sexta-feira, 4 de abril de 2014

PT transforma a CPI da Petrobras numa pantomima, que viola o regime democrático

O PT conseguiu. Transformou a CPI da Petrobras numa farsa. A cada dia, fica-se mais longe da apuração das circunstâncias políticas em que se deram as lambanças. O negócio, agora, é apostar que o Ministério Público faça o seu trabalho e que a Polícia Federal encontre espaço para trabalhar com independência nos três inquéritos que foram abertos. Os petistas conseguiram descaracterizar e desmoralizar a CPI. De agora em diante, o caminho está dado nas três esferas do Poder Legislativo: sempre que a oposição conseguir assinaturas para uma comissão de inquérito, basta a situação usar a sua maioria e contra-atacar com um pedido de investigação da minoria. Não tem jeito: o PT e a democracia são como água e óleo; não se misturam.

Nesta quinta, a base do governo protocolou o quarto pedido de CPI — no caso, de CPI Mista. A exemplo do que fez no Senado, esta também abarca os casos cabeludos da Petrobras e supostas irregularidades havidas em obras nas gestões tucanas de São Paulo e Minas e durante a administração de Eduardo Campos, em Pernambuco. O jogo é explícito, é arreganhado, não tem disfarces. O objetivo é não investigar nada mesmo.

Ora vejam: o governo tem, desde sempre, a maioria parlamentar mais ampla de todo o mundo democrático. Poderia ter proposto as CPIs que quisesse. E por que não o fez? Porque, na cabeça dessa gente, uma comissão de inquérito não serve para investigar, mas para retaliar. Imaginem vocês se uma comissão vai conseguir apurar as lambanças na Petrobras — a cada dia, há uma novidade — e eventuais irregularidades em São Paulo, Minas e Pernambuco. Ainda que o propósito fosse honesto, não haveria condições técnicas para isso.

Mas a honestidade passou longe desse debate. Na terça-feira, a CCJ do Senado se pronuncia sobre as duas CPIs que foram protocoladas na Casa. A decisão da comissão será submetida ao plenário. O mais provável é que, ora vejam!, triunfe a CPI do governo. Ou por outra: com um impressionante estoque de escândalos na Petrobras, quem corre o risco de ser investigada é a oposição.

É claro que isso perverte o sentido da democracia. Em tempos normais, a questão iria parar no Supremo. Estamos diante de um claro cerceamento do direito de fazer oposição.

O discurso do governo se torna mais virulento quanto mais cadáveres vão saindo do armário. Agora, um terceiro inquérito da Polícia Federal investiga a venda, pela estatal brasileira, de uma refinaria na Argentina para o grupo do empresário Cristóbal López, uma espécie de faz-tudo de Cristina Kirchner. Os próprios compradores chegaram a oferecer US$ 50 milhões pela refinaria, que acabou vendida por apenas US$ 36 milhões. Também essa operação se deu no ano eleitoral de 2006, quando a Petrobras comprou os 50% da refinaria de Pasadena.

Por Reinaldo Azevedo


A partir de 2015, conta de luz terá novo encargo

Mônica Tavares e Geralda Doca, O Globo

A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta quinta-feira as regras para aportes e empréstimos às distribuidoras de energia e criou um novo encargo chamado de Conta de Desenvolvimento Econômico (CDE).

O repasse desses custos para a conta de luz dos consumidores será feito no prazo de dois anos, a partir de fevereiro de 2015. O reajuste decorrente dos empréstimos é estimado por técnicos do setor elétrico em 10% .

Contribuinte é que pagará pela imprudência na energia (Editorial) Globo

O Brasil construiu nos últimos quinze anos um considerável parque térmico para energia elétrica. Complementado pelas usinas eólicas, esse parque tem evitado que o país racione eletricidade nos anos de pouca chuva nas regiões onde se localizam as bacias de rios, formadoras dos principais reservatórios de água.

