sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A dinheirama para Delúbio: armação ou sem-vergonhice contagiosa?

Ser mensaleiro, ora vejam, pode render mais de milhão. Isso se o sujeito for um condenado e estiver em cana — ou, ao menos, dormindo na cadeia. Em plena operação do esquema, rendia muito mais. O site criado para arrecadar dinheiro para pagar a multa de Delúbio Soares já teria juntado mais de R$ 1 milhão de reais.
É um acinte! Por que escrevo “teria juntado”, pondo a informação sob suspeita? Porque só nesta quinta-feira R$ 600 mil caíram na conta de uma vez só. A multa que Delúbio tem de pagar é R$ 466.888,90. Até ontem, o total arrecadado era de R$ 1.013.657,26.
Quem é essa gente que doa com tanta generosidade?. O único ente oficial que vai ter acesso aos nomes é a Receita Federal, já que esse tipo de operação é tributada — e, claro!, o partido. Se os próprios comandantes do PT fizeram boa parte das doações, como deve ter acontecido, ninguém ficará sabendo.
É claro que o PT decidiu debochar da Justiça como um todo e do Supremo Tribunal Federal em particular. Ao criar um site para doações de pessoas que permanecerão anônimas, tenta fazer de conta que a sociedade está contra o tribunal. O petista Marco Aurélio Garcia, que é assessor especial de Dilma para assuntos internacionais, não escondeu a intenção: “Isso é uma resposta ao ministro Joaquim Barbosa. Ele, com seus exageros, acabou mobilizando ainda mais a militância”.
Os mensaleiros também trocam a grana entre si. Da campanha de Genoino, sobraram R$ 30 mil reais, que ele decidiu doar a Delúbio. Da de Delúbio, sobrarão mais de R$ 500 mil, que vão para José Dirceu e João Paulo Cunha…
É um mau sinal. Estamos diante da evidência de que o PT, além de não admitir os crimes cometidos, ainda parece se orgulhar deles e da suposta adesão de sua militância. Digo que a adesão é suposta porque, enquanto os respectivos nomes dos doadores continuarem em sigilo, o bom senso obriga a desconfiar.
E notem o seguinte: a hipótese da farsa é a benevolente. A não-benevolente é mais grave. Se há mesmo tanta gente disposta a condescender com o crime e a colaborar com criminosos, é sinal de que a sem-vergonhice é contagiosa.
Por Reinaldo Azevedo

A ONG é o de menos; grave é o que Padilha fez nesta quarta

Alexandre Padilha, ainda ministro da Saúde, anunciou que o Ministério vai romper o contrato com a ONG de que seu pai é dirigente — ver posts anteriores. Certo! É uma decisão de candidato. É sinal, então, de que ele também acha que não pega bem. Ao fazê-lo, tenta demonstrar que é um homem sensível às críticas, que não se fecha em sua própria bolha… Era tão evidente que o convênio daria bochicho que dá para desconfiar de que foi firmado só para ser rompido. Mas talvez não seja nada disso. Os políticos brasileiros estão tão acostumados a usar o público como se fosse privado que já fazem as coisas assim, distraidamente. Querem saber? Não acho isso tão importante.
Não conheço a tal ONG, mas dou de barato que cumpre o que promete. De resto, nem é tanto dinheiro assim. A questão é mais, digamos, de princípios. Grave mesmo, insisto, foi o que o Padilha fez nesta quarta-feira. O seu pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, anunciando uma campanha de vacinação que começa em… março é um acinte. Tratou-se de campanha eleitoral descarada. Até porque, como se viu, ele não se limitou ao objeto do suposto anúncio. Tratou de outros programas da sua pasta, na linha “nunca antes na história deste país”.
Esse negócio da ONG é café pequeno.
Por Reinaldo Azevedo

Lula, o maior ator do Brasil, prega a paz na Internet enquanto a sua turma prepara a guerra

