sábado, 2 de fevereiro de 2013

A verdade é que a imprensa brasileira sempre foi tolerante com as besteiras de Lula e ajudou a criar o mito fanfarrão. Ou: Bobeou, Lula “passa o pente”…

Luiz Inácio Apedeuta da Silva foi a Havana participar de um troço chamado “Conferência pelo Equilíbrio Mundial”. Atacou aquela velha senhora, a Dona Zelite, especialmente a imprensa, que perseguiria democratas e humanistas como Cristina Kirchner, Evo Morales, Hugo Chávez… No Brasil, disse ele, a “mídia” não gosta de ver pobre andando de avião. Vai ver é por isso que o fanfarrão tentou reinstaurar a censura no Brasil: para que passássemos a elogiar aeroportos fedorentos, caindo aos pedaços, entregues a uma gestão ineficiente, lotada de larápios. Vai ver ele e Dilma retardaram em quase dez anos a privatização do setor para dar uma lição aos jornalistas: “Vocês vão ter de aguentar o povo!”. Como é mesmo? “País rico é país sem conforto”. 

Em peregrinação pelo Brasil, José Dirceu ataca o Ministério Público, o Judiciário e, claro!, a imprensa — que estaria disposta a instaurar uma ditadura no Brasil. Não uma ditadura qualquer, mas do tipo nazifascista, segundo Rui Falcão, este democrata exemplar. Pois é… A verdade, no entanto, é bem outra. Ao longo dos anos, ao longo das décadas, o jornalismo brasileiro foi é complacente com Lula e sempre relevou — quando não promoveu — sua pletora de bobagens na suposição de que ele, afinal, era um autêntico representante do povo e tinha, por isso, licença especial para dizer tolices. 

Raramente Lula foi visto como aquilo que de fato era: um político empenhado na construção de um partido para disputar o poder. Era tratado como uma força da natureza; como o bom selvagem que vocalizava não um conteúdo político, mas uma mensagem vinda das entranhas da Terra. Seus juízos eram, sim, meio toscos — “mas ele não teve estudo, coitado!”. Suas soluções eram simplistas, primárias, notavelmente ignorantes — “mas ele é um representante das massas, e apontar suas burrices é manifestação de preconceito”. E se foi criando, então, o mito do homem que sabia tudo sem estudar nada. Numa entrevista à revista “Primeira Leitura”, que eu dirigia, Marilena Chaui comparou o chefão petista à deusa grega Métis (ainda vou recuperar a passagem; é notável). 

Voltemo-nos àquela entrevista que o então já bastante poderoso e influente Lula concedeu à revista Playboy em 1979. Que outra figura pública teria resistido à confissão de que iniciou sua vida sexual com animais? Que outra personalidade teria sobrevivido à admissão de que ficava de olho nas viuvinhas que entravam no sindicato para, recorrendo a seu vocabulário iluminado, “papá-las”? Atenção! Aquele notável líder da classe trabalhadora aproveitava-se da morte de um companheiro e da fragilidade da mulher — que tinha ido ao órgão de classe para cuidar da pensão — para, como se diz por aí, “passar o pente”. Que outra expressão do sindicalismo ou da política teria superado a revelação de que tinha na galeria dos homens admiráveis e admirados Hitler e Khomeini. Por quê? “Porque estavam do lado dos menos favorecidos…”, ele explicou. 

“Lá está o Reinaldo querendo ressuscitar velharias…” Não! Já demonstrei que não são velharias. As escolhas que Lula fez na política externa, por exemplo, indicam que coerência com seu passado. As escolhas que faz na política interna são compatíveis com aquela visão de mundo. E ousaria mesmo dizer que certos sucessos de sua vida privada — com repercussões na esfera pública — remetem àquela espreitador de viuvinhas. No sindicato, na Presidência e no partido, ele nunca soube distinguir suas necessidades privadas das questões coletivas. Isso está dado pelos fatos. 

A mentira 

É mentira, das mais escancaradas, essa história de que a imprensa persegue Lula, o PT e os petistas. Ao contrário: há mais de 30 anos, essa gente está entre os pauteiros mais influentes do jornalismo. Com muita frequência, em razão de alinhamentos ideológicos e afinidades eletivas, é poupado das críticas. 

Não se trata aqui de apelar ao escatológico ou ao que parece anedótico para definir um homem inteiro. Usar um cargo num órgão de representação de classe para “papar” viúvas fragilizadas não define apenas um gosto sexual; define também um caráter. Afirmar que Hitler é um homem admirável, ainda que discorde de sua ideologia, por causa do “fogo de se propor a fazer alguma coisa” é mais do que a mera expressão de um juízo torto; Lula conseguiu atravessar a camada do horror para descobrir no facínora o ardor da transformação. 

O Lula de 1979 está presente no Lula de 2013 e, de fato, jamais o abandonou. A cada vez que confunde o público com o privado, em que toma a sua própria vida como metro de todas as coisas, quem se manifesta é o molestador de viúvas. A cada vez que justifica os crimes dos companheiros (os petistas ou os governantes delinquentes da América Latina), ouve-se a voz do admirador de Hitler e Mussolini. Não especulo se aquele Lula escatológico tem expressão ainda hoje em dia porque minha imaginação se nega a visitar certas paragens… 

Ataque à imprensa por quê? Com raras exceções, noticiou-se a sua óbvia e indevida intromissão na Prefeitura de São Paulo e mesmo no governo Dilma como se fosse algo natural, corriqueiro, aceitável. Lula decide na base do dedaço quem é e quem não é candidato no partido, e se considera isso muito normal porque, afinal de contas, ele é mesmo o líder inconteste no partido. Os mais sabujos veem nisso um “saudável processo de renovação” do partido. Num seminário, os porta-vozes do Apedeuta anunciam quem será o verdadeiro articulador do governo Dilma, e ninguém se ocupa de indagar: “Mas com quais credenciais que a tanto o habilitem, se não é deputado, não é senador, não é ministro, não é assessor da Presidência?”. 

