Que
gente exótica. Luiz Azevedo, braço-direito do ministro das Relações
Institucionais, Ricardo Berzoini, veio a público por meio de uma nota oficial
para admitir que atuou, sim, na tramoia para fraudar qualquer resultado
eventualmente honesto que pudesse ter a CPI da Petrobras no Senado. A VEJA
revela a conspirata na sua mais recente edição. A Folha desta quarta informa
que Azevedo fez parte da linha de frente do imbróglio. O governo tentou negar
que estivesse envolvido até o pescoço no rolo. A presidente Dilma disse a
respeito coisas incompreensíveis (vejam post). Mas não dava mais para disfarçar.
E não é que Azevedo, em sua
nota, parece ungido por Deus para cumprir uma missão? É… O homem não
trabalha na Petrobras. O homem não trabalha no Senado. O homem não é assessor
de parlamentar petista. Mesmo assim, ele revela o que parece ser uma tarefa
passada pelo próprio Deus na sarça ardente da empulhação petista: “evitar o uso
político eleitoral da CPI”. Quem é esse para se considerar protagonista de tal
missão? A sua nota é o retrato de um tempo. Eu a reproduzo na íntegra. Volto em
seguida.
Presidência da República
Secretaria de Relações Institucionais
Sobre matéria publicada na Folha de São
Paulo – Ação na CPI da Petrobras foi combinada com assessores do Planalto
A respeito da matéria publicada nesta
quarta-feira (6), no jornal Folha de São Paulo, esclareço: enquanto funcionário
da Secretaria de Relações Institucionais, possuo duas atribuições fundamentais
no tocante à CPI da Petrobras – relação com a estatal, para que a mesma atenda
de forma organizada as demandas da Comissão com transparência e eficiência; e
com os parlamentares da base e da liderança do governo.
Atuo em ambas as frentes para que todos
os esclarecimentos, dados e fatos sejam prestados pela empresa, visando
assegurar a qualidade das informações, evitando, dessa forma, o uso político
eleitoral da CPI.
Por se tratar de uma ação investigativa
do parlamento envolvendo uma empresa estatal, evidentemente a articulação
política do governo não deve se omitir de participar dos debates com
parlamentares, inclusive para a formação do roteiro e da estratégia dos
trabalhos. Trabalhos esses que foram, desde o início, boicotados pela oposição,
que agora se utiliza de oportunismo para explorar politicamente o factoide
criado.
Em nenhum momento nossa atuação feriu
as atribuições e soberania do parlamento, que preserva suas prerrogativas com
denodo e independência.
Luiz Azevedo
Secretário Executivo da
Secretaria de Relações Institucionais
Volto
Trata-se de uma notável coleção de
absurdos. A nota já começa estupidamente errada quando este senhor afirma:
“enquanto funcionário da Secretaria de Relações Institucionais, possuo duas
atribuições fundamentais no tocante à CPI da Petrobras”. Como é que é? Este
cara não tem de ter papel nenhum na comissão. Se tem dois, então é uma
barbaridade duplicada.
Sem vergonha, sem
constrangimento, ele diz quais são esses papéis:
1: atuar pra que a empresa forneça
todos os dados;
2: fazer uma articulação com a base de
apoio.
Eis um caso notável em que não
se distinguem partido, empresa, Estado e governo. Tudo acaba submetido à mesma
lógica e à mesma hierarquia. Ainda que ele estivesse bem intencionado, a
Petrobras tem de fornecer as informações porque deve satisfações ao público,
mormente porque é uma empresa de capital aberto. Um dos papéis de um
secretário-executivo de Relações Institucionais é manter uma interlocução com o
Congresso, com o Poder Legislativo, não apenas como uma fatia dele. Até porque
não se trata de um trabalho de convencimento em favor de um projeto de lei
ou de uma medida do Executivo. Ao contrário: o que se fez, de forma clara,
arreganhada, explícita, foi tentar encabrestar o Parlamento.
Essa gente perdeu a noção do
ridículo. Agora, assessor de segundo escalão se acha no direito de emitir nota
pública com críticas à oposição… Alguém elegeu esse cara para alguma coisa? Ele
já se submeteu ao crivo popular? Além de ser pego fora do lugar, fazendo o que
não deve, arvora-se também em ombudsman da oposição.
Vai levar muitos anos para que
o país se recupere da degradação institucional a que o submeteu o PT. Mas será
preciso começar em algum momento. Antes tarde do que nunca. Um Zé Mané
arrogante acha que pode dar pito na oposição. Dilma perdeu o que nunca teve: o
controle do governo.
Por Reinaldo Azevedo