Luiz Inácio Lula da Silva é o maior ator do Brasil, e não é de hoje que lhe reconheço essa qualidade, entre outras. E, destaco, ele vai melhorando com o tempo, conferindo sempre mais verossimilhança à sua fala. Por mais avesso que a gente seja ao PT e à sua pregação, há a tentação de considerar que Lula está sendo sincero.
O chefão do PT gravou um vídeo que foi postado em sua página no Facebook e está no Youtube. Lula fala sobre o papel da Internet na educação política. Quase não há reparos a fazer a seu texto, exceção feita à parte final, quando comenta o papel da imprensa. Ele e o PT ainda não entenderam qual é a função do jornalismo. Mas não chega a ser, nesse caso, um pecado mortal. Péssimas são as tentativas dos petistas de censurar a imprensa, mas isso não está caracterizado nesse vídeo.
Destaco trechos de sua fala. Volto em seguida:
“Eu sou favorável a responsabilizar as pessoas que usam a Internet porque eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas se eu for irresponsável, eu posso matar alguém ou posso morrer”.
“Quanto mais a gente trabalhar no sentido de falar coisas positivas, mesmo quando você critica, criticar com fundamento, e não ficar fazendo o jogo rasteiro da calúnia ou do baixo nível… Quando você calunia, você não politiza, você não ensina, você não produz um fruto”
“Eu acho que a internet é uma arvore que pode produzir frutos novos todo santo dia se a gente tiver, ao sentar na frente de um computador, interesse de que alguém aprenda algo mais nesse país ou nesse mundo”.
“Eu, sempre que puder utilizar a Internet para passar uma mensagem que seja uma coisa positiva, uma coisa verdadeira, eu utilizarei. Jamais usarei a Internet para fazer uma calúnia contra quem quer que seja”.
Retomo
O vídeo vem a público dois dias depois de o PT anunciar que vai se articular com os movimentos sociais para… pautar a Internet e, como eles dizem, enfrentar os conservadores. Notem: a concepção é autoritária desde a origem, desde o princípio. Os movimentos sociais, por definição, não deveriam ter partido, certo? O que une aquelas pessoas, até onde se sabe, não é um partido, mas uma reivindicação.
Há mais: os petistas já criaram um grupo chamado “MAV” — Mobilização de Ambientes Virtuais. Como já afirmei aqui, trata-se de uma espécie de polícia política da Internet. Essa gente fica monitorando as redes sociais para “combater” seus adversários. Também invade as páginas pessoais de algumas pessoas conhecidas para patrulhar a sua opinião, desqualificá-las no caso de alguma discordância, intimidá-las. Sei do que falo porque a área de comentários deste blog enfrenta essa forma de assédio.
Ainda não é a pior parte. Todo mundo sabe que, por meio de publicidade da administração direta e de estatais, os petistas mantêm uma rede de blogs — que acabou ficando conhecida como “blogs sujos” — que têm como tarefa principal atacar figuras da oposição e a imprensa independente, além, claro!, de defender o governo.
E onde ficam esses limites de que fala Lula? Ora… Trata-se de um espetáculo grotesco de baixarias, vigarices, mentiras. Não faz tempo, um dos blogs da turma associou a imagem do ministro Joaquim Barbosa à de um macaco. LULA, PESSOALMENTE, TENTOU JOGAR NO COLO DA OPOSIÇÃO A COCAÍNA APREENDIDA NO HELICÓPTERO de um deputado e de um senador. Imediatamente a rede suja passou a replicar a baixaria, embora a Polícia Federal tivesse descartado o envolvimento dos próprios políticos com a droga. Isso tudo está documentado.
Quando, no entanto, a gente vê e ouve Lula no vídeo, é grande a tentação de considerá-lo uma espécie de líder moral, a dizer coisas sensatas. A campanha vêm aí. E teremos, mais uma vez, a chance de ver do que são capazes.
Imprensa
Sobre a imprensa propriamente, Lula afirmou:
“Não é que eu quero que todo mundo fale bem do governo; a mensagem é que eu quero que todo mundo seja verdadeiro, seja para criticar, seja para apoiar o governo”.
“Está acontecendo muita coisa boa nesse país. Eu, às vezes, fico triste porque eu vejo televisão; começa de manhã, seis e quinze da manhã, eu estou vendo televisão, o cara já fala assalto não sei onde, morte não sei onde, batida não sei onde, eu fico pensando: ‘Será que não nasceu uma criança hoje no Brasil; será que ninguém foi bem atendido em algum lugar; será que não uma coisa boa pra gente mostrar sempre os dois lados da moeda’?”
Vamos ver
Trata-se de um apanhado de bobagens. Pra começo de conversa, existem mais instâncias de opinião que não as favoráveis e as críticas ao governo. Essa fala de Lula traduz a sua mentalidade estatizante, governo-dependente, própria de um partido que aparelhou o estado.
De resto, sempre que a imprensa tem uma “boa notícia”, esta merece o devido destaque. Lula não sabe, ou finge não saber, que a imprensa é um dos instrumentos de que dispõe a sociedade para apontar o que não vai bem, para tentar corrigir problemas, daí sua aparente inclinação para a má notícia.
Eu proponho outra questão a este senhor: que tal se a propaganda oficial do governo começar a revelar também os problemas para mostrar os dois lados? Que tal se isso fosse feito inclusive nos pronunciamentos oficiais? Assim, nesta quarta, em vez de apenas cantar as suas supostas glórias, o ministro Alexandre Padilha teria se desculpado pelos 41 mil leitos do SUS que desapareceram entre 2005 e 2012.
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lewandowski abre chance para Dirceu trabalhar

