quinta-feira, 14 de abril de 2011

Começam a aparecer as contas da mentira eleitoral

Sérgio Roxo, O Globo

O ministro da Educação, Fernando Haddad, admitiu [ontem] que será difícil para o governo federal cumprir a promessa feita pela presidente Dilma Rousseff, durante a campanha, de aumentar de 5% para 7% o percentual do PIB em investimento público anual no setor.

A meta de elevação do gasto consta do Plano Nacional de Educação (PNE), que começou a tramitar [ontem] no Congresso, mas com a perspectiva de que a meta só seja alcançada em dez anos e não até 2014, quando termina o mandato de Dilma.

- Na conversa que mantive com ela (Dilma) durante a campanha, disse que o governo Lula nos últimos cinco anos fez um grande esforço de aumento do financiamento para educação. E nós aumentamos 0,2% ao ano. Então, em dez anos, é factível chegar à meta de 7%. Pode ser que cheguemos antes, mas vamos ter que fazer um esforço inclusive maior do que já fizemos, que não foi pequeno - disse o ministro, após participar de audiência sobre o PNE na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Em dezembro, Haddad já havia dito que, pela elevação do investimento nos últimos anos, o provável era atingir a meta de 7% do PIB em investimento na área só em 2020.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Quanta irritação

Dilma e Lula têm um traço parecido: não se esquecem dos que discordaram de seus pensamentos

Danuza Leão, Folha de S. Paulo

Aos cem dias do governo Dilma é impressionante o número de vezes em que saiu na imprensa "Dilma se irritou", "Dilma ficou irritada".


A presidente sempre teve fama de geniosa, mas foram tantas as ocasiões em que seu temperamento virou notícia que não dá para acreditar. É bom que ela seja sóbria e fale pouco, o que está sendo um alívio geral.


Mas só assim, de memória: Dilma se irritou quando houve o apagão; se irritou com uma tradutora em NY; se irritou com Henrique Meirelles porque ele teria divulgado que imporia condições para ficar no Banco Central; se irritou quando, durante a campanha, foi questionada sobre a volta da CPMF e sobre o aborto; se irritou com a assessoria quando trocou o nome de uma cidade do Nordeste.


Essas são apenas algumas das irritações públicas, imagine as privadas.


Lula falava muito, mas só sobre o que queria; não disse nem vai dizer uma só palavra sobre os passaportes especiais concedidos à sua família ítalo-brasileira.


Já o estilo de Dilma é confortável. Como fala pouco, não precisa explicar os gastos dos cartões corporativos da Presidência, que aumentaram 8,2% em apenas cem dias, nem as ações do Ministério da Pesca, minha grande curiosidade há anos. Quais estarão sendo os feitos de Ideli Salvatti?


Quem trabalha para o governo não pode piar, pois algumas das irritações presidenciais acabaram em demissão ou em não nomeação - de quem a irritou, é claro.


Dilma e Lula não são iguais, mas um traço de seus perfis é parecido: eles não se esquecem dos que, em algum momento, discordaram de seus pensamentos, e esperam a hora para dar o troco.


Quando ela chega, é quase como dizia Maquiavel: a bondade deve ser feita aos poucos, a maldade, de uma vez só. Quase: a diferença é que para os amigos, aliados e correligionários, a bondade é tão grande, que basta uma (para cada).


Será que existe no fundo, lá no fundo, um espírito de vingança? Seria um absurdo achar que Dilma tem, em seu caráter, traços ditatoriais - logo ela, que tanto sofreu com a ditadura militar. Mas dentro de um contexto humano, é compreensível que ela se comporte, agora, um pouco como os militares se comportaram. Eles achavam que podiam tudo, agora é ela quem (acha que) pode tudo; faz sentido.


Às vezes sua vontade - ou a do seu partido, não sei - extrapola o aceitável quando se fala de uma democracia plena.


Brizola - lembra dele, presidente? - disse, na primeira posse de Lula: "isso vai ser uma ditadura stalinista".

O dinheiro fácil das centrais (Editorial de O Estadão)

O Estado de S.Paulo

Sem nenhum esforço, pois o dinheiro lhes é repassado automaticamente pelo governo, as centrais sindicais receberam no ano passado R$ 102,2 milhões, que gastaram do jeito que quiseram, sem se preocupar em prestar contas ao poder público.

Com o aumento do número de trabalhadores com registro em carteira e da renda real média dos brasileiros, em razão do crescimento da economia, também as receitas das centrais aumentam. No ano passado, elas foram 20,8% superiores às de 2009, quando haviam crescido 21,6% em relação ao ano anterior.


A legislação que lhes assegura o direito de apropriar-se de uma parte do salário dos brasileiros não as obriga a informar, nem mesmo aos trabalhadores que dizem representar, o que fazem com tanto dinheiro. Fazem o que bem entendem.


Como mostrou o jornal Valor na segunda-feira, algumas compram ou constroem sede para abrigar com mais comodidade e conforto seus dirigentes e sua burocracia, afirmam realizar cursos de formação sindical, organizam convenções ou congressos e, sobretudo, procuram atrair mais sindicatos, pois a distribuição do bolo do imposto sindical é proporcional ao número de entidades e de trabalhadores da base que, teoricamente, elas representam. Gastam também com passagens aéreas, hospedagens, alimentação e outras despesas de viagem.


