sábado, 15 de junho de 2013

Produtores rurais de 9 estados protestam contra a indústria das invasões indígenas! É raro haver protesto de quem trabalha, produz e arrecada impostos, né? No Brasil, os vagabundos é que lideram a cultura da reclamação


Produtores rurais do Mato Grosso do Sul: eles não escondem a cara nem usam máscara. Quem trabalha não se esconde
Produtores rurais organizaram protesto em nove estados nesta sexta contra a indústria das invasões indígenas: Roraima, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Reproduzo, abaixo, texto publicado no site da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil). Tentei, juro, ter como referência as reportagens dos veículos de comunicações que decidiram cobrir os eventos. Impossível! Os textos estão recheados de preconceito contra quem trabalha.

E não custa notar: protesto de quem  produz e recolhe impostos é raro no país, não é? Nos últimos tempos, quanto mais vagabundo, improdutivo e subsidiado é o sujeito, mais cheio de razão ele se mostra, não é mesmo? Os inúteis se tornaram os donos da cultura da reclamação no Brasil. Segue texto da CNA.
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“Vamos reconstruir cada caibro, cada tijolo, cada pedaço de chão das propriedades destruídas em Mato Grosso do Sul. Reconstruiremos por que aquela área é nossa e produz riquezas”. A fala do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Sistema FAMASUL), Eduardo Riedel, deu o tom dos discursos durante a movimentação “Onde tem Justiça, tem espaço para todos”, realizada em Nova Alvorada do Sul (MS) e, simultaneamente, em outros sete estados brasileiros, nessa sexta-feira (14). Organizada pela FAMASUL e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a manifestação pediu segurança jurídica ao produtor rural e paz no campo.

Mais de cinco mil produtores rurais se reuniram na movimentação sul-mato-grossense. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, participou da manifestação e foi aplaudida pelos produtores ao defender a compra de propriedades para a ampliação de áreas indígenas. 

“Temos que dizer compra de fazenda e não indenização. E compra de fazenda de produtor rural que quiser vender”, defendeu. Kátia Abreu deu ênfase à violência com que os produtores rurais têm sido retirados de suas casas durante as invasões. Mato Grosso do Sul tem 66 propriedades invadidas. “Se os índios foram injustiçados, hoje os injustiçados somos nós”, afirmou a senadora.

Produtores e lideranças rurais do Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul e São Paulo participaram da manifestação em Mato Grosso do Sul. Do Paraná, houve deslocamento de uma comitiva de 15 ônibus, com 650 produtores. O ato pacífico tem objetivo de chamar atenção da sociedade e do poder público sobre a falta de segurança jurídica. Sem interromper o trânsito, os manifestantes distribuíram aos motoristas, material informativo, adesivos e envelopes com sementes de hortaliças.

“Estamos aqui para a sociedade ouvir o pedido de socorro do produtor rural”, afirmou Riedel. Ao fazer referência às fazendas incendiadas pelos indígenas, o dirigente justificou que quem produz também tem história na região. “Vamos valorizar a história e a origem de quem foi prejudicado. Não é justo expulsar 20 mil produtores como ocorreu no Maranhão. Não vamos sossegar enquanto houver uma propriedade invadida em MS“, disse.

Deputados estaduais, federais e senadores discursaram durante a mobilização com afirmações sobre a busca de solução em reuniões semanais com representantes do Congresso Nacional, Assembleia Legislativa e Ministérios da Casa Civil e da Justiça.


Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 11 de junho de 2013

O tempo e o mensalão – Logo vai ter ministro do Supremo “cutucando” no Facebook, dando “like”, “dislike”

No país dos despropósitos, ministros do Supremo saem por aí a fazer considerações sobre questões que estão em curso na Corte como se fossem meros cronistas do cotidiano, jornalistas, analistas políticos, motoristas de táxi, as donas Marocas do supermercado. Na semana passada, Luís Roberto Barroso, já aprovado pelo Senado, concedeu uma entrevista coletiva. Chegará o dia em que veremos titulares da Corte dando pinta no Facebook, “cutucando” esse e aquele, dando “like”, “dislike”, essas coisas. Vão revelar seus pratos prediletos, dividir receita, quem sabe reivindicar o direito de usar saia. Será que ainda veremos ministros promovendo um saiaço no Supremo?