A matriz de energia elétrica brasileira é predominantemente hidráulica e cada vez mais dependente do regime de chuvas, pois as novas hidrelétricas foram construídas a fio d’água, ou seja, sem reservatórios de acumulação. Parte das usinas térmicas foi construída com objetivo preventivo, emergencial, porque queimam diesel, óleo combustível ou gás natural importados. Além de poluentes, são combustíveis caros.

Por ter uma matriz predominantemente hídrica, com regimes de chuvas distintas entre as várias regiões do país, o sistema elétrico brasileiro opera de maneira interligada. Se por um lado esse sistema assegura o fornecimento, por outro também tende a encarecer a energia. 

Essa malha de fornecimento é formada por diversas companhias. Nem toda energia consumida é previamente contratada a um preço determinado. Uma parcela é negociada livremente a preços que dependem da energia armazenada nos reservatórios e da utilização, ou não, das usinas térmicas mais caras.

Em 2013, as usinas térmicas foram usadas intensamente. Mesmo assim, o governo Dilma Rousseff tentou angariar alguns dividendos políticos com uma redução de tarifas. Fez o anúncio, de maneira oportunista, como se estivesse repassando aos consumidores os ganhos originados de um processo de eficácia gerencial, a partir da renovação de concessão de hidrelétricas até então sob responsabilidade de companhias estatais. Nada mais falacioso.

Já naquela ocasião o governo preferiu ignorar o risco de uma possível escassez de energia devido ao baixo volume de água armazenado nos reservatórios.

No primeiro trimestre deste ano o governo decidiu correr o risco mais uma vez, enquanto a situação se tornava mais crítica por falta de chuvas na época e nos lugares certos.

O resultado, já indisfarçável, é que a conta pesará diretamente no bolso do consumidor, sobretudo a partir do ano que vem. Até lá, a conta chegará pela via indireta: o Tesouro terá de desembolsar alguns bilhões para cobrir o encarecimento da energia.

As finanças públicas já estão meio debilitadas e o governo se comprometeu, para reconquistar o crédito que vinha perdendo velozmente no mercado, a alcançar um superávit primário mais expressivo em 2014. Assim, para fechar as contas, decidiu agora aumentar impostos sobre bens de consumo.

De um modo ou de outro, o consumidor-contribuinte é que arcará com a imprudência e imprevidência do governo no segmento de energia elétrica.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

André Vargas, o petista do jatinho, em mais um dia patético

O deputado petista André Vargas, do Paraná, vice-presidente da Câmara e do Congresso e um dos braços de Lula no PT, está se esforçando para me fazer chorar de emoção. Até agora, não conseguiu. Cada vez mais com cheiro de Demóstenes Torres, o ex-senador que era uma referência de ética e caiu em desgraça quando flagrado em conversas suspeitas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, Vargas ocupou a tribuna da Câmara para tentar explicar o fato de o doleiro Alberto Yousseff, que está preso, ter custeado o aluguel de um jatinho para levá-lo e a mais oito pessoas de sua família para uma viagem de férias a João Pessoa.

Pois é… Vargas já chegou a dizer que imaginava que o voo fosse uma carona; aí inventou que teria arcado com o valor do combustível — R$ 20 mil. Nesta quarta, sem saída, admitiu que não pagou um tostão. A empresa que alugou o jatinho informa que o presentinho do doleiro para o deputado petista custou R$ 100 mil. Em uma das gravações feitas pela Polícia Federal, Vargas se mostra grato a Youssef com palavras ternas: “É coisa de irmão”. Nem diga! Coisa de irmão rico, né?

O discurso foi patético. O petista admitiu conhecer Youssef há mais de 20 anos, mas, ora vejam, assegurou ter ficado sabendo de suas atividade ilícitas “pela mídia”. Que mimo! O doleiro foi um dos protagonistas do chamado “Escândalo do Banestado”, que apurou remessa ilegal de divisas para o exterior de US$ 30 bilhões. À época, fez delação premiada, pagou R$ 1 milhão de multa e não foi processado. E voltou às atividades de sempre. Na investigação de agora, apelidada pela PF, muito apropriadamente, de Lava-Jato, ele é acusado de envolvimento com um esquema que movimentou R$ 10 bilhões. Para a Polícia, Vargas e Youssef mantêm uma sociedade.

