dilma no primeiro turno e depois em mais oito anos de Lula… Tudo assim, com desassombro, sem combinar antes com a história e com o imponderável.

Para isso, no entanto, sempre dependeu de um inimigo de estimação: o PSDB. O partido era sua antivitrine, seu exemplo de elite pernóstica e insensível aos reclamos do povo. Os braços de aluguel do partido na subimprensa e na imprensa ainda insistem nessa cascata. Mas eis que surge uma Marina no meio do caminho, oriunda justamente do ninho… petista! Também sabe fazer o discurso dos “Silva”; também sabe desempenhar o papel da “vítima triunfante”; também é especialista na “demonização do outro”, embora tenha uma fala menos rascante do que a de Lula, embora se expresse com mais fluência — o que não quer dizer clareza —, embora pareça a pura expressão da mansidão.

E eis que vemos um PT sem resposta, a dar tiros no próprio pé. No debate desta segunda, Dilma tentou encurralar Marina, mas perdeu todas. Mesmo quando atacava, estava na defensiva. A petista só se esmerou no jogo bruto, beirando a grosseria, contra Aécio. Ocorre que, hoje ao menos, quem fará Dilma mudar de endereço é Marina Silva.

Depois do debate, Dilma se reuniu com seu núcleo duro de campanha — incluindo o marqueteiro João Santana e o ministro Aloizio Mercadante — e com Lula. Foi, certamente, uma reunião para lamber as feridas do dia. Marina foi a vencedora da noite, e Dilma, a grande derrotada. Os petistas vivem o dilema expresso pelo asno de Buridan, aquele que pode morrer de fome e de sede, incapaz de decidir entre a água e a alfafa. Se bate em Marina, teme se esborrachar com a rejeição do eleitorado, que vê na ex-senadora a magricela pobrezinha do seringal, que se esforçou e se tornou uma figura mundialmente conhecida. Se não bate, a magriça se agiganta e engole a máquina petista nem que seja com um trocadilho, no que ela é boa. Nesta segunda, mandou ver em mais um: “Não sou nem pessimista nem otimista, sou persistente”. O que quer dizer? Nada! Enquanto isso, Dilma, coitada!, se enrolava em números e siglas, com a cara feia, visivelmente contrariada.

Pela primeira vez, desde 2002, as circunstâncias atuam contra a ideia fixa do PT. E o partido não sabe o que fazer. Desta vez, nem o Santo Lula pode ajudar. Encontrou uma Silva que sabe ser ainda mais coitadinha e mais orgulhosa do que ele próprio. Como colar nela a pecha de candidata da Dona Zelite, né, Lula?


Por Reinaldo Azevedo