Presidente em exercício do STF, ministro Ricardo Lewandowski acata pedido de defesa do ex-ministro José Dirceu e determina que a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP) analise o pedido de trabalho externo do petista; sindicância do Presídio da Papuda, em Brasília, considerou "improcedente" acusação de que Dirceu teria utilizado o celular dentro da penitenciária; suspensão da análise de benefícios do condenado foi determinada pelo juiz Bruno Ribeiro, filho de um ex-dirigente tucano; leia íntegra da decisão.
 
Prender o deputado condenado ele não quer, né? Mas "soltar" o  amiguinho ele age rápido... Ministro parcial esse não?

Com Padilha, PT já põe em pratica o “financiamento público de campanha”. É um escárnio! Ou: Refrescando a memória do ministro

Alexandre Padilha, ainda ministro da Saúde, fez campanha eleitoral antecipada de maneira arreganhada, desabrida, sem pudor. O ministro falou aos brasileiros nesta quarta, dia 29 de janeiro. Pretexto: anunciar a campanha de vacinação contra o vírus HPV. Sabem quando as vacinas estarão à disposição? Só em março. Ora, qual é a natureza dos pronunciamentos públicos, feitos em rede nacional de rádio e TV, prerrogativa de que só dispõe o governo federal? Anunciar um serviço, fazer um comunicado de urgência, informar algo relevante à população. Trata-se, sim, de algo relevante. Mas cabe é pergunta: é urgente?
Ocorre que Padilha, que apareceu com a sua gravata vermelha — que pertence ao uniforme de campanha dos petistas —, está deixando o Ministério da Saúde para se candidatar ao governo de São Paulo. O pronunciamento, segundo a pasta, custou R$ 55 mil. Mas esse, obviamente, é só o custo, digamos, de produção. O que o ministro estava fazendo era faturar politicamente uma ação de governo orçada em R$ 15 milhões.
Tanto se tratava de campanha que Padilha não se limitou a falar da vacinação. Aproveitou também para faturar com o programa “Mais Médicos”. O tom era de proselitismo escancarado. Disse: “Com o programa Mais Médicos, o governo federal está dando outro passo decisivo para levar mais saúde a áreas que, durante décadas, viveram esquecidas”.
É mesmo? Se a memória do ministro é fraca, a minha é boa. Em 2002, último ano do governo FHC, havia 2,7 leitos hospitalares, públicos e privados, por mil habitantes. Em 2013, havia 2,3. A Organização Mundial de Saúde recomenda 5. Em 11 anos, houve uma queda de 15%. Atenção! No país que vive uma epidemia de crack, há apenas 0,15 leito psiquiátrico por mil habitantes. É a metade do que havia em 2002, quando o PT venceu a eleição. Nos países civilizados, a média é de um leito psiquiátrico para cada mil pessoas, quase seis vezes mais. Entre 2005 e 2012, e isso inclui a gestão do doutor Padilha, o SUS perdeu mais de 41 mil leitos.
Mas, agora, temos os cubanos espalhados Brasil afora para, como disse a presidente Dilma certa feita, dar umas apalpadas nos pobres. Esses médicos, chamados “de família”, não podem realizar vários procedimentos, como cirurgias, por exemplo. No Brasil profundo, trabalham em postos de saúde e hospitais caindo aos pedaços. Considerar que a chegada dos cubanos é a redenção da saúde, em face dos números a que acabo de me referir, é um escárnio.
Padilha é o ministro de Dilma que mais fez pronunciamentos oficiais em rede nacional — cinco ao todo — e é o segundo que mais usou jatos da FAB até dezembro do ano passado. Viajou a várias capitais brasileiras, por exemplo, para receber os médicos cubanos — sempre acompanhado de assessores e fotógrafos. O material coletado, claro!, ajudará a turbinar a campanha eleitoral.
Chega a ser uma piada que o Supremo Tribunal Federal esteja a apenas um voto para formar a maioria que vai proibir as doações de empresas a campanhas eleitorais. Desde que sejam transparentes, que mal há nisso. Condenável, detestável mesmo, é este uso absurdo do dinheiro público em favor de uma candidatura.
Evangélicos
Leio na Folha: “Ontem Padilha usou o horário de almoço para assistir a um culto evangélico no auditório da Saúde. ‘Quem está aqui não é o ministro, é alguém que crê em Deus’, disse a cerca de 60 funcionários do ministério.”
Muito bem! Tem início o ritual de conversão cristão à boca da urna, quando o índice dos que acreditam em Deus no Brasil alcança 110%… Em 2010, Dilma revelou até a sua santa de devoção: a “Nossa Senhora de Forma Geral”, que ela chamou de “deusa”, fundando o cristianismo politeísta. 
Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Brasil é o único dos Brics que perdeu investimentos