O deputado foi flagrado ainda fazendo lobby em favor da Labogen, um laboratório que tem capital social de R$ 28 mil e que havia fechado um contrato de R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde para fornecimento de remédios. Como a “empresa” não tem planta industrial, a encomenda seria feita a um outro laboratório por R$ 60 milhões, e nada menos de R$ 90 milhões seriam embolsados. Nesta quarta, Vargas diz que estava apenas marcando um contato. Entendo. Ocorre que a Labogen, oficialmente, não pertencia a Youssef, o seu amigo. Só essa empresa enviou ilegalmente ao exterior US$ 37 milhões. O contrato foi assinado pelo ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo.

Os deputados ouviram entre perplexos e incrédulos as explicações de Vargas. Uns poucos o aplaudiram de modo desenxabido. O petista tem falado até em renúncia. Pois é… Se o fizesse, ele certamente somaria um pouco de qualidade à vida pública brasileira. Vargas, insisto, não é um peixinho pequeno do PT, não. Já foi secretário de comunicação do partido e é um dos principais incentivadores dos chamados blogs sujos, aquelas páginas alimentadas com dinheiro público para atacar a oposição, setores do Judiciário e a imprensa independente. Foi um dos principais articuladores da queda de Helena Chagas, ex-secretária de Comunicação Social, é um crítico tão fanático de Joaquim Barbosa como defensor fanático dos mensaleiros, além de ser obcecado pelo chamado controle da mídia, um nome simpático para censura. Ah, sim: também é um dos expoentes da turma do “Volta, Lula”. 


Por Reinaldo Azevedo

Suprema Corte faz o contrário do STF no Brasil e acaba com restrições a doadores de campanha. Adivinhem que país vai se dar melhor!

Sim, leitores, claro, claro! Eu estou preparado para a possibilidade de o mundo estar errado e de o Brasil estar certo. Mais do que isso: condescendo com a possibilidade, teórica ao menos, de a Suprema Corte Americana ser idiota e não alcançar as altitudes do pensamento de um Roberto Barroso, de um Ricardo Lewandowski, de um Dias Toffoli, de um Luiz Fux, de um Marco Aurélio ou de um Joaquim Barbosa no que concerne ao financiamento de campanha.

A que me refiro? No mesmo dia em que se formou a maioria no STF contra a contribuição de empresas a campanhas eleitorais — muito provavelmente, os partidos vão enfiar a mão no nosso bolso — a corte americana caminhou no sentido contrário e derrubou os limites que havia para a contribuição individual a campanhas nos EUA, segundo informa Adam Liptak, no New York Times.

Foram estabelecidos em 1976 um limite de contribuição individual de US$ 46,8 mil a cada dois anos a todos os candidatos federais e outro de US$ 74,6 mil a comitês de partidos. O limite para um indivíduo doar para um candidato em particular segue sendo de US$ 2,6 mil.

Por cinco a quatro, a corte decidiu que aquelas restrições violam a poderosa e gloriosa “Primeira Emenda” que estabelece que o Congresso fica proibido de criar leis que:

- definam uma religião oficial ou impeçam o livre exercício da crença religiosa;
- limitem o direito à liberdade de expressão ou de imprensa;
- limitem o direito à livre associação pacífica dos cidadãos;
- limitem o direito de o cidadão apresentar petições ao governo se considerar seus direitos agravados.

Ela certamente foi recitada aos ouvidos dos legisladores do país pelos anjos, enquanto o diabo ficou pedindo aos gênios brasileiros que criassem dificuldades para vender facilidades. John Roberts, presidente da Corte Suprema, disse uma coisa linda, que Roberto Barroso, o pai intelectual da ideia de se proibirem doações no Brasil, não vai entender nem em três séculos. Disse Roberts: “Se a Primeira Emenda protege a queima de bandeiras, protestos em funerais e desfiles nazistas, apesar da profunda ofensa que essas coisas possam causar, ela certamente protege a adesão a campanhas políticas, apesar da oposição popular”.

