O
Apedeuta anda criticando o governo Dilma em conversa com interlocutores.
Primeira pergunta: ele quer voltar? A segunda: há a possibilidade de ser ele o
candidato do PT? A terceira: as críticas fazem sentido?
Pois
é… Vou começar pela mais fácil.. Sim, Lula adoraria voltar. Eu diria até que,
intimamente, ele não pensa em outra coisa. Mas sabe que isso é muito difícil —
diria mesmo ser impossível hoje. Num cenário de catástrofe, não tenham dúvida
de que o salvador da pátria se apresentaria.
Mas
isso não está no horizonte. Ademais, Dilma não exibe números espetaculares
segundo os institutos de pesquisa, mas é franca favorita à reeleição — e no
primeiro turno, segundo os números de hoje. Talvez, lá no fundo do peito, nos
seus desejos mais recônditos, mais profundos, o ex-presidente até torcesse para
que ela despencasse e se mostrasse uma candidata de alto risco. Mas isso não
aconteceu. Botá-la em escanteio seria visto como um gesto truculento e, na
verdade, desnecessário.
Então
sintetizo agora duas respostas numa só: querer, ah, isso ele quer muito. Mas
não pode. Não tem como tirar Dilma do meio do caminho.
Lula
virou uma espécie de psicanalista de alguns setores descontentes com o governo.
Tem recebido uma verdadeira romaria — inclusive de alguns pesos pesados da
economia — que lhe pedem para voltar. Desde José Rainha — um dissidente
esquerdista do MST, que agora fundou seu próprio movimento — a alguns pesos
pesados do PIB, a romaria dos que vão a Lula é grande.
E
ele não se furta ao papel absurdo de presidente paralelo. Ouve as reclamações,
tranquiliza o interlocutor, promete providências e, como se nota, deixa vazar
críticas à sua sucessora. Lula, como sempre, está descumprindo uma promessa.
Tinha anunciado que seria um ex-presidente discreto e silencioso, como nunca
antes na história deste país, para usar um bordão seu. E, como nunca antes da
história deste país, é um ex-presidente que tem ambição de continuar
governando.
O
chefão petista considera — a Folha de hoje traz uma reportagem a respeito — o
governo Dilma centralizador demais e avalia que ela se afastou dos empresários.
Acha a gestão pesada, lenta. Acredita também que a atual equipe econômica já
deu o que tinha de dar — vale dizer: Guido Mantega. As suas críticas, afinal de
contas, procedem?
Depende.
Tomadas as coisas como são, a resposta é “sim”. Mas Dilma faz algo muito
diferente, ou deixa de fazer alguma coisa, na comparação com o seu antecessor,
o próprio Lula? A resposta é “não”. Então o que foi que mudou? A realidade
internacional. Deem a Dilma a mesma economia mundial que Lula tinha, com a
China crescendo em ritmo alucinante, com o preço das commodities primárias nas
alturas, e ela se sairia melhor. Deem a Dilma um cenário de corrida do dinheiro
para os países emergentes para fugir da crise americana e europeia, e ela se
sairia melhor. Acontece que esses eventos não vão se repetir.
Dilma
está pegando a fase final das “virtudes” do modelo lulista, ancorado no
consumo. O déficit de US$ 11,591 bilhões nas contas externas em janeiro começou
a ser fabricado no governo Lula. O rombo certo na balança comercial em 2014 — o
primeiro em 13 anos — também começou a ser fabricado no lulismo. O papel cada
vez mais modesto da indústria no PIB e um déficit de US$ 110 bilhões do setor
no ano passado têm a digital indelével de… Lula!
Pergunte-se:
que reforma estrutural importante ele encaminhou? O que efetivamente fez pelo
investimento em infraestrutura? Em vez de privatizar aeroportos e estradas, por
exemplo, passou oito anos demonizando as privatizações por motivos estritamente
políticos, por proselitismo ideológico vigarista. A crise da Petrobras, para
citar um caso emblemático, é uma das heranças malditas que Lula deixou para a
sua sucessora.
O
governo Dilma é, sim, a meu juízo, muito ruim — mas não é pior do que era o de
Lula. O que mudou de modo importante foi a conjuntura internacional, e o PT não
estava preparado para isso.
Encerro
apontando a absoluta falta de pudor político de um ex-presidente da República que
se dá ao desfrute de manter reuniões com empresários e de fazer vazar as suas
críticas, constrangendo a sua sucessora. Ainda que Dilma não se elegesse nem
síndica de prédio em 2010 sem o seu apoio, o fato é que ela é a atual
presidente da República.
No fim
de 2010, Lula afirmou que iria gastar seu tempo como ex-presidente cozinhando
coelho em seu sítio, em Ribeirão Pires. Pelo visto, anda mais ocupado alugando
a orelha para tubarões.
Por Reinaldo Azevedo
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