Na semana passada, Luís Roberto Barroso, já ministro, falou sobre a possibilidade da revisão da Lei da Anistia; disse que o tribunal pode, sim, votar de novo a questão e ter um novo entendimento, especulou sobre a interferência da Corte Interamericana de Direitos Humanos etc. Parecia, assim, um papo descontraído no Baixo Gávea (é assim que fala?), em que as pessoas vão fazendo considerações sobre isso e aquilo. Ali estava nada menos do que um ministro do Supremo.

Agora chegou a vez de Dias Toffoli. Em entrevista à Folha/UOL, reafirmou que não há provas contra José Dirceu — e já sabemos que ele pensa isso porque, afinal, esse foi o seu voto — e disse que o julgamento do mensalão pode levar ainda de um a dois anos para ser concluído. Vejam bem: ou um ano ou o dobro disso.

Com base em quê? Ele responde:

“Vamos ter que ter o julgamento de embargos de declaração. Quando sair o acórdão desses, virão embargos infringentes, se a corte os admitir. Esse é um tema em aberto. Do julgamento desses embargos infringentes, virão outros embargos de declaração. Então, na hipótese do Supremo admitir os embargos infringentes, teremos ainda, além desse julgamento atual de embargos de declaração, pelo menos mais dois julgamentos. É a minha análise.”

Comento

Ainda que a sequência vá mesmo ser essa, parece-me despropósito que seja um ministro do Supremo a dizê-lo. De todo modo, resolvi tomar a fala de Toffoli pelo lado virtuoso. O que quero dizer com isso? Acho que ele adverte, ainda que não tenha sido essa a intenção, para o fato de que os embargos infringentes são, além de ilegais, nefastos para a Justiça e a reputação do Supremo.

Estamos em 2013. Mais dois anos, chegaremos a 2015. O escândalo do mensalão veio a público em… 2005. A desmoralização espreita o Poder Judiciário no Brasil. O ministro Celso de Mello já demonstrou a disposição de antecipar a aposentadoria — tomara que não! Permanece na Corte, se quiser, até novembro de 2015. Em 12 de julho de 2016, quem se aposenta é Marco Aurélio. Assim, caso se consiga enrolar um pouco mais, os petistas conseguirão ver deixar o tribunal mais dois ministros que votaram pela condenação de José Dirceu. É a aposta.


Por Reinaldo Azevedo

domingo, 9 de junho de 2013

Justiça abre processo contra José Dirceu para devolução do dinheiro desviado no mensalão

Na VEJA.com:

A Justiça Federal de Brasília abriu um processo de improbidade administrativa contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para que sejam devolvidos os valores desviados no mensalão. O dinheiro foi distribuído a parlamentares do PMDB, PT, PR, PTB e PP para que o Congresso apoiasse o governo de Lula. Segundo informações divulgadas neste sábado pelo jornal Folha de S. Paulo, também responderão ao processo outras 20 pessoas, incluindo o deputado federal José Genoino e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. O processo não fixa um valor a ser devolvido. Porém, acusa integrantes do PP de terem recebido 4,1 milhões de reais no mensalão. A lei da improbidade prevê, além da devolução do dinheiro desviado, uma multa de três vezes esse valor.


O Ministério Público deu início a essa ação em 2007. Porém, a Justiça somente a aceitou no início do mês passado, alguns dias depois de o Supremo Tribunal Federaç (STF) publicar a sentença do julgamento do esquema do mensalão que condenou Dirceu a dez anos e dez meses de prisão. Há ainda outras quatro ações de improbidade administrativas contra condenados pelo mensalão que ainda não foram aceitas pela Justiça.