Barack Obama, suas ONGs amestradas e as organizações politicamente corretas que pululam em torno do Partido Democrata queriam manter as restrições porque consideram que a medida vai ajudar o Partido Republicano.

Atenção! A legislação americana proíbe que empresas doem para partidos, mas permite que o façam para comitês independentes, que, por sua vez, financiam campanhas dos partidos. Um exemplo: as propagandas nas TVs —  não há o lixo do horário eleitoral gratuito nos EUA — costumam ser pagas por esses comitês. Agora resta a Luiz Fux, o relator, tentar provar que os EUA não são uma democracia.

Relator da matéria no STF, Fux demonizou as empresas como fontes da corrupção na política e defendeu limites severos mesmo para as doações individuais. Vocês sabem, não é, brasileiros? O que é bom para os EUA certamente não é bom para o Brasil. Lá, com liberdade,  os recursos de campanha serão declarados. Por aqui, com o moralismo dos nossos gênios, teremos o paraíso do caixa dois e dos picaretas.

Parafraseando John Roberts, no Brasil, o Supremo decidiu que é permitido, em nome da liberdade de expressão, fazer marcha em favor das drogas, cujo consumo é crime. Mas as empresas não poderão fazer doações para partidos.

Por isso eles são os EUA e têm Roberts. E nós somos o Brasil e temos Roberto Barroso. Eu trocaria o Roberto que temos pelo Roberts que eles têm. Mas acho que não aceitariam porque se acostumaram a ser um país livre. E nós estamos nos acostumando com os bocós arrogantes.


Por Reinaldo Azevedo

MAIS UM INQUÉRITO – PF apura agora se Petrobras vendeu refinaria na Argentina para amigão de Cristina Kirchner por menos do que valia!

E a Petrobras está de volta às páginas policiais, o que já se tornou uma rotina no governo petista. A Folha informa na edição desta quinta que a Polícia Federal decidiu abrir um terceiro inquérito, agora para investigar não a compra, mas a venda da refinaria de San Lorenzo para o grupo argentino Oil Combustibles S.A, que pertence ao megaempresário Cristóbal Lopez, um amigão da presidente Cristina Kirchner. Também o Ministério Público Federal e o Tribunal de Constas da União investigam a operação.

Desta vez, vejam vocês, o comando da Petrobras é suspeito de ter vendido um ativo por menos do que valia. A empresa brasileira repassou para Cristóbal Lopez, por US$ 110 milhões, um pacote que incluía a refinaria propriamente, postos de gasolina, estoques e outros produtos, de acordo com nota redigida pela Petrobras no ano eleitoral de 2010.

Ocorre que o grupo argentino estava disposto a pagar, em outubro de 2009, US$ 50 milhões só pela refinaria, sem levar em conta os estoques e os tais outros produtos. Sete meses depois, a empresa brasileira vendeu, sim, a refinaria, mas por US$ 36 milhões, US$ 14 milhões a menos do que os compradores queriam pagar inicialmente. Brasileiro é bonzinho. Com a gente é assim: nos EUA, compra por mais do que vale; na Argentina, vende por menos.

O fio da meada é um contrato existente entre um representante do grupo argentino e um escritório de advocacia brasileiro, representado pelo baiano Sérgio Tourinho Dantas, conterrâneo de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras. Ora vejam: se a empresa brasileira topasse vender para os argentinos a refinaria por até US$ 45 milhões, o escritório receberia US$ 10 milhões de comissão; se o fizesse por US$ 50 milhões mesmo, então seriam US$ 8 milhões. Como a Petrobras vendeu por US$ 36 milhões, vai saber quanto a operação rendeu, né? O escritório disse à reportagem da Folha que rescindiu o contrato com os argentinos antes de se efetivar a venda.

É o terceiro inquérito aberto pela polícia. Um deles investiga a operação de Pasadena, e outro, o eventual pagamento de propina pela empresa holandesa SBM a funcionários da Petrobras.