Mas ao petismo não basta. Se o partido conseguisse cooptar todos os meios de comunicação menos um, seguiria reclamando e denunciando o “complô” da mídia contra as forças do povo, como naquela carta-programa dos nazistas… A imprensa que Lula agora ataca, tudo bem pensado, praticamente o inventou como líder e segue tendo com ele uma generosidade que a nenhum outro político é dispensada. 

Aquele que é hoje um dos homens mais poderosos do país ainda é visto por muitos como o ignorante amoroso, de bom coração, cheio de boas intenções, dono de uma intuição genial, interessado apenas na redenção do seu povo. Não há o que perguntar às cabras. A indagação teria de começar pelas viúvas… 

Por Reinaldo Azevedo

O novo mercado sexual, por Nelson Motta

Nelson Motta, O Globo 

O jogo virou, de antigas oprimidas dos anos 60, chamadas por John Lennon de “o crioulo do mundo” em “Woman is the Nigger of the World”, as mulheres avançaram pelas trilhas abertas pelo feminismo e hoje são presidentes, secretárias de Estado, ministras, comandantes de jatos, de batalhões militares e de grandes grupos econômicos, jogando futebol, dirigindo filmes e dando aulas de todos os assuntos, elas estão em toda parte, até na frente de combate. Mas continuam reclamando. 

Pesquisas recentes mostram que nos Estados Unidos, onde elas têm mais poder, dinheiro, independência e liberdade do que nunca, as mulheres estão mais insatisfeitas agora do que nos anos 60, porque, com tantas opções, escolher ficou muito mais difícil. E, como Freud já sabia, nunca se sabe o que quer uma mulher. 

Até o sonho da maternidade balança, algumas já admitem que seria melhor não ter tido filhos, ou que foram eles que destruíram a sua felicidade. 

São muitas as Marias hoje em dia, da clássica “Maria-Gasolina”, com sua atração irresistível por carros, à moderna “Maria-Chuteira”, que acompanhou a evolução sociopatrimonial dos jogadores de futebol. 

Agora a antropóloga Miriam Goldenberg fala do florescimento nos meios universitários da “Maria-Apostila”, que manda recados safados aos professores nas apostilas e no Facebook, tipo “Vai ao barzinho hoje? Se for, vou sem calcinha”. 

Competindo para ver quem pega mais professores, as “Maria-Lattes”, como a famosa plataforma de currículos acadêmicos, valorizam tanto a quantidade quanto a qualidade. 

As mulheres passivas, à espera do chamado dos homens, estão saindo de cena. Estamos na era das periguetes, das roupas curtas e justas em corpos sarados, partindo para o ataque e invertendo os papéis de gênero, intimidando e provocando desconforto nos homens. Embora ainda continuem esperando um telefonema no dia seguinte. 

Nas pesquisas de Miriam ficou claro que, com essa troca de papéis, os homens estão apavorados. E as mulheres, desesperadas. 

Assim como na economia, a lei da oferta e da procura vale para o mercado sexual: quando a oferta cresce, a procura amolece.

Política desmoralizada: Um pior que o outro

Um senador tem a prerrogativa de votar em quem quiser — até mesmo de se rebelar contra a orientação da bancada. 

Mas mentir é uma coisa feia. Esconder-se no voto secreto numa questão como esta é evidência de covardia.

Há muitas evidências que os políticos não são confiáveis e mentem ao povo. Exemplos não faltam:

Lula nunca soube de nada...

Renan é ético...

A inflação está sob controle...

Enfim, são inumeráveis as mentiras contadas que, se fôssemos um país sério, teríamos banido esta gente da vida pública e alguns, estariam na cadeia.

Tucanos pra quê?

Não tem jeito, não! As coisas não acontecem por acaso. A oposição não chega ao estado miserável a que chegou no Congresso por acidente. É preciso muito esforço para isso. É preciso haver muita dedicação. E nisso, convenham, os tucanos são de uma aplicação comovente. Pelo critério da proporcionalidade, ao PSDB caberia, como coube, a Primeira Secretaria da Mesa Diretora do Senado, mas a turma de Renan Calheiros (PMDB-AL) poderia ter retaliado e negado a vaga ao partido. Não é lei, mas acordo. Já que, oficialmente, o partido havia se alinhado com a candidatura adversária, não haveria por que cumprir compromisso. E os patriotas de Renan até chegaram a pensar nisso. Quando, no entanto, foram computados os votos, tiveram uma certeza: parte da bancada, os bons de bico, traiu o compromisso e deixou Pedro Taques (PDT-MT) na mão. E aqueles que o fizeram certamente deram um jeito de fazer chegar ao rei posto a sua (in)fidelidade. 

Eu já havia escrito aqui que o coração de muitos tucanos pulsava mesmo é pelo peemedebista. Assim, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) assumiu a Primeira Secretaria sem medo se ser feliz. Ele também é investigado pelo Ministério Público Federal. Temos uma Mesa Diretora formada por heróis. 