“Dirceu — A Biografia” e relatos de tortura e morte. Ou: Quem conta a verdade possível é a sociedade, não comissões fajutas de estado

Quem conta a verdade possível, em matéria de história, é a sociedade: seus pesquisadores, historiadores, jornalistas, comentadores. Por mais honestos que sejam os narradores sobre os fatos, as narrativas serão necessariamente distintas. E não apenas em razão do estilo de cada um. Haverá aquele a enxergar relação de causa e efeito onde outro vê ou mera correlação ou não mais do que um acidente. Ao ordenar os eventos, reconstruímos a realidade segundo o nosso entendimento. Onde, então, está a verdade — sempre partido do princípio de que todos são fiéis aos fatos, de que não existe mentira deliberada? Está nesse conjunto diverso de vozes e de entendimentos da realidade.

Assim se fazem as coisas nas sociedades livres. Instituir, pois, uma comissão estatal da verdade para definir a “versão oficial” dos fatos é mero exercício de truculência política, de vigarice intelectual e de pilantragem filosófica. A razão é simples: os elementos meramente fáticos, destituídos do contexto que lhes dá sentido, em vez de esclarecer o mundo, servem para obscurecê-lo ainda mais. Quando essa dita “comissão da verdade” pretende instituir uma “moral da história”, aí já estamos no terreno do mais asqueroso oportunismo. Por que essas considerações? O editor de VEJA Otávio Cabral acaba de lançar pela Editora Record o livro “Dirceu — A Biografia” (364 págs; R$ 39,90). Ali se narram verdades que, para escândalo do bom senso, não são do interesse daquela comissão instituída por Dilma Rousseff, embora essa também seja uma história de tortura de morte.

O fio condutor do livro é a vida de José Dirceu, personagem central do maior escândalo político da história brasileira, articulador do que foi muito bem definido por ministros do Supremo como uma tentativa de golpe nas instituições democráticas e republicanas. Ora, uma personagem com esse vulto, com todas as características evidentes do anti-herói, que força a própria estereotipia para entrar na galeria dos vilões, merece ter a vida esmiuçada. E Cabral se dedicou, então, a uma pesquisa detalhada para reconstruir a trajetória do chefão do PT. Como informa Thaís Oyama em reportagem na VEJA desta semana sobre o livro, o autor analisou 15 mil páginas de documentos, distribuídas em nove arquivos, e entrevistou 63 pessoas. É… O Dirceu do mensalão, chamado pela Procuradoria-Geral da República de “chefe de quadrilha”, não se fez por acaso. Cabral decidiu investigar o pântano em que nasceu tal flor e escreveu um livro que, acreditem, traz revelações surpreendentes. Eu diria que Dirceu é ainda mais Dirceu do que se supunha…

Se já conhecíamos, por exemplo, aspectos de sua biografia pessoal que pareciam pouco recomendáveis para consumo humano, o livro se encarrega de evidenciar que Dirceu não enganava pessoas apenas por necessidade; ele também o fazia por gosto. Volto a esse ponto mais tarde. Dentre as muitas revelações do livro, dou destaque a duas porque dizem muito sobre a personagem e também nos remetem à tal “Comissão da Verdade”.

José Dirceu, o homem condenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha, segundo o depoimento de uma das testemunhas da história, participou do assassinato de um sargento da Polícia Militar de São Paulo, em 1972. A morte ocorreu em uma das ocasiões em que ele voltou do exílio em Cuba — era um protegido de Fidel Castro —, em companhia de outros membros do grupo Molipo (Movimento de Libertação Popular), uma tentativa de movimento armado criado por exilados brasileiros em Cuba, financiado por Fidel. Lembro que o destino do Molipo ainda hoje gera especulações à boca miúda. Todos os dirigentes foram mortos pelas forças de segurança. Só Dirceu escapou.