Atenção! Cristóbal Lopez é o empresário que mais enriqueceu na era dos Kirchner. Chegou a despertar a tenção do FBI e do Departamento de Combate aos Narcóticos nos EUA por causa da compra suspeita de um cassino em Miami. Desconfia-se que possa lavar dinheiro do tráfico de drogas. Nos meios políticos argentinos, ele é considerado uma espécie de “caixa” do kirchnerismo.

Quem negociou com o escritório de advocacia brasileiro em nome do empresário foi Jorge Rottemberg. A imprensa argentina fala em pagamento de propina de até US$ 15 milhões. Mas os petistas não querem nem ouvir falar de CPI. Dá para entender por quê.


Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 1 de abril de 2014

Polícia Federal aponta sociedade entre deputado André Vargas e doleiro preso

Por Robson Bonin, na VEJA.com:

Nas conversas interceptadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o vice-presidente da Câmara, André Vargas, demonstram ter muito mais do que uma relação de amizade. Em quase cinquenta mensagens registradas pela PF, Vargas recebe orientações do doleiro, combina reuniões com Youssef e chega a passar informações das conversas que ele, como parlamentar do PT, mantinha com integrantes do governo. Como é natural nesses diálogos nem sempre edificantes flagrados pela polícia, Vargas e Youssef adotam a precaução de conversar em códigos. Para Polícia Federal, no entanto, os registros colhidos na operação mostram que Vargas faz parte de projetos de Youssef e usa sua influência no governo em benefício do parceiro.

Nas mensagens obtidas pela polícia, Vargas e Youssef tratam de interesses do laboratório Labogen Química Fina e Biotecnologia no Ministério da Saúde. Como VEJA revelou há duas semanas, a Labogen é uma das empresas do esquema do doleiro. A Polícia Federal já descobriu que a empresa – que está no nome de um laranja de Youssef e é tudo menos um laboratório farmacêutico – já havia conseguido fechar uma parceria com o Ministério da Saúde pela qual receberia 150 milhões de reais em vendas de remédios para o governo. No dia 26 de fevereiro deste ano, Vargas escreve para Yousseff: “Reunião com Gadelha foi boa demais… Ele garantiu que vai nos ajudar, que sabe da importância, e encaminhou reunião decisiva dia 18, mas pediu que entregássemos os medicamentos da primeira PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo) e concluíssemos Anvisa, boas práticas aqui em BSB”. O doleiro elogia o empenho de Vargas: “Que bom. Parabéns.” E diz que já estão prontos para a Anvisa. “Muito bom”, finaliza Vargas.

Para a Polícia Federal os termos da conversa não deixam dúvidas: “Os indícios presentes nesta conversa apontam que o interlocutor não identificado (André Vargas) faz parte do projeto da Labogen junto ao Ministério da Saúde, e possivelmente atua exercendo influência junto aos responsáveis pela contratação do governo.” Falando sempre em códigos, André Vargas e o doleiro falam da necessidade de marcar uma reunião com um interlocutor identificado por Vargas pelas iniciais “PP”. Aparece na conversa também o nome de um certo “Marcos”.

No dia 7 de março, outra conversa chama atenção dos investigadores. Até então, os agentes da Polícia Federal consideravam a possibilidade de André Vargas ser apenas um homônimo do vice-presidente da Câmara. As evidências de que se trata mesmo do deputado federal petista aparecem quando o próprio Vargas combina um encontro com Youssef: “Quer fazer eu, você e Marcos segunda de noite em Brasília (sic)?”, pergunta o doleiro. “Tenho reunião com deputados. PP falou de fazermos na quinta”, responde André Vargas. “A partir dessa afirmação, ficam contundentes os indícios de que o interlocutor possui contatos no Congresso, pois tem marcada uma reunião com deputados, provavelmente em Brasília”, registra a PF no relatório.