Os 11 tucanos poderiam vir a público para declarar o seu voto. Não se trata de patrulha, não, mas de vergonha na cara. Já que se anunciou à sociedade o apoio ao adversário de Renan, cumprira agora deixar claro quem fez o quê. Notem: ninguém é obrigado a abrir o voto. Mas todos podem se dispensar de mentir. Se havia senadores contrários ao apoio a Taques, que dissessem, ora. 

Aécio Neves (PSDB-MG), cotado para ser presidente do partido e apontado como candidato à Presidência da República, havia acenado com a possibilidade de fazer um discurso em defesa da candidatura de Taques. Discurso não houve. O senador se limitou, há alguns dias, a fazer uma espécie de convite-apelo a Renan para que retirasse a sua candidatura. O alagoano não topou, claro… O apoio ao opositor de Renan, no fim das contas, foi uma operação de marketing que acabou saindo pela culatra. Agora, resta suspeita da farsa, do adesismo e da traição, tudo misturado. Se era para fazer esse papelão, melhor teria sido defender que a presidência coubesse à maior bancada e fim de papo. Melhor a sabujice franca do que a dissimulada. 

No dia 3 de setembro de 2012, escrevi aqui um texto afirmando que a greve que realmente faz mal ao Brasil é a greve da oposição, que está paralisada há sete anos, caminhando para oito, desde quando ficou com medo das consequências e recuou diante da possibilidade de pedir o impeachment de Lula, na crise do mensalão. Depois disso, não se encontrou mais. 

É claro que há líderes regionais importantes do partido. No próprio Congresso, há deputados e senadores que fazem um trabalho sério e não temem confrontar o governismo em questões relevantes. Já destaquei aqui o trabalho, por exemplo, de Álvaro Dias (PR) e Aloysio Nunes (SP) — espero que estejam entre aqueles que votaram em Taques. O que falta, no entanto, é uma diretriz partidária. Que cara tem, afinal, o “maior menor” partido de oposição do país? Quer o quê? Acena com quais valores? Não se sabe. Há um vazio de mensagem, há um vazio de propostas, há um vazio de liderança. 

Assim, cabe a pergunta: “Tucanos pra quê?”. 

Não é um qualquer 

A eleição de Renan Calheiros é uma porrada na cara da nação. Estou entre aqueles que acham que a oposição tinha a obrigação política de apresentar uma alternativa, ainda que o PMDB tivesse apresentado como candidato uma vestal. Mas não! Tratava-se de Renan Calheiros, que já teve de renunciar a esse posto. Assume a cadeira denunciado por três crimes. “Ah, mas ele é inocente até não ser condenado pela Justiça…” Fato. Ocorre que estamos falando de política, não de polícia — ainda que essas duas palavras sejam quase anagramáticas. A Justiça vai, sim, decidir se ele cometeu crimes ao tentar provar que pagava pensão à ex-amante e a um filho com recursos próprios. O que é incontroverso é que uma empreiteira arcava com as despesas. 

Um partido ou um grupo que tem a ambição de chegar ao poder tem de escolher uma mensagem, tem de mobilizar fatias da sociedade, tem de definir com quem quer falar. Há dez anos — notadamente dos últimos sete! —, o PSDB, como voz institucional, foge miseravelmente de todos os embates e se expõe ao descrédito e à chacota daqueles que entendem que a democracia é o regime das alternativas, não do discurso único. 

Eu não sei a resposta. Se os tucanos sabem, poderiam nos dizer: “PSDB pra quê?”.

 Por Reinaldo Azevedo 


Entra em vigor novo termo de rescisão de contrato de trabalho

O Globo 

O uso do novo modelo do Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho é obrigatório a todos os empregadores que demitirem seus funcionários sem justa causa a partir desta sexta-feira, 1º de fevereiro. 

O documento deveria ter se tornado obrigatório em 1º de novembro de 2012, mas a vigência foi adiada devido à baixa adesão das empresas ao termo, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. 

Sem o termo de rescisão, nenhum trabalhador pode sacar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou o seguro-desemprego nas agências da Caixa Econômica Federal. Essa impossibilidade também vale para trabalhadores domésticos que tenham FGTS.

Balança comercial registra em janeiro maior déficit em 20 anos

Cristiane Bonfanti, O Globo 

A balança comercial brasileira registrou em janeiro o pior resultado mensal em 20 anos. Afetada pelo registro tardio das importações de petróleo e derivados realizadas pela Petrobras e por uma explosão na compra de produtos do exterior, a balança comercial apresentou um déficit de US$ 4,03 bilhões no mês passado, o maior desde o início da série histórica, em 1993, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). 

Além das operações da Petrobras e do aumento das importações de outros produtos, a queda nas exportações também influenciou o resultado da balança comercial. Na comparação com janeiro de 2012, as exportações caíram 1,07%, de US$ 16,141 bilhões para US$ 15,968 bilhões. A entrada de produtos, por sua vez, cresceu 14,64%, de US$ 17,448 bilhões para US$ 20,003 bilhões.

Ditadura petista é assim: bom de discurso, mas péssimo de gestão.

Denúncias contra Renan serão arquivadas no Conselho de Ética, diz Jucá

Eugênia Lopes e Ricardo Brito, Estadão 

Os aliados do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) estão decididos a passar o rolo compressor sobre eventuais pedidos de investigação contra o novo presidente do Senado. A estratégia é arquivar sumariamente qualquer representação que venha a ser apresentada ao Conselho de Ética para apurar denúncia de que o peemedebista não tinha, em 2007, patrimônio suficiente para justificar os gastos com despesas pessoais decorrentes de um relacionamento extraconjugal. 

