Alexandre
Padilha (foto), que acabou de deixar o Ministério da Saúde para assumir a
condição de pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, concedeu uma
entrevista realmente impressionante a Valdo Cruz e Johanna Nublat, daFolha. É impressionante porque, sei lá, de boa-fé, a gente
acredita que há um limite para a irresponsabilidade e para a má-fé. Com alguma
frequência, isso é um engano.
Na
semana em que um dos filhos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi vítima de
uma tentativa de assalto ou, sabe-se lá, de sequestro, Padilha aproveita para
fustigar a área de segurança pública de São Paulo com um discurso sem números,
que apela apenas à retórica terrorista. É de um oportunismo asqueroso. Mas
esperar o quê? Essa gente já transformou o câncer em moeda eleitoral duas
vezes! Infelizmente, a conversa passou longe dos dados.
O
petista disse com todas as letras: “[O PCC] Foi uma criação no governo
deles. Vinte anos atrás, quando assumiram o governo, não tinha PCC, agora tem.
Falta coragem ao governo de São Paulo para enfrentar o que precisa ser
enfrentado. Eu diria que, hoje, a bateria do PSDB de São Paulo acabou.”
Estupefaciente!
Ora, vimos há alguns dias o horror em que se transformou o Complexo de
Pedrinhas, no Maranhão, estado em que o PT elegeu o vice-governador. O sistema
penitenciário desse estado abrigava, em 2012, apenas 4.241 presos. Mesmo assim,
é dominado por duas facções criminosas. As decapitações decorrem das disputas
entre elas. Em São Paulo, havia em 2012 190.828 presos só no sistema
penitenciário. Sem contar as cadeias.
Facções
também estão presentes no Rio. Aliás, lá é que teve início o partido de bandidos,
quando criminosos de esquerda se juntaram com criminosos comuns, nos anos 1970.
E o Rio, que prende muito menos do que São Paulo, tinha apenas 30.906 presos
nas penitenciárias em 2012 — 160 mil a menos. As facções, como sabem as UPPs,
atacam dentro e fora dos presídios.
Petista
tentando dar aula de segurança pública? Por que Padilha não olha para a Bahia,
cujos presídios também são dominados por organizações criminosas, embora suas
penitenciárias abrigassem apenas 10.251 pessoas no ano retrasado — 5,3% do que
havia no sistema paulista? E o que dizer do Distrito Federal, também governado
pelo PT?
O DF
é mesmo semelhante a SP?
Infelizmente,
numa das perguntas feitas a Padilha, afirma-se: “São Paulo enfrenta um problema
na segurança, mas o Distrito Federal, governado pelo PT, tem situação
semelhante. Não é uma questão nacional e não há omissão do governo federal em
atuar com os Estados?”
Epa!
O Distrito Federal tem situação semelhante à de São Paulo? Não terá nem nos
próximos 10 anos — ou mais. Em 2012, houve 32,1 Crimes Violentos Letais
Intencionais por 100 mil habitantes no DF, o que inclui homicídios dolosos e
latrocínios; em São Paulo, foram 12,4 — em 2013, deve ter caído. A do DF é 159%
maior. E no caso dos latrocínios? 1,8 por 100 mil no DF, contra 0,8 em São
Paulo. De novo, a capital administrada pelo partido de Padilha vence: 125%. Que
história é essa de “situação semelhante”. Haverá semelhança quando os índices
de homicídios do DF caírem 61%, e os de latrocínios, 55%.
Padilha
deu outra resposta não menos espantosa:
“São
Paulo tem um potencial que não pode ser comparado com nenhum outro Estado. Pelo
seu potencial, tem de se comparar com as melhores práticas internacionais,
inclusive na área de segurança. Além disso, o governo federal sempre deu demonstrações
de oferecer cooperação com o Estado de São Paulo.”
Cooperação?
Qual? Quando a Secretaria de Segurança Pública enviou ao Ministério da Justiça
um pedido de auxílio para reequipar a PM, ouviu do senhor José Eduardo Cardozo,
ministro, que o governo federal não era a Casa da Moeda.
Vejam
o que aconteceu com a taxa e com o número de homicídios em São Paulo em 13
anos. Os dados de 2013 ainda não estão aí. São menores. Não há estado com essa
performance, e, provavelmente, é hoje a unidade da federação com a menor taxa.
Mas
não vamos ficar só no Distrito Federal. E se formos para a Bahia petista, de
Jaques Wagner? 40,7 assassinatos por 100 mil — 228% a mais. E se nos fixarmos
no pequenino Sergipe, governado pelo PT desde 2007? A taxa de latrocínios é
112,5% maior do que a paulista; a de assassinatos, 222,5%.
E é
Padilha, um dos homens fortes do PT, a dar aula de segurança pública a São
Paulo? Mais uma vez, ele repetiu a ladainha de que se trata do estado mais rico
da federação. É claro que é. Mas também é o mais populoso. De todo modo, mais
números. Sabem quanto o Brasil gastou com policiamento em 2012? Com
exatidão: R$ 17.557.948.076,05. Desse total, São Paulo desembolsou R$
7.291.669.213,27. Ou seja: 41% — embora o estado tenha apenas 22% da população.
Em 2011, então, respondeu por 55,3% do total.
Alexandre
Padilha está chutando. Eu estou lidando com dados, com números, que são
endossados pelo próprio governo federal. Todos esses números que cito pertencem
ao Anuário Brasileiro de Segurança Pública e está à disposição aqui. Baixe a versão em PDF que facilita a leitura.
O
sr. Alexandre Padilha não deveria brincar assim com coisa séria. Se o Brasil
tivesse a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes que há em São Paulo, 30
mil vidas se salvariam todos os anos. Infelizmente, a eficiência do PT em
segurança pública se mede em cadáveres.
Um
outra resposta de Padilha chega a quase comover pela arte do ludíbrio. Leiam:
O
sr. deve fechar a meta de 13 mil médicos [para o Mais Médicos] com cerca de 75%
deles sendo cubanos. Por que vocês não foram mais transparentes e reconheceram
que o convênio com Cuba seria a alternativa, sabendo que os médicos brasileiros
não iriam se inscrever?
Primeiro
porque não tenho bola de cristal. Tenho capacidade de planejamento, de visão de
futuro, era um problema que a gente apontava havia muito tempo. Muita gente
dizia que os prefeitos não iam aderir ao programa, mas superou a expectativa.
Segundo, acreditamos que a forma como foi divulgado, convocado, chamado, era
importante para não desestimular a participação dos médicos brasileiros.
Errado!
Em
agosto do ano passado, numa entrevista ao programa “Entre Aspas”, Humberto
Costa, ex-ministro da Saúde, confessou:
“Esse
programa já vem sendo trabalhado há um ano e meio. Boa parte desses cubanos já
trabalharam em países de língua portuguesa, não têm dificuldade com a língua.
E, ao longo desse um ano e meio, eles vêm tendo conhecimento sobre o sistema de
saúde no Brasil, doenças que existem aqui e não existem lá…”
Médicos
cubanos confessaram depois que já estavam em treinamento quando nem se falava
ainda do programa por aqui. Portanto, a resposta do ministro é o que se chama o
oposto da verdade…
Vamos
ver o que o futuro reserva a São Paulo. A gente já sabe o que o PT fez com a
segurança pública na Bahia, no Distrito Federal ou em Sergipe. No Rio Grande do
Sul, Tarso Genro entra no quarto ano de governo com a Polícia Militar mais mal
paga do país: R$ 1.375,71 contra R$ 3.023,29 em São Paulo.
Eis
aí o que dizem eles e o que realmente são.
Por Reinaldo Azevedo