Ainda segundo a PF, as negociações entre André Vargas e o doleiro no Ministério da Saúde eram realizadas a partir do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Augusto Grabois Gadelha, e de Eduardo Jorge Valadares, diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, órgão do Ministério da Saúde. Além dos servidores, o próprio ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, atualmente pré-candidato petista ao governo de São Paulo, é citado nominalmente no inquérito da Polícia Federal justamente por ter assinado o contrato com o laboratório do doleiro.

Ao jornal Folha de S.Paulo, que revelou parte das conversas hoje, Vargas negou qualquer contato com os servidores citados pela Polícia Federal. Na semana passada, porém, o vice-presidente da Câmara também negava ter participado de qualquer reunião com o doleiro em Brasília ou intermediado qualquer interesse de Youssef. “Eu só conversava com o Youssef em Londrina, no aeroporto ou num posto de gasolina. Como eu sou um cara que tenho muita influência no partido do governo, ele queria saber o que estava acontecendo na política, na economia. Ele queria saber dos cenários econômicos, políticos e eu só dava os meus pitacos”, disse Vargas. Com o lobby e as reuniões de Vargas em favor do doleiro escancaradas, tem-se agora a demonstração do que pode estar por trás de um simples “pitaco”.


Por Reinaldo Azevedo

FASCISMO DE ESQUERDA INVADE UMA AULA NA SÃO FRANCISCO, INTIMIDA PROFESSOR, IMPÕE-SE PELA FORÇA BRUTA E SE QUER ARAUTO DA LIBERDADE

Invadi Reitoria quatro vezes na USP.
Invadi espaço do Crusp ocupado pela área administrativa da universidade.
Fiz miguelito — quem era ou é do ramo sabe do que se trata.
Apanhei.
Quase me lasquei bonito aos 16 anos.

Mas nunca fiz o que vocês verão abaixo. Nunca! Esses brucutus que se querem libertários não sabem o preço da liberdade. Não sabem o que é se arriscar por ela. Não estão preparados para a divergência.

O busílis é o seguinte.

O professor de direito administrativo Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da USP, dava nesta segunda, dia 31 de março, uma aula em que criticava os regimes socialistas. Antes disso, consta, teria tornado público um texto em que defende o regime militar instaurado em 1964 no país.

Não conheço o texto, mas é muito provável que eu não concorde com Gualazzi hoje e é certo que não teria concordado com ele aos 18 anos. Agora, como antes, entendo que a palavra é a melhor expressão da divergência e que o tema poderia ter sido objeto de debate dentro da sala da aula.

Mas não! Esse grupo — não sei se com o apoio do Centro Acadêmico 11 de Agosto — resolveu simular cenas de tortura na porta da sala de aula e, em seguida, a invadiu. Convoquei muita greve na USP, deixo claro. Batia à porta. Pedia licença ao “mestre” — a orientação era para que chamássemos o professor de mestre — para falar. Se ele permitisse, muito bem, dávamos o recado; se não, então agradecíamos, pedíamos desculpa pela interrupção e saíamos. Não procedíamos daquele modo porque o país era uma ditadura e estávamos ainda a nove anos das eleições diretas. Procedíamos daquele modo porque entendíamos que certas conquistas da civilização deveriam permanecer fosse qual fosse o regime. Bem, vejam o vídeo com a barbárie.

Um leitor manda-me o seguinte trecho, atribuído a um dos invasores, que estaria no primeiro ano: “Esse professor distribuiu antes da aula um texto para alunos explicando por que ele defendia a ‘revolução’ de 1964 e como isso foi bom para o Brasil. Então nos reunimos para fazer um escracho contra ele. Antes de entrar, fizemos um pequeno teatro de uma cena de tortura e entramos dentro da sala. O professor foi muito agressivo, empurrou alunos. Ele perdeu as estribeiras, quis expulsar os estudantes de dentro da sala, mas começamos a batucar e ele saiu muito nervoso”.