Há uma outra revelação chocante: Dirceu comandou, segundo relato da época, o sequestro e sessões de maus-tratos de um jovem chamado Joao Parisi. Leiam trecho do livro:

O soldado da Força Pública Paulo Ribeiro Nunes e o estudante do Mackenzie João Parisi Filho, membro do CCC [Comando de Caça aos Comunistas], descobertos enquanto se passavam por militantes do movimento estudantil, foram levados vendados ao Conjunto Residencial da USP, o Crusp, onde os apartamentos 109, 110 e 111 do bloco G eram utilizados como uma “delegacia informal” da turma de Dirceu. Lá, foram interrogados e mantidos em cárcere privado (…) A Parisi, porém, foi dado tratamento de inimigo de guerra, segundo relato do delegado do DOPS Alcides Cintra Bueno Filho, em documento de 18 de agosto de 1970:

“Por determinação do ex-líder estudantil Jose Dirceu de Oliveira e Silva, concretizou-se o sequestro do então universitário João Parisi Filho, da Universidade Mackenzie. João Parisi Filho foi levado para o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo, onde permaneceu em cárcere privado por vários dias, submetido a sevicias. Nesse conjunto residencial, Parisi foi conduzido vendado e algemado, onde foi submetido a interrogatório, sob ameaça de morte. A vítima permaneceu presa durante dias, em condições desumanas. Após ter passado por esses atos de atrocidade, o estudante Parisi foi conduzido de olhos vendados para a copa do quinto andar do pavilhão G, onde foi trancafiado por uma noite e dois dias, permanecendo nesse local todo esse tempo deitado, com as mãos algemadas e presas ao cano da pia daquela dependência. Nessa situação, foi encontrado por duas empregadas que fazem a limpeza”.

Voltei

Pois é… São apenas duas de muitas histórias um tanto estarrecedoras sobre o Zé. Mais uma vez, temos uma medida do Paraíso na Terra que teria sido o Brasil se “eles” tivessem vencido a batalha. Não por acaso, Dirceu foi tomar lições sobre o que fazer em Cuba — e continua a defender até hoje com unhas e dentes a ditadura que o abrigou. Eis aí algumas contribuições importantes para a verdade sem crachá, para a verdade que não depende de comissão oficial.

Aqui e ali já se contou a história do Dirceu que viveu clandestinamente no Paraná, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello, casado com Clara Becker — que é a mãe do hoje político Zeca Dirceu. Muito bem! Veio a Anistia, e o homem não teve dúvida: revelou à mulher que, bem…, ele não era ele e se mandou. Ela ainda tentou salvar o casamento, mas foi inútil. Muitos já tentaram livrar a cara de Dirceu nessa história: “Ele só estava se protegendo e protegendo a sua família…” É mesmo? Pediu, por acaso, licença à mulher, à mãe do seu filho, para usa-la como disfarce? Não, é claro! A biografia revela agora que Dirceu não enganava apenas por necessidade, mas também por gosto. Tinha uma outra mulher em São Paulo, chamada Miriam Botassi. Clara, assim, era enganada duas vezes: pelo militante político José Dirceu e pelo marido que julgava ter, Carlos Gouveia. Dirceu, como se vê, mudava de nome, mas não de caráter.
Que vida venturosa, não?

No livro, Cabral demonstra que, a partir de um determinado ponto, as trajetórias de Lula e Dirceu se imbricam. As relações nem sempre foram as mais pacíficas, e houve um momento em que o Zé encostou a faca do pescoço de Lula. Em troca do silêncio sobre a forma como o partido captava recursos para campanha, exigiu a presidência do PT e plenos poderes. Levou o que quis.

Eis aí: “Dirceu — A Biografia” ilumina a trajetória de uma figura central na construção e realização do projeto de poder petista. É a verdade sem crachá. É a verdade escrachada.

Por Reinaldo Azevedo