Na VEJA.com:
O investimento estrangeiro direto (IED) caiu 3,9% no Brasil em 2013, para 63 bilhões de dólares, informou um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgado nesta terça-feira. O resultado brasileiro é o único negativo entre os países dos Brics (bloco integrado também por Rússia, Índia, China e África do Sul). Contudo, graças aos investimentos em território chinês e russo, o IED do bloco alcançou 322 bilhões de dólares, alta de 21% em relação a 2012.
O governo da presidente Dilma Rousseff usou o pretexto de fomentar o investimento estrangeiro direto para justificar muitas de suas políticas protecionistas no país. Esse tipo de aporte é considerado capital “de qualidade”, que consiste em injeções diretas no setor produtivo — e não no mercado financeiro, quando é considerado capital especulativo. O aumento de impostos sobre o investimento estrangeiro em títulos de renda fixa, por exemplo, foi uma das medidas criadas pelo Ministério da Fazenda para espantar os especuladores, em meados de 2011. Com a disparada do dólar ocorrida no último ano, muitas das medidas foram desfeitas. Mas a artilharia do governo acertou alvo duplo: colocou para fora especuladores e, também, os ‘bons’ investidores.
A Unctad afirmou que o resultado brasileiro deve ser visto no contexto de desaceleração de um crescimento que foi acima da média nos anos anteriores, sobretudo em 2011, quando o aporte anual ficou em 65 bilhões de dólares, ante 48 bilhões de dólares em 2010. Contudo, tal contexto parece não se aplicar aos outros Brics. Na Rússia, o crescimento foi de 83% no ano passado, para 94 bilhões de dólares. Já na China, foi de 4%, a 127 bilhões de dólares. A África do Sul, membro recém-aceito no bloco, o IED avançou 126%, para 10 bilhões de dólares. Enquanto grande parte dos países analisados pela Unctad recuperou, em 2013, o mesmo nível de investimento de 2011, o Brasil ampliou a queda. Em 2012, o IED no país havia caído 2%.
No aspecto das sub-regiões, o cenário tampouco é animador para o país. Puxada pelo Brasil, a América do Sul viu seu IED cair 6,8% no ano passado. Apenas o Oriente Médio teve desempenho pior, com queda de 19,6%. O norte da África, ainda castigado pelas revoltas populares, viu seu IED recuar 1,8% no período. Todas as outras sete sub-regiões do globo tiveram desempenho positivo.
Já no comparativo entre os blocos econômicos, o Mercosul (composto por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) foi o único a apresentar queda nos investimentos (de 6%). Também influenciado pelo Brasil, o resultado do bloco evidencia as falhas das políticas protecionistas de alguns governos sul-americanos, como o brasileiro e o argentino, que espantaram o capital estrangeiro ao longo dos últimos anos.
Há o agravante, ainda, da deterioração fiscal e do aumento da inflação em ambos os países. No caso do Brasil, a presidente Dilma iniciou um tímido movimento para tentar reaver a confiança do investidor. Uma de suas ações foi ir a Davos e discursar sobre os feitos de seu governo. Contudo, como é necessário mais do que palavras para retomar o dinheiro que se foi, investidores aguardam ações mais contundentes do Palácio do Planalto – como a retomada do controle das contas públicas – para voltar a investir. No caso da Argentina, onde Cristina Kirchner não parece preocupada em recuperar os bilhões perdidos, a volta do IED só deve ocorrer por milagre – ou nem assim.
Por Reinaldo Azevedo