“Vamos arquivar”, disse nesta sexta-feira, 1, o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Na época do escândalo, Renan foi acusado de ter esses gastos bancados por lobista de uma empreiteira e acabou renunciando à presidência do Senado para escapar de ter o mandato cassado. “Não adianta ficar remoendo o passado. Isso é matéria vencida e discutida no Senado”, emendou Jucá. 

Ele argumentou que Renan já foi absolvido pelas urnas ao se reeleger para o Senado em 2010. “Renan não pode ser presidente condenado, mas investigado não tem problema”, disse Jucá, destacando que o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, é alvo de pedido de investigação no Senado.

Este tal de Jucá deveria é ser expulso do Senado. É vergonhosa sua atuação parlamentar.

Denúncia da Procuradoria contra Renan aponta crimes que podem render até 23 anos de prisão

Na denúncia que protocolou no STF há uma semana, o procurador-geral da República Roberto Gurgel acusa Renan Calheiros da prárica de três crimes: peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. Se condenado, o senador pode pegar até 23 anos de cadeia. Sem mencionar a multa, a perda do mandato e o enquadramento na Lei da Ficha Limpa. 

Deve-se ao repórter Diego Escosteguy a revelação do teor do documento redigido pelo procurador-geral. O material impressiona pela contundência. Escorada em achados da Polícia Federal, a peça de Gurgel não deixa dúvidas: ao devolver a Renan Calheiros a poltrona à qual ele renunciara em 2007, o Senado guinda à presidência um candidato a réu. Abaixo, os detalhes da encrenca: 

1. Papelório inidôneo: ao defender-se em 2007 da acusação de que um lobista de empreiteira bancara despesas da ex-amante com quem tivera uma filha, Renan entregou ao Senado notas frias e documentos falsos. Segundo Gurgel, restou comprovado que o senador não dispunha de renda suficiente para custear a pensão à jornalista Mônica Veloso. Para complicar, descobriu-se que Renan usou notas fiscais geladas também para desviar pelo menos R$ 44,8 mil em verbas do Senado. 

2. Origem do inquérito: o ponto de partida da investigação foi a notícia de que o lobista Cláudio Gontijo, amigo de Renan e empregado da construtora Mendes Júnior, repassava R$ 16,5 mil por mês a Mônica Veloso, a mãe da filha que Renan teve fora do casamento. Na mesma ocasião, entre 2004 e 2006, a empreiteira recebeu R$ 13,2 milhões em emendas penduradas por Renan no Orçamento da União e destinadas a uma obra no Porto de Maceió. Chamado a se explicar no Conselho de Ética, Renan alegara que a pensão à ex-amante saíra do próprio bolso. Dinheiro proveniente de negócios com gado. A Procuradoria desmontou essa versão. 

3. Peculato e falsidade: a alturas tantas, Gurgel anota em sua denúncia, sem rodeios: “Em síntese, apurou-se que Renan Calheiros não possuía recursos disponíveis para custear os pagamentos feitos a Mônica Veloso no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, e que inseriu e fez inserir em documentos públicos e particulares informações diversas das que deveriam ser escritas sobre seus ganhos com atividade rural, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, sua capacidade financeira”. 

Prossegue o procurador-geral: “Além disso, o denunciado utilizou tais documentos ideologicamente falsos perante o Senado Federal para embasar sua defesa apresentada [ao Conselho de Ética]”. Mais adiante: “Assim agindo, Renan Calheiros praticou os delitos previstos nos artigos 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), ambos do Código Penal.” 

4. Recursos insuficientes: com autorização do STF, o Ministério Público Federal quebrou o sigilo bancário do senador. Submeteu os extratos a uma perícia da PF. No dizer do procurador, verificou-se que “os recursos indicados por Renan Calheiros como sacados em dinheiro não poderiam amparar os supostos pagamentos a Mônica Veloso no mesmo período, seja porque não foi mencionada a destinação a Mônica, seja porque os valores destinados ao denunciado não seriam suficientes para suportar os pagamentos”. 

5. Vaivém de cheques: Para espantar as dúvidas quanto à falsidade da alegação de Renan de que dispunha de saldo, a PF esquadrinhou suas contas bancárias e declarações de rendimentos. Descobriu coisas inusitadas. Por exemplo: Renan informara que, em 2009, utilizara 118 cheques para realizar os pagamentos da pensão à jornalista. Desse total, constatou a PF, 66 foram destinados a outras pessoas e empresas. Outros 39 tiveram o próprio Renan como beneficiário. 

Gurgel escreveu: “No verso de alguns destes cheques destinados ao próprio Renan, havia manuscritos que indicam o provável destino do dinheiro, tais como ‘mão de obra reforma da casa’, ‘reforma Barra’ e ‘folha de pagamento’, o que diminui ainda mais sua capacidade de pagamento”. 

6. Rebanho fantasioso: o pedaço da denúncia em que Gurgel dedica-se a desmontar as alegações bovinas de Renan também contém dados eloquentes. Por exemplo: as notas relativas aos supostos negócios feitos por Renan em 2006 registram a venda de 765 cabeças de gado. O diabo é que as guias de trânsito animal, exigidas nesse tipo de transação, informam que foram transportados 908 animais. 

