sexta-feira, 26 de setembro de 2014

APOLOGIA AO CRIME



Lula discursava em Santo André, no ABC paulista, num comício do seu candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. A cena foi transmitida pela internet. Em dado momento, a pretexto de criticar o governador tucano Geraldo Alckmin, o orador falou sobre (in)segurança pública. “Agora, a coisa tá tão grave que é pobre roubando pobre”, disse o padrinho de Padilha.



“Eu, antigamente via: ‘bandido roubou um banco’. Eu ficava preocupado, mas falava: pô, roubar um banqueiro… O banqueiro tem tanto, que um pouquinho não faz falta. Afinal de contas, as pessoas falavam: ‘quem rouba mesmo é banqueiro, que ganha às custas do povo, com os juros. Eu ficava preocupado. [...] Era chato, mas era… sabe, alguém roubando rico.”

Ele não estava brincando, não! Suplicy quer que os jovens que cometeram crimes hediondos deem aulas de português e alfabetização e trabalhem como enfermeiros

Sempre considerei que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), no cargo há estonteantes 24 anos, faz o marketing do bobalhão. Ninguém sobreviveria por tanto tempo na vida pública sendo tão sonso, tão bocó, tão zé-mané. Então, a melhor coisa que tenho a dizer sobre ele é isto: essa estupidez sempre foi falsa. Isso sempre lhe conferiu um certo ar de inocência que o tornava também politicamente inimputável. Entendo. As pessoas olham pra ele e pensam: “É, ninguém seria louco de fazer uma maracutaia com Suplicy”. Sabedor disso, ele usa a “honestidade” como seu único ativo eleitoral. Ou por outra: o que é uma obrigação de todos nós se transforma, na sua propaganda, num diferencial.

Ocorre que o substantivo “honestidade” pode abrigar qualificativos, não é? Digamos que ele realmente nunca tenha enfiado a mão no bolso de ninguém — até porque sempre foi um homem rico, e daí deriva parte do seu suposto charme… Mas pergunto: e intelectualmente honesto, ele é? Quando resolveu se perfilar com alguns facínoras, como Cesare Basttisti e um grupo de sequestradores, cabia-lhe, ainda assim, o distintivo de “honesto”? Sigamos.

Nunca caí, pois, nessa conversa mole de que ele é uma espécie de maluco-beleza de terno e gravata. Depois de tomar conhecimento do vídeo abaixo, no entanto, confesso que já não tenho tanta certeza de sua sanidade mental. Parece que a possibilidade de ser demitido do Senado pelo povo, depois de 24 anos, o tirou mesmo do eixo. O ainda senador por São Paulo, acreditem, defendeu em entrevista à jornalista Maria Lídia que jovens infratores, mesmo os que cometeram crimes hediondos — latrocínio e estupro, por exemplo — cumpram penas alternativas, como “dar aula de português e de alfabetização” e “trabalhar como enfermeiros em hospitais”. 

Maria Lídia, a gente nota, ainda tenta dar uma ajudazinha, sugerindo, por meio da interrogação, que ele restrinja a proposta apenas àqueles que cometeram infrações leves. Mas Suplicy também pertence àquela escola dos que não se deixam intimidar pelo mundo real. Que nada! Ele quer o benefício para todo mundo. Assim, o “jovem” que, eventualmente, estourou os miolos de um inocente pode, daí a algum tempo, ensinar análise sintática. Assim: “Eu matei um homem”. Sujeito da frase: “eu”; “matei”: verbo transitivo direto; “um homem”: objeto direto…

Chega a ser asqueroso. Na sequência de sua resposta, a gente nota, ele aproveita para voltar a seu samba de uma nota só: a defesa da renda mínima — que ele chama de “renda básica da cidadania”. É aquele exotismo que concederia uma pensão mensal a todos os brasileiros, a quem precisa e a quem não precisa também. Seríamos todos iguais diante da bondade do Estado… Pior: ele relata o dia em que foi falar com jovens infratores, aos quais teria dito: “Eu tenho a convicção de que, se houvesse a renda básica de cidadania para vocês e todos os de sua família, vocês não teriam cometido os delitos que os fazem estar aqui presos”. No fim, parece, eles cantaram juntos.

Suplicy, como a gente nota, acha que é a pobreza que leva as pessoas a cometer crimes. Dito de outro modo: Suplicy acha que os pobres estão mais sujeitos a delinquir, o que é de um preconceito escandaloso.

Para encerrar: certamente não foi a miséria que levou à cadeia a cúpula do seu partido, não é mesmo, senador? No máximo, trata-se de um caso de miséria moral.


Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A CASA DE HORRORES DO PT DA BAHIA: R$ 50 MILHÕES FORAM TIRADOS DOS POBRES E FORAM PARAR NAS MÃOS DE POLÍTICOS PETISTAS, DIZ PRESIDENTE DE ONG QUE OPERAVA PARA O PARTIDO

É preciso ser idiota ou ter muita má-fé — eventualmente uma soma das duas coisas — para sustentar que o fim da doação legal de empresas a campanhas eleitorais diminuiria a corrupção no Brasil. Em primeiro lugar, ainda que venham a ser proibidas — e o STF está a um passo de fazer essa escolha estúpida —, as doações continuarão a ser feitas, só que por baixo do pano. Em segundo lugar, a roubalheira maior nada tem a ver com eleição. Ela se dá por intermédio das empresas estatais, como prova a Petrobras, e das ONGs que são usadas pelos partidos.

A VEJA desta semana traz uma reportagem que revela os bastidores escabrosos de uma ONG chamada Instituto Brasil, criada em 2004 para supostamente facilitar a construção de casas próprias, com dinheiro federal, para pessoas de baixa renda na Bahia. Assim era no papel. De fato, a dita-cuja era apenas um dos braços do PT que operava para desviar dinheiro dos cofres públicos para o bolso dos petistas. Quem faz a denúncia? Não é o PSDB. Não é algum outro partido de oposição. Quem põe a boca no trombone é Dalva Sele Paiva, nada menos do que presidente da entidade. Ela cuidou do esquema para os petistas até 2010, quando o Instituto Brasil foi fechado, atolado em irregularidades. Ao longo de seis anos, segundo ela, R$ 50 milhões — SIM, CINQUENTA MILHÕES DE REAIS — saíram dos cofres do governo federal para as burras dos companheiros.

O esquema era relativamente simples. O Instituto Brasil era qualificado pelo governo para construir, por exemplo, um número x de casas. Erguia muito menos, repassava o dinheiro para a companheirada, e o próprio partido se encarregava de arrumar as notas frias que justificavam as despesas. Assim foi, por exemplo, em 2008, num caso já desvendado pelo Ministério Público Federal. O Instituto Brasil foi escolhido pelo governo para erguer 1.120 casas ao custo de R$ 17,9 milhões. O dinheiro saiu do Fundo de Combate à Pobreza. O MP já tem provas de que parte do dinheiro sumiu. Atenção! Só nesse convênio, revela Dalva à VEJA, R$ 6 milhões foram parar nos cofres do PT, consumidos na eleição municipal. Ela deixa claro que a entidade foi criada com o propósito de alimentar o caixa do partido. E tudo passou a funcionar ainda melhor para o grupo depois da eleição do petista Jaques Wagner para o governo da Bahia, em 2006.

A investigação está a cargo da promotora Rita Tourinho, que chegou a localizar testemunhas que acusavam políticos, mas, diz ela, faltavam as provas. Parece que a tarefa agora será facilitada. Diz Dalva, que presidia a ONG: “Vou levar todos esses fatos ao conhecimento do Ministério Público. Quero encerrar esse assunto, parar de ser perseguida. O ônus ficou todo comigo”. Ela diz ter em mãos, por exemplo, os recibos de R$ 260 mil repassados à campanha do agora senador Walter Pinheiro à Prefeitura de Salvador, em 2008.

Não era só Walter Pinheiro, é claro! Atenção para a lista de outros petistas que, segundo Dalva, receberam o dinheiro que deveria ter sido usado na construção de casas para os pobres:

– Afonso Florence, deputado federal e ex-ministro da Reforma Agrária de Dilma. Dalva diz ter entregado a ele várias pacotes de dinheiro de R$ 20 mil a R$ 50 mil, quando era secretário de Jaques Wagner. Um assessor seu chamado Adriano teria recebido a bufunfa;

– Vicente José de Lima Neto, presidente da Embratur: recebeu pensão mensal de R$ 4 mil;

– Rui Costa, atual candidato ao governo da Bahia: pensão mensal de R$ 3 mil a R$ 5 mil;

– Nelson Pellegrino, deputado federal: recebeu dinheiro para boca de urna, para pagar cabo eleitoral e bancar outras despesas da campanha.

E o governador Jaques Wagner? Será que ele sabia? Dalva diz que era impossível não saber. Afinal, quem arrumava as notas frias que justificavam os gastos era a então diretora da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Leda Oliveira. Hoje, Lêda é ainda mais poderosa: ocupa o cargo de diretora de Comunicação do governador Jaques Wagner.

Todos os acusados negam tudo com veemência. O deputado Nelson Pellegrino, por exemplo, começou afirmando que nem conhecia a tal Leda. Chamou pela memória e acabou lembrando que uma irmã sua trabalhou no Instituto Brasil: “Mas eu pedi para ela sair quando descobri como eram as coisas lá”. Então quer dizer que ele sabia como eram as coisas por lá?

Vamos ver no que vai dar a investigação do Ministério Público. A mulher que cuidava da dinheirama contou tudo, mesmo sabendo que também está confessando um crime. Só não aceita cair sozinha.


Por Reinaldo Azevedo