As elites brasileiras, incluindo boa parte da imprensa, perderam o juízo e estão brincando, literalmente, com fogo

Ônibus deixaram de circular nas Zonas Sul e Oeste de São Paulo porque, desde o começo do ano, 29 coletivos municipais e 28 intermunicipais já foram incendiados na região metropolitana de São Paulo. As empresas e os motoristas não querem entrar nas áreas consideradas de risco. No domingo, em Santos, depois de sair de uma balada, cerca de 200 jovens resolveram fazer um arrastão num supermercado Extra. Clientes também foram espancados. Um deles levou um extintor na cabeça. Caído, foi alvo de chutes.
Os barateadores da sociologia — aos quais, em regra, a nossa imprensa é tão servil — podem começar a especular sobre, sei lá, o mal-estar do capitalismo nativo… De repente, aquele país que havia migrado em massa para a classe média teria resolvido se revoltar.
Segundo certa delinquência chique em vigor, agora, o tal povo da periferia estaria querendo “direitos”, cansado da segregação. E não veria melhor maneira de conseguir o que o faz feliz do que incendiando ônibus, saqueando supermercados, tentando explodir postos de gasolina. Eventualmente, fazendo rolezinhos, ao som do funk ostentação. Esses pensadores ainda não sabem se o pobre quer ser rico ou comer os ricos.
Quando leio os textos dos colunistas com o dedo sempre em riste — como se a culpa, então, pela desigualdade fosse de seus adversários políticos ou de seus inimigos ideológicos —, penso na satisfação vagabunda dos covardes intelectuais.
Acham que, caso se solidarizem com criminosos — que eles tomam como rebeldes primitivos, que ainda não se descobriram —, já terão, então, feito a sua parte. No boteco, já poderão se sentar à mesa de outros justos, partidários também estes da saliva justiceira.
O que está em curso é algo bem mais prosaico, bem mais comum.
Está em curso no país uma onda de depredação de qualquer noção de ordem e de limites. Ora, se há sempre uma origem social para qualquer crime e se o gesto, mesmo o mais extremo, se explica como expressão de um anseio democrático — o que implica a demonização da polícia e de qualquer esforço para restabelecer a lei —, então tudo é permitido.
Se a polícia atua para conter um rolezinho que fugiu do controle, ela apanha; se prende traficantes, ela apanha; se reprime os black blocs que saem por aí depredando e incendiando, ela apanha; se  um policial atira em legítima defesa, apanha também. O certo, talvez, fosse se deixar matar para não ofender a boa consciência dos justiceiros salivantes.
Desde junho, um mau espírito povoa a cabeça de pessoas antes sensatas, que têm a grave responsabilidade de produzir, num caso, informação — refiro-me à imprensa — e, no outro, educação e cidadania: refiro-me aos políticos.
Estes últimos têm-se negado, com raras exceções, a condenar com clareza a violência gratuita. Procuram, na verdade, fugir do assunto. A imprensa, também com exceções, patrulhada pelas redes sociais, esforça-se para concorrer com a popularidade do Facebook, preferindo a algaravia de vozes desconexas — sempre, claro!, em nome da justiça social.
É consenso que o país avançou bastante nos últimos 20 anos. Se mais não fez, não foi por excesso de apreço e de amor pela ordem. Ao contrário: é justamente onde nos esquecemos dos formalismos, do rigor e do decoro que as coisas se danam. E isso vale muito especialmente para os governos. Que se note: o povo, no geral, é muito mais ordeiro do que o estado no Brasil. Ou seria impossível botar o nariz fora da porta.
Os demagogos, no entanto, estão vencendo a batalha de valores e estão começando a acordar a fera. E é bom saber: a “fera” pode despertar em Londres, por exemplo, como já se viu. Não precisa ser necessariamente na periferia de São Paulo ou nos morros do Rio.
Podem anotar: se o país escolher deixar impunes os trogloditas que saem quebrando e incendiando tudo por aí; se a polícia for tratada como ré quando prende traficantes ou atira para se defender de um ataque; se todo fundamento ancorado na ordem for tratado como uma tramoia contra o povo, o resultado não será bom. À diferença do que poderiam pensar o PSOL ou o PSTU — e aqueles que gostam de fazer justiça com o próprio teclado —, o que vem não é a revolução.
Será que não devemos ser gratos pelo fato de o único líder carismático que há no Brasil, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, ser, assim, um burguesão do capital alheio, que, no frigir nos ovos, não quer arrumar confusão com os seus amigos banqueiros, seu amigos empreiteiros e seus amigos industriais? Na marcha da insensatez em que vamos, um amalucado, de extrema esquerda ou de extrema direita, encontraria um território fértil para a sua pregação.
As elites brasileiras nunca foram exatamente iluminadas. Mas, desta vez, parece que perderam o juízo de vez.  Para arrematar: como o PT, no fim das contas, está sempre ligado aos tais “movimentos sociais”, o PT vira uma espécie de incentivador da desordem, e Lula, o único garantidor da ordem para aqueles seus amigos. E o círculo se fecha.
Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