Pois bem. A PF cotejou datas de venda e quantidades de animais. O cruzamento revelou que os dados de venda e entrega de gado só batiam em relação a 220 animais. Mais: descobriu-se que algumas das guias de trânsito animal anexadas por Renan à sua defesa eram de outros vendedores de gado. As notas fiscais não têm selo de autenticidade, trazem campos em branco e apresentam rasuras. 

Pior: Duas das empresas que supostamente teriam comprado gado de Renan não operavam no ramo. Apontado como feliz comprador de 45 cabeças de gado do senador, José Leodácio de Souza negou em depoimento que tenha celebrado qualquer tipo de transação com Renan. Algo que, segundo Gurgel, “confirma a falsidade ideológica dos documentos apresentados”. 

7. ‘Espantosa lucratividade’: os achados da PF revelaram que Renan é um pecuarista sui generis também na escrituração dos seus negócios. Passaram por suas terras 1.950 bois. E não há nos registros contábeis vestígio de despesas de custeio. Tomados pelos balanços, os bois, vacas e reses de Renan pastavam livremente, sem a vigilância de peões. Eram animais salubérrimos, já que tampouco foram encontrados gastos com veterinários. 

“A ausência de registro de despesas de custeio […] implica resultado fictício da atividade rural, o que explica a espantosa ‘lucratividade’ obtida pelo denunciado entre 2002 e 2006”, anotou o procurador-geral na denúncia. Os lucros mencionados por Renan eram, de fato, portentosos. Em 2002, 85%. Em 2006, 80%. 

8. Vida espartana: detectaram-se furos também no patrimônio declarado por Renan à Receita Federal. Dando-se crédito aos dados lançados no Imposto de renda do senador, realçou Gurgel, ele mal arranjaria dinheiro para “sua subsistência e de sua família.” Aos exemplos: em 2002, a família de Renan teria apenas R$ 2,3 mil mensais para viver. Em 2004, R$ 8,5 mil mensais. 

9. Desvio no Senado: Investiga daqui, perscruta dali, a PF foi bater num malfeito praticado no gabinete de Renan. Parte da verba destinada ao custeio das despesas relacionadas ao exercício do mandato de Renan foi usada para pagar supostos “serviços” prestados por uma locadora de carros, a Costa Dourada. Chama-se Tito Uchôa o proprietário. Vem a ser primo de Renan. Mais que isso: é laranja do senador em emissoras de rádio e tevê. 

A denúncia anota: “No curso deste inquérito, também ficou comprovado que, no período de janeiro a julho de 2005, Renan Calheiros desviou, em proveito próprio e alheio, recursos públicos do Senado Federal da chamada verba indenizatória, destinada ao pagamento de despesas relacionadas ao exercício do mandato parlamentar”. Crime de peculato. 

No total, Renan justificou com notas da Costa Dourada despesas de R$ 44,8 mil, em valores da época. Não há sinal da passagem desse dinheiro pelas contas da empresa. Gurgel escreveu: “Não há registro de pagamento e recebimento dos valores expressos nas referidas notas fiscais, o que demonstra que a prestação de serviços não ocorreu, […] servindo apenas para desviar os recursos da verba indenizatória paga pelo Senado Federal”. 

10. Empréstimos camaradas: Renan inclui a Costa Brava também em suas explicações de 2007. Alegou que parte do dinheiro que usara para cobrir a pensão à jornalista viera de empréstimos contraídos junto à empresa. Coisa de R$ 687 mil. Nada foi declarado ao fisco. E o dinheiro “não transitou pelas contas apresentadas” por Renan. 

Outra curiosidade: Renan recebia da Costa Dourada mais dinheiro do que o lucro declarado pela empresa. No ano de 2005, por exemplo, o senador disse ter recebido R$ 99,3 mil em empréstimos da locadora do primo. No mesmo ano, a firma declarou um lucro R$ 71,4 mil. Outro detalhe inusitado: “[…] não houve registros de pagamentos ou amortizações parciais dos recursos”. 

Como se vê, os senadores poderão alegar qualquer coisa quando o retorno de Renan à presidência do Senado desembocar em crise. Só não poderão dizer que não sabiam o que estavam fazendo. Procurado, Renan não quis comentar o teor da denúncia de Gurgel. A peça do procurador-geral encontra-se sobre a mesa do ministro Ricardo Lewandowski, relator do processo no STF. Caberá a ele redigir o voto que guiará o julgamento do caso no plenário do tribunal. Não há prazo para que isso ocorra.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Agora, o ataque à Justiça: Presidente do PT acusa setores do MP de atuação partidária

Denise Madueño, Estadão 

No dia seguinte à confirmação de que a Procuradoria-Geral da República dará seguimento às acusações de suposto envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo do mensalão, o presidente do PT, Rui Falcão, acusou setores do Ministério Público de atuação partidária. 

Na reunião da bancada do PT na Câmara, Falcão referiu-se a "altos funcionários de Estado" que, em conluio com setores da mídia, fazem a "real oposição" ao governo. 

"Há setores do Ministério Público que têm tido atuação partidária. Evidente agora com essa manipulação em torno do presidente Lula em uma ação deliberada do setor partidário", afirmou Falcão. Ele evitou personalizar a crítica ao procurador-geral, Roberto Gurgel, mas concordou quando o deputado Fernando Ferro (PT-PE) nomeou o procurador como oposição ao governo. Ferro defendeu uma fiscalização do Congresso sobre a atuação de Gurgel.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Gastos do governo superaram R$ 800 bi em 2012, alta de 11%

Martha Beck, O Globo 

Num ano em que a economia pisou no freio, as despesas do governo subiram em ritmo mais forte do que as receitas. Dados divulgados nesta terça-feira pelo Ministério da Fazenda mostram que os gastos públicos atingiram R$ 804,7 bilhões em 2012, alta de 11% sobre 2011. 