O que foi que esse rapaz aprendeu sobre civilidade, contraditório, divergência? Santo Deus! Trata-se, nada menos, de uma faculdade de direito, onde se aprende, é lição básica, que um dos pressupostos de um regime de liberdades públicas e individuais é que todos têm o direito a um advogado — se a pessoa não puder arcar com um, às suas expensas, o estado se encarregará de fazê-lo. Um defensor público, diga-se, cuidou do caso até de um dos réus do mensalão — aliás, foi o mais bem-sucedido na Corte.

Reitero: não se trata de concordar ou não com a tese de Gualazzi. Por razões teóricas, históricas e até sentimentais, é possível que eu discorde profundamente dele, mas estou certo de que não é assim que se fazem as coisas.

Cabe a pergunta óbvia: esse grupo se tornou agora o Comitê de Censura da São Francisco? É ele que vai definir o limite do que pode e do que não pode ser dito em sala de aula? Esses ignorantes truculentos conseguirão, finalmente, realizar o que nem o golpe militar conseguiu: eliminar, também no conteúdo, a chamada liberdade de cátedra?

É claro que essa gente, vê-se pela idade dos que tiram o capuz, não participou da luta pela redemocratização do país; é claro que essa gente só age de modo tão covarde porque sabe que não haverá consequências; é claro que essa gente só é tão bruta porque sabe que lhes vão conceder a licença para ser truculenta, embora ela própria não conceda a quem considera adversário nem mesmo o direito de falar. É claro que essa gente só age desse modo porque tem claro que o máximo risco que corre é humilhar os outros.

“Ah, Reinaldo, o ancião de 52 anos, quer ensinar a meninada a fazer a militância!” Eu não quero ensinar nada. Segundo o meu entendimento de democracia, também os idiotas e os ignorantes têm direito a voz e voto. Mas civilidade e senso de limites independem, em larga medida, do que se pensa. E só passa a ser função do que se pensa quando o que se tem em mente é um regime totalitário. Faço uma pergunta que o agora neoesquerdista Caetano Veloso fez àqueles que o impediram de cantar a música “É proibido proibir” num festival em 1968: essa gente é diferente dos fascistas que invadiram, naquele ano, o teatro e espancaram os atores da peça Roda Viva? Também esses “jovens” muito velhos estão matando agora o velhote inimigo que morreu anteontem.

Vejam lá o que diz o rapaz. O futuro advogado não acredita no valor da palavra e do debate. Ele aposta é  no escracho. Acha que, se os “inimigos” estiverem sendo humilhados, na força bruta, silenciados, então é sinal de que a luta avança. Ninguém contou a esse cara que, se e quando a sua ideia triunfar, com todos os inimigos eliminados, então os vitoriosos começarão a fazer a caçada e a “cassada” entre si — porque esse é o destino fatal de todas as revoluções que impõem a sua verdade silenciando as demais: do Terror francês à Coreia do Norte é assim.

A crise é mais geral

A crise do pensamento é mais geral. Eu vivi, infelizmente, a crise do pensamento marxista no Brasil, nos anos 80, para a qual o petismo concorreu de maneira importante — e mais ainda os grupelhos que estavam incrustados na legenda e acabaram, depois, ganhando vida própria.

Enquanto o marxismo foi, no Brasil, um domínio do “Partidão”, do antigo PCB, conservava-se certa noção de história — ainda que eu, trotskista então, achasse a turma equivocada. Mas também nós éramos viciados na literatura específica; havia um amor genuíno pela teoria, por mais equivocada que ela me pareça hoje, 34 anos depois.

O gosto pela formação foi substituído pelo voluntarismo. Eu conheço a cara de paisagem de muitos “esquerdistas” da academia quando se cita um texto de referência daquela que deveria ser a especialidade deles. Não se lê mais nada, não se estuda mais nada, não se pesquisa mais nada. Em vez disso, rosna-se e pragueja-se em nome da “justiça”.

Uma barbaridade como essa deveria mobilizar os professores, o Conselho Universitário, a direção da universidade, o Centro Acadêmico — que, consta, e temo que seja verdade, apoiou esse ato de violência.

Sinto-me envergonhado, a tal vergonha alheia, ao assistir a esse vídeo. Fico um tanto constrangido até de escrever a respeito. Qual é o grau de tolerância dessa turma para as ideias das quais discorda?