'O Minha Casa Minha Vida enxuga gelo', diz líder do MTST

Beatriz Borges, El Pais

As manifestações de junho de 2013 foram o gatilho. As ocupações de áreas urbanas para construção de moradias populares dispararam o barril de pólvora da periferia, que encontrou na mobilização popular forças para se impor frente à ineficiência do maior programa já realizado pelo Governo federal pela habitação, o Minha Casa Minha Vida (MCMV), lançado pelo governo Lula em 2009.

A ampliação do centro, empurrada pela especulação imobiliária, foi o estopim do levante. Para citar dois exemplos, os moradores do Jardim Ângela e Campo Limpo, zona sul de São Paulo, acamparam porque já não conseguem pagar o aluguel e se negaram a ir morar mais longe ainda.

Mobilizados através do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, acusam o que chamam de “privatização da política urbana”, que fomentou o crescimento das empreiteiras e construtoras. Entrevistamos Guilherme Boulos, 31 anos, um dos coordenadores nacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que explica como a conjuntura econômica do Brasil nos últimos anos catalisou a onda de ocupações – desde junho, foram oito áreas ocupadas somente em São Paulo, e o papel da Copa do Mundo nesse processo.

Estou me lixando se protestos violentos colaboram ou não com a reeleição de Dilma; petistas não definem o que eu penso; conservador que se regozija com a baderna não é conservador, mas burro