Os benefícios assistenciais foram os desembolsos que mais cresceram: 17%, seguidos por gastos de custeio, com alta de 16,3%. Nessa conta entram despesas com a máquina administrativa, Bolsa Família, desonerações tributárias, entre outras. Já as receitas somaram R$ 880,8 bilhões, alta de 7,7%. 

O aumento dos gastos públicos, combinado com crescimento menor das receitas, obrigou a equipe econômica a fazer um malabarismo fiscal para fechar as contas em 2012. O governo não apenas antecipou dividendos de estatais e recursos do Fundo Soberano, como remanejou despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para cumprir a meta de superávit.

Má gestão na Petrobrás e em todas as áreas do governo dá nisso: o povo paga a conta!

E os otários brasileiros continuam pagando....

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A histeria anti-Serra e anti-Alckmin de setores da imprensa paulistana já beira o patético

Existe um clima anti-Serra e anti-Alckmin em setores da imprensa paulistana que beira a histeria. A gente sabe quem foi o beneficiário dessa história na eleição do ano passado. O objetivo agora é colar a pecha de “velharia” no governador de São Paulo. O curioso é que os critérios empregados para criticar os tucanos parecem não valer para os petistas. Na Folha de hoje, Ricardo Mendonça escreve um texto espantoso. 

Oligopólio tucano 

Desde o ano 2000, antes de Lula chegar à Presidência, portanto, os únicos dois nomes que o PSDB oferece aos paulistanos em qualquer eleição para prefeito, governador ou presidente da República são José Serra e Geraldo Alckmin. O atual governador de São Paulo foi candidato a prefeito na capital em 2000 e 2008. Serra disputou a prefeitura em 2004 e 2012. Antes, já havia tentado em 1988 e 1996. Repare: só eleitores paulistanos com mais de 37 anos de idade tiveram a chance de votar num tucano que não fosse Serra ou Alckmin para prefeito. Foi na longínqua candidatura do hoje verde Fabio Feldmann em 1992, lembra? 

***A, digamos, tese de Ricardo Mendonça não é dele, mas de Humberto Dantas, cientista político do Insper. Já desmontei essa história aqui. O professor destacava, então, que o trio Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra disputou, desde 1988, quando se formou o PSDB, 12 das 13 eleições havidas em São Paulo (considerando cidade e estado) — a exceção foi Fábio Feldman, que concorreu à Prefeitura em 1992. O partido venceu seis. E no PT? Nesse período, Eduardo Suplicy disputou duas eleições majoritárias; perdeu as duas (era a sua terceira…); Luiza Erundina disputou duas, perdeu uma. Marta disputou três; perdeu duas; Mercadante disputou duas — não conseguiu. Só aí já se contaram 9 das 13 eleições. De resto, como o critério de comparação é o PT, por honestidade metodológica, Dantas deveria ter analisado o índice de renovação do PT também desde a origem do partido. Cairia ainda mais. 

É tão alto assim esse índice no petismo? As únicas exceções no repeteco, de 1988 até 2012, foram Plínio de Arruda Sampaio (1990), José Dirceu (1994) e José Genoino (2002) na disputa pelo governo do Estado. Exceção feita a este último, os outros eram quase anticandidatos. Pura falta de opção. Em 2012, o partido emplacou Fernando Haddad. Esse debate é espantoso! O pior é que alguns tucanos o levam a sério. Mais estúpido ainda: muitos deles ficam plantando essas bobagens na imprensa e ainda se acham muito sagazes… 

Nas eleições para o Planalto ou para o Bandeirantes, a situação é parecida. Em 2002, Serra saiu para presidente, Alckmin para governador. Em 2006, inverteram: Alckmin para presidente, Serra para governador. Em 2010, desinverteram: Serra novamente para presidente, Alckmin novamente para governador. 

Desde 1989, os “dois únicos” nomes que o PT ofereceu para a disputar a Presidência da República foram Lula e Dilma. Ele foi candidato em cinco eleições seguidas, um recorde. Ela disputará a reeleição. Assim, em 2014, apenas dois nomes petistas terão sido candidatos ao longo de… 25 anos!!! 

Petistas que tinham 18 anos em 1989 chegarão aos 43, em 2014, tendo votado em Lula ou em Dilma. Atenção! Ele só não será candidato de novo daqui a dois anos porque a governanta bateu o pé. Como o PT é chegado a uma “novidade”, o Apedeuta já se autodeclarou coordenador político do governo! Reúne-se com Fernando Haddad e o secretariado na Prefeitura de São Paulo para estabelecer as diretrizes da gestão. Num seminário, chama o alto escalão de Dilma para dar algumas lições. Isso não parece preocupar Ricardo Mendonça. Não vê nada de velho nem de estranho. 

Hoje acontece a abertura do congresso estadual do PSDB paulista. A expectativa é que Serra apareça e faça seu primeiro discurso após a eleição municipal de outubro. Os tucanos devem aproveitar para discutir estratégias para 2014. Qual é a grande articulação em curso? Bingo. Dar um jeito para lançar Serra para presidente (a tática agora é falar em prévias ou primárias); e garantir as condições para a reeleição de Alckmin governador. 