A transferência também para as centrais de parte do valor retirado anualmente do salário de cada trabalhador com registro em carteira, sindicalizado ou não, para, em tese, sustentar a representação dos trabalhadores é apenas a mais recente de um série de graves distorções e anomalias no campo trabalhista geradas pelo imposto sindical.


Criado na década de 1940, durante a ditadura varguista do Estado Novo, o imposto sindical é cobrado em março de todos os trabalhadores, na base de um dia de trabalho. Mudou de nome em 1966, para "contribuição sindical", mas manteve suas características originais e continuou a gerar distorções na estrutura sindical, à custa do trabalhador.

Bom jogo, deputado! Nós, otários, aplaudimos!

Então fica combinado assim: nesta quarta-feira, na companhia do filho Vinícius de 13 anos, de dois assessores e dos colegas Romário (PSB-RJ) e Eduardo Gomes (PSDB-TO), embarca para Madri o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS). Irá assistir ao jogo Real Madri x Barcelona.

Quem pagará a conta do passeio? Nós, contribuintes.

Foi Romário quem convenceu Marco Maia a viajar. Você votou em Romário? Pois é... Ele preferiu bater bola na Barra da Tijuca a participar da primeira sessão da Câmara, este ano.


Outro dia, Romário profetizou ao comentar seu desempenho como deputado: "Ainda ouvirão falar muito de mim". O que ouvimos até agora não foi bom.


Torcedor do Grêmio, Marco Maia ouviu Romário falar que seria imperdível o jogo Real Madri x Barcelona pela 32ª rodada do Campeonato Espanhol. Romário provou na pele a rivalidade que existe entre os dois times quando jogou pelo Barcelona.


Marco Maia comprou a sugestão de Romário. Mas deputado algum pode viajar para o exterior à custa da Câmara sem que seja em missão oficial. E sem o conhecimento prévio dos seus pares. Nem mesmo aquele que pode assumir eventualmente a presidência da República caso o vice não possa.


Foi dado conhecimento da viagem aos demais deputados. Nem se coçaram. Quanto ao caráter oficial da missão, deu-se um jeito.


A Embaixada da Espanha no Brasil soube do interesse de Marco Maia em visitar o parlamento espanhol entre os próximos dias 14 e 17 – nem antes e nem depois. E, se possível, em se reunir com o presidente da Câmara dos Deputados de lá, Jose Bono Martinez, do Partido Socialista Espanhol (PSOL). O PT e o PSOL são partidos irmãos. A embaixada fez o que lhe cabia.


Real Madri e Barcelona jogarão no dia 16, sábado.


Marco Maia e comitiva deixarão Brasília no dia 13 com destino a Lisboa. De lá voarão para Madri, desembarcando às 9h do dia 14 no aeroporto de Barajas. Voltarão ao Brasil na noite do dia 17, um domingo.


A Espanha atravessa grave crise econômica a menos de um ano da eleição que renovará os 350 assentos do Congresso dos Deputados (Câmara) e os 208 da Câmara Alta (Senado). O PSOL está no poder há oito anos. Deve perdê-lo. O primeiro-ministro José Luiz Rodríguez Zapatero desistiu de disputar mais um mandato. Sua popularidade está ladeira à baixo.


José Bono Martinez concordou em receber Marco Maia e comitiva no domingo dia 17, quando a Câmara não funciona. No sábado, dia do jogo, também não funciona.


Marco Maia visitará a Câmara no dia 14 ou 15. Os deputados espanhóis estão ocupados com as eleições municipais e regionais de maio. Mas sempre haverá alguns na cidade.


Com eles - e também com José Bono -, Marco Maia quer bater um papo sobre projetos de energia eólica e as restrições à entrada de brasileiros na Espanha.


Empresários espanhóis que investem em energia eólica no Brasil estão sempre por aqui até quando não são chamados. Imagine se fossem!


Nem mesmo o Itamaraty, depois de dois anos de trabalho duro, dobrou a resistência espanhola à entrada de brasileiros no país. De 2006 para cá, triplicou o número de brasileiros que migraram para a Espanha, parte deles de forma ilegal.


Sim, Marco Maia aproveitará a estadia em Madri para ser entrevistado pelo jornal “El País”.


O jornal tem correspondente no Brasil. Caso julgasse importante entrevistar Marco Maia o faria daqui mesmo. Daqui ou de lá poderia entrevistá-lo via Skype. Mas se o deputado prefere ir bater na porta do jornal... Problema dele.


Problema nosso também, que toleramos transgressões, digamos assim, “menores”. Pecadilhos...


Protestos? Indignação? Só na internet. Uma vez, Lula presidente, filhos dele, acompanhados de amigos, pegaram carona no avião presidencial de São Paulo para Brasília. Depois foram se divertir no Lago Paranoá a bordo da lancha presidencial.


Bobagem, não?


O piloto de Dilma infringiu há duas semanas as mais elementares regras de segurança dando carona a uma amiga no avião presidencial. Dilma estava no avião.


Outra bobagem!


Em Cádiz, a uma hora de vôo de Madri, Lula receberá na próxima sexta-feira o Prêmio Liberdade Cortes de Cádiz, criado pela prefeitura local.


Quem sabe Marco Maia e comitiva não aparecem por lá para prestigiar o companheiro?


Dá para ir e voltar sem correr o risco de perder o jogo no dia seguinte