Eu estou pouco me lixando se a eventual retomada dos protestos de rua, com sua violência arreganhada, é útil ou prejudicial para Dilma, colabora ou não com a reeleição. Isso, para mim, não tem a menor importância.
Se o Brasil que está adormecido em berço esplêndido é esse, ele que fique lá dormindo. Não há nada de civilizado ou que preste nisso. Esses valores não me interessam e estão distantes da civilização que quero. Isso não me serve. Gente que sai quebrando tudo por aí merece é cana, é cadeia. Não tenho compromisso com esses vagabundos nem acho que eles são o sintoma de um mal-estar. São, a exemplo de outros desajustes, expressão da nossa dificuldade de fazer valer a lei. É simples.
“Ah, então isso nada tem a ver com o petismo?” Tem, sim, mas de um modo que a esmagadora maioria da imprensa se nega a ver pela simples e evidente razão de que boa parte dos jornalistas está à esquerda do PT. Hoje em dia, olha mesmo com olhos desejosos para coisas como PSOL e congêneres — vejam, por exemplo, a esquerda radical com vista para o mar da Vieira Souto, no Rio. Ou os extremistas do Alto de Pinheiros, em São Paulo.
Essa desordem é fruto, sim, do ataque sistemático à ordem, muito especialmente à ordem democrática. E o PT, é inequívoco, sempre incentivou essa prática e é seu tributário. Ocorre que o partido chegou ao poder e, hoje em dia, é beneficiário da ordem. Sem a dita-cuja, não há, por exemplo, Copa do Mundo — que, no que concerne à infraestrutura, será capenga, como todo mundo sabe.
Foi com o petismo que os “radicais” de agora aprenderam que esse negócio de lei e de respeito ao outro é um sentimento reacionário e burguês — um dos gritos de guerra da turma do quebra-quebra, diga-se, é este: “Ei, burguês, a culpa de vocês”. Sim, a gramática e a ideologia estão estropiadas. Tudo bem! Eles querem mudar o mundo, certo?
O PT fica perplexo porque não está preparado para isso. As franjas do partido que estão no Ministério Público, na Defensoria Pública, no jornalismo etc. não resistem à tentação de demonizar a polícia, quando ela acerta e quando ela erra. Como de hábito, fazem a luta do bem contra o mal.
A rede suja na Internet, financiada por estatais, ainda tenta — bando de bocós com os bolsos cheios — espalhar a besteira de que o “Não Vai Ter Copa” é coisa da “direita”, como fez aquele cineasta do Leblon. Tenham paciência! Se houver algum direitista ou conservador que condescenda com isso, não é nem direitista nem conservador; é apenas burro.
Não me pergunto agora e não me perguntei em junho se esses eventos são bons ou maus para Dilma. Pouco me importa saber o que ela e os petistas pensam a respeito — não para definir, ao menos, o que eu penso. Se me preocupasse com isso, seria escravo deles. E eu não sou. Eles não são, vamos dizer, o meu “oposto privilegiado”, os meus interlocutores imaginários “do outro lado”. Essa gente é de tal sorte ruim que, como adversária, nos deseduca.
A sociedade que eu quero, com menos estado e mais responsabilidade individual; com respeito aos direitos individuais e aos direitos coletivos; que saiba distinguir o espaço privado do espaço público; que assuma que a praça não é de ninguém porque é de todos; que não confere a grupos de pressão o direito de impor ao conjunto da sociedade a sua agenda, essa “minha” sociedade — liberal e conservadora dos valores democráticos — sai necessariamente perdendo com esse tipo de expressão do descontentamento.
Já escrevi aqui e reitero: não sou apocalíptico; não acho que sobrevirá um grande desastre se as coisas continuarem assim… Se as coisas continuarem assim, o país continuará assim, incapaz de respeitar seus cidadãos. Só isso. O Brasil não acaba. Sempre haverá um, de um jeito ou de outro.
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Brasil oferece R$ 1,2 bilhão em crédito a Cuba

Por Patrícia Campos Mello, na Folha:

O governo brasileiro está oferecendo cerca de US$ 500 milhões de crédito por ano (aproximadamente R$ 1,2 bilhão) para Cuba comprar produtos e serviços brasileiros. Segundo levantamento feito pela Folha, o governo brasileiro desembolsou US$ 152,7 milhões pelo BNDES até setembro de 2013 (foram US$ 220,58 milhões em todo o ano de 2012), mais US$ 221,2 milhões pelo Banco do Brasil.
Disponibilizou ainda uma linha anual de US$ 70 milhões do programa Mais Alimentos Internacional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, para a compra de implementos agrícolas brasileiros. O foco brasileiro em Cuba se traduz nos números –no ano passado, o país de 11 milhões de habitantes, mesma população do Rio Grande do Sul, foi o terceiro maior destino de financiamentos do BNDES para exportação de bens e serviços brasileiros. Recebeu mais recursos do que o Peru, país com PIB de US$ 196 bilhões, quase três vezes maior que o cubano. O BB não forneceu dados para essa comparação.
(…)