Duvido que haja o “lançamento” a que ele se refere. Mas ainda que aconteça, é faltar escandalosamente com a verdade afirmar que a “tática agora é falar em prévias ou primárias”. Como assim? “Agora”??? Serra já disputou prévias na eleição do ano passado. Teria havido a consulta em 2010 se Aécio não tivesse desistido. 

Nem é justo dizer que o PSDB tem problemas para formar quadros competitivos. Depois do petista Fernando Haddad, o maior vencedor da eleição paulistana foi o neopeemedebista Gabriel Chalita, tucano até outro dia. O Rio de Janeiro reelegeu o prefeito com a segunda maior votação proporcional em capitais, Eduardo Paes, tucano até outro dia. Em Curitiba, a surpresa foi a vitória de Gustavo Fruet (PDT), tucano até outro dia. 

Mendonça tentou ser irônico, mas só falou uma grande, uma escandalosa bobagem. O raciocínio faria algum sentido se esses políticos tivessem mudado só de partido, mas não de lado. E eles mudaram. Chalita deixou de ser tucano para ser socialista e é agora peemedebista. Paes jamais se elegeria prefeito no Rio no PSDB, ainda que tivesse conseguido tomar a máquina das mãos do grupo de Marcelo Alencar. Fruet encontrou em confronto com o governador Beto Richa, também por questões locais. O prefeito do Rio teve o apoio das máquinas estadual e federal. O de Curitiba foi eleito pela rejeição a Ratinho Jr. 

Por que eles só conseguiram subir ao primeiro escalão da política após sair do PSDB? Poderia ser um tema para o congresso de hoje. Mas não é. 

A resposta é simples: porque isso não tem a menor importância. O grau de renovação no PSDB não é menor do que nas duas grandes legendas: PT e PMDB — ou o analista vê um peemedebismo fervilhante com Renan Calheiros voltando à Presidência do Senado, apoiado por Michel Temer e José Sarney? 

Ainda que Serra queira e eventualmente consiga ser o candidato do PSDB à Presidência, estaria disputando o cargo pela terceira vez — distante ainda das cinco de Lula, que perdeu três. Mas o petismo, nessa formulação, parece ser uma máquina de renovação. Se Aloizio Mercadante conseguir, como pretende, emplacar a sua candidatura ao governo de São Paulo em 2014, será a sua terceira jornada. 

Desde já se tenta caracterizar a eventual reeleição de Alckmin como mais do mesmo, mero repeteco, buscando reproduzir, em escala estadual, a onda que elegeu Fernando Haddad. São os petistas trabalhando a massa… 

A imprensa paulistana, com as exceções de praxe, vive mesmo um momento encantador. Sob seu silêncio cúmplice, Lula, que não foi eleito por ninguém, atua ora como prefeito de São Paulo, ora como chefe de estado — além de dar murro na mesa e decidir quem é e quem não é candidato. Prova de modernidade!!! Serra e Alckmin, no entanto, segundo entendi, deveriam se aposentar e não disputar mais eleições. Parece que eles não atendem ao particularíssimo senso de renovação de alguns analistas…

 Por Reinaldo Azevedo

Gastos da Petrobras superam as suas receitas

Supremo paradoxo: a economia compreende todas as atividades do país, mas nenhuma atividade do país compreende a economia. Veja-se o caso da Petrobras. Compreendida na estrutura governamental, a estatal petroleira não consegue compreender os desígnios do governo para ela. 

A pretexto de deter a carestia, Brasília comprime os preços dos combustíveis. A inflação continua subindo. E as contas da Petrobras se desarranjam. A companhia faz mais despesas do que sua receita é capaz de cobrir. Nos últimos quatro anos –de 2009 a 2012— abriu-se em sua escrituração um buraco estimado em R$ 54 bilhões. 

Com a caixa registradora vazia, a Petrobras mantém seus investimentos à custa de empréstimos. O diabo é que sua capacidade de endividamento roça o limite. Até setembro do ano passado, as dívidas da estatal somavam R$ 133,9 bilhões. A cifra corresponde a 2,5 vezes a capacidade da empresa de gerar caixa. Não é à toa que a Petrobras mendiga reajustes imediato para a gasolina, o diesel e o gás.

Este é o governo petista: faz o melhor governo do mundo, à custa de empréstimos e depois, mandará a conta para o povo brasileiro.

Já aposto com quem quiser que quando estiver insustentável a situação, eles "repassam" o governo para os tucanos....

O palanqueiro que não desencarna do cargo resolveu virar co-presidente

Blog do Augusto Nunes 

Quando Lula agarra um microfone, os plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na embaixada portuguesa, a regência verbal se esconde no sótão de um casarão abandonado, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina (sem gelo) e os dicionários se apavoram com a iminência de outra selvagem sessão de tortura. 

Já no primeiro parágrafo, os brasileiros que não tratam o idioma a socos e pontapés ficam pálidos de espanto ou vermelhos de vergonha. Menos os devotos da seita lulopetista. 

“Quando Lula fala, o mundo se ilumina”, jura há quase 10 anos Marilena Chauí, professora da USP que também jura ser filósofa. A descoberta resumida numa frase explica o lugar reservado à companheira no “Encontro com Intelectuais sul-americanos”, promovido na segunda-feira passada pelo Instituto Lula. 

Os presentes, como informa a inscrição no painel, são Intelectuais, com I maiúsculo. E participam não de um “encontro de”, mas de um “Encontro com”. Com Lula, naturalmente. 