Como lembrei certa feita, “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de modo diferente.” E emendei então:

“A frase já foi um clichê na boca de esquerdistas que se opunham ou à ditadura ou a supostos consensos que, na democracia, não eram do seu agrado. Poderia ter sido dita pela liberal-libertária Ayn Rand, mas a autora é a comunista Rosa Luxemburgo. Confrontava Lênin, que mandou às favas a Assembleia Constituinte. No seu equívoco, Rosa tinha a honestidade dos ingênuos, mas revoluções são conduzidas pelo cálculo dos cínicos. A liberdade perdeu. A múmia de Lênin fede. Seu cadáver ainda procria.”

Mas sabem como é… Aquele rapaz deve pensar assim: “Eu acho esse professor fascista. Para provar que eu não sou, então invado a aula dele e o proíbo de falar”. E ele não vê nada de errado em seu raciocínio. Ele se considera um humanista.

Se há professores felizes com o que viram — e certamente há —, uma advertência óbvia e lógica: vocês entraram na fila do escracho; ainda chegará a vez de vocês. E pode ser que não haja ninguém mais para reclamar, para lembrar o pastor Niemöller.


Por Reinaldo Azevedo

Após nadar de braçada, Vargas virou afogado

Vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR) sempre nadou de braçada. É do tipo que fala duas vezes antes de pensar. Esculachou as sentenças do mensalão, debochou de Joaquim Barbosa, tachou de ‘inábil’ o staff político de Dilma Rousseff… Fez e aconteceu. Quando todos já pareciam convencidos de que o deputado nascera para nadador, a Polícia Federal informa que Vargas pode ser um afogado.
A repórter Andréia Sadi apalpou documentos da Operação Lava a Jato. Lendo-os,descobriu que o companheiro Vargas tomou emprestado um avião. Usou-o nas férias de janeiro, para viajar à capital paraibana, João Pessoa. Providenciou a aeronave o doleiro Alberto Youssef, preso sob a suspeita de lavar R$ 10 bilhões em verbas sujas.
Procurado, Vargas soou desconexo. Primeiro, disse que conhece Youssef há 20 anos. Depois, insinuou ter convivido por duas décadas com um estranho. “Eu não sabia com quem eu estava me relacionando. Não tenho nenhuma relação com os crimes que ele eventualmente cometeu.”
Vargas pede compreensão. A PF suspeita que seu caso pode ser de interrogatório. O deputado chama de “imprudência” o uso do avião. A papelada da PF informa que pode ser mais do que isso. O deputado aparece no inquérito como suspeito de agenciar interesses privados do doleiro no Ministério da Saúde.
Vargas nega que tenha cometido malfeitos. Resta saber se a plateia lhe dará ouvidos. No momento, o principal problema do brasileiro é que ele é incapaz de reconhecer seriedade em certos homens públicos. E esses são incapazes de demonstrá-la. Nada, Vargas, nada.
Josias de Souza



Governo da Venezuela obriga proprietários a vender imóveis a inquilino

O Globo

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu obrigar os proprietários de imóveis alugados há 20 anos ou mais a vendê-los a seus inquilinos.

A medida, já publicada no Diário Oficial, determina que os donos terão 60 dias para fazer a oferta dos apartamentos, cujo preço será determinado por um órgão estatal. A medida provocou polêmica no país: apesar de o deficit de imóveis na Venezuela ser alto e afetar mais de 3,7 milhões de famílias, críticos tacharam a ação de inconstitucional. 

A novidade prevê que os inquilinos tenham prioridade sobre a compra, mas, se não o fizerem, o imóvel deve ser vendido mesmo assim.

Os proprietários que descumprirem o prazo para anunciar a venda serão multados em 2.000 unidades tributárias, o equivalente a 254 mil bolívares, ou US$ 40 mil. O valor deve ser pago em cinco dias; caso contrário, a multa será dobrada. Depois disso, o apartamento pode ser embargado.