O ex-presidente avisou no começo da discurseira que estava ali para ouvir. Só parou de falar quando a garganta implorou por descanso. 

Gastou alguns minutos louvando a integração dos Intelectuais da América do Sul. O tempo restante foi reservado ao que efetivamente interessa a um palanqueiro permanentemente em campanha há quase 40 anos.

Primeiro, Lula comunicou que está aprendendo a ser ex-presidente. Depois, ensinou que “é necessário tomar cuidado para fazer política sem parecer que quer continuar no cargo de mandatário”. 

Em seguida, avisou que continuará a fazer exatamente o contrário. “Lula vai cuidar pessoalmente das articulações com a base de Dilma para tentar garantir apoio à reeleição da presidente”, contou o companheiro Paulo Vanucchi aos jornalistas proibidos de testemunhar a aula de incoerência. 

Segundo o diretor do Instituto Lula, o chefe “vai gastar toda a energia para a manutenção da aliança entre PT, PMDB e PSB”. 

Ou seja: para assegurar a permanência de Dilma Rousseff no poder, Lula resolveu reduzir-lhe os poderes e nomear-se co-presidente.

Erro de alvo: Racha do MST ligado ao PSOL invadiu Instituto Lula

“Interesse partidário está à frente da invasão do Instituto Lula”, disse Igor Felippe, assessor de comunicação do MST; “Nosso movimento não está apoiando essa ação, que consideramos ineficaz. Lula não tem nada a ver com isso”; invasão é reivindicada por militantes ligados à entidade Intersindical, alinhada com o PSOL; partido nasceu de dissidência do PT; ação evidencia divisão entre líderes dos Sem Terra. 

Não é o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) a entidade que promoveu a ocupação, na manhã da quarta-feira 23, do Instituto Lula, em São Paulo. A responsabilidade política da ação é de outro grupo organizado, que se reúne em torno da Intersindical, entidade que aglutina sindicatos que já fizeram parte da CUT (Central Única dos Trabalhadores). A Intersindical guarda proximidade política com o PSOL, partido nascido, por sua vez, de uma dissidência do PT e de outras organizações da esquerda brasileira. 

A tomada do Instituto Lula pela Intersindical evidencia uma forte divisão no comando político dos sem terra. A antiga hegemonia do MST vai sendo fustigada pelas organizações ligadas à Intersindical. A orientação política, ali, é muito mais alinhada ao PSOL do que ao PT. 

“Não queremos julgar essa atitude de invasão do Instituto Lula, mas a consideramos inócua, ineficaz”, afirmou  o assessor de comunicação do MST, Igor Felippe. “Lula não está no poder, não é mais presidente. O problema não está com ele, nem ele pode resolvê-lo”, sublinhou. 

A invasão do Instituto Lula tem como objetivo declarado fazer com que o ex-presidente faça gestões junto ao governo federal para a feitura de um decreto de desapropriação de uma área de 104 hectares em Americana, no interior de São Paulo. Ali, desde 2006, numa ação ocorrida durante o primeiro governo Lula, um grupo de 70 famílias montou um assentamento que, atualmente, já produz alimentos para a rede escolar da região. Proprietária legal da terra, a família Abdala conseguiu uma decisão judicial pela desocupação do local, o qe poderá ocorrer por força policial a partir do dia 30. 

“O responsável pela situação de desespero daquelas famílias é o Poder Judiciário, e não o Lula”, ressaltou o porta-voz do MST. Igor Felippe explicou que foi feita uma assembleia dentro do assentamento de Americana, na qual os militante do MST foram contra a proposta lançada pelo sem terra ligados à Intersindical de invadir o Instituto Lula. Essa posição, no entanto, foi executada na manhã de hoje. 

Ouvido, o advogado Vandré Paladino, que acompanha os invasores, efetivamente não falou em nome do MST, mas apenas como profissional ligado a famílias do assentamento Milton Santos, de Americana. “Nossa intenção é mesmo criar um problema, porque só assim poderemos obter uma solução”, afirmou ele. Igualmente não fazem parte do MST os sem terra que estão acorrentados e em greve de fome diante do escritório da Presidência da República em São Paulo. O MST nega igualmente estar presente na invasão em curso do terreno, no centro de São Paulo, destinado à construção do Memorial Lula. 

Abaixo, nota oficial do MST sobre a invasão do Instituto Lula: MST não participa de protesto no Instituto Lula 23 de janeiro de 2013.

A assessoria de imprensa do MST esclarece que não participa de protesto na sede do Instituto Lula, em São Paulo, na manhã desta quarta-feira (23/1). 

Os protestos organizado pelo MST têm como orientação geral denunciar os verdadeiros inimigos da reforma agrária, como o agronegócio, o latifúndio, o Poder Judiciário e a imprensa burguesa e pressionar os órgãos de Estado para que façam a Reforma Agrária. 

O MST tem feito uma grande campanha em defesa das famílias do assentamento Milton Santos, que está ameaçado de despejo por decisão de um juiz do Tribunal Regional Federal. 

O Movimento tem pressionado o governo federal e acompanhado o trabalho do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da Advocacia Geral da União (AGU) para comprovar a posse da área e impedir o despejo. 

O Incra tem responsabilidade com as famílias do assentamento e deve encontrar uma saída para impedir o despejo. 

O presidente do Incra, Carlos Guedes, fará uma audiência com o MST nesta quinta-feira, às 17h, para informar as iniciativas do órgão para resolver a situação das famílias.