quinta-feira, 17 de abril de 2014

Proibição de doação de empresas a campanhas: acinte e estupidez!

Se há coisa que não é solitária no Brasil é a estupidez. O relatório do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que proíbe doação de empresas privadas a campanhas eleitorais, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (leia post anterior). Também no Supremo, por enquanto ao menos (ministros ainda podem mudar de ideia), já há uma maioria de seis votos contra as doações privadas.

Muito bem! Agora pensem na Petrobras e em Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está preso. Será que ele mantinha o seu esquema na estatal apenas para o enriquecimento pessoal? Não! As anotações de sua agenda evidenciam que se tratava também de um esquema para alimentar partidos. Será que é diferente nas outras estatais sujeitas a nomeações políticas?

Que sentido faz proibir as doações legais quando o problema está nos mecanismos existentes para as doações ilegais? É um acinte e uma estupidez que uma tese como essa prospere no Supremo e na CCJ do Senado quando vem a público parte das entranhas da Petrobras.

Ah, claro! O PT dá início em maio à sua campanha em favor da reforma política. Um dos pilares é justamente a proibição de doações privadas. Campanhas eleitorais seriam financiadas, na lei ao menos, apenas por um fundo público, tese que hoje beneficiaria o partido. O que impedirá, no entanto, que as estatais continuem a ser plataformas de financiamento ilegal de campanha? Nada! A tese hoje majoritária no Supremo e na CCJ do Senado tem o condão de aumentar a roubalheira. 

Por Reinaldo Azevedo

No governo do PT, segurança pública da Bahia entrou em colapso

A Polícia Militar da Bahia entrou em greve na noite de terça-feira. Imediatamente, o caos se espalhou por Salvador e outras cidades, com saques, assaltos, arrastões. E, como está virando já um hábito, foi preciso apelar às Forças Armadas. No ano da demonização dos militares, campanha inequivocamente comandada pelos petistas, foi preciso apelar aos soldados para manter a ordem mínima que o “civilismo” do petista Jaques Wagner não consegue garantir ao povo baiano. E deixo claro: não apoio greve de gente armada. Aliás, sou contra greve de servidores públicos, não importa o setor. Isso não impede que se pense o desastre a que o governo petista conduziu a segurança pública na Bahia. Já volto ao ponto..

O busílis é o seguinte: em setembro, os incivilizados do MST resolveram invadir a secretaria, partiram pra porrada mesmo. O secretário, então, sacou a arma e atirou. Dentro do prédio! Fosse um governo, como dizem as esquerdas, “reacionário, conservador e de direita”, a imagem teria circulado freneticamente na rede. Em 2007, o tucano José Serra fez uma visita ao Gate, da Polícia Militar. Era uma homenagem em razão de uma operação antissequestro bem-sucedida. De brincadeira, pegou um fuzil e fez de conta que estava mirando um alvo. O PT, acreditem, em nota oficial, repudiou essa “grave atitude” do então governador. Segundo os valentes, a imagem incentivava a violência. A imprensa e os colunistas petistófilos fizeram a festa. Vocês sabem como a hipocrisia custa barato a esse partido e a essa gente. Com a foto acima, nada aconteceu. E, no entanto, ela é um emblema do desastre que é a área de segurança pública no governo do companheiro Jaques Wagner. Que se note: o MST, repelido a bala, tem uma secretaria no governo da Bahia e já foi farta e literalmente alimentado pelo próprio governo quando invadiu a secretaria de Agricultura do Estado: era tanta carne que os invasores improvisaram um varal para secá-la ao sol. O conjunto da obra parece governo, mas é só uma bagunça.

Escreveu o poeta baiano Gregório de Matos no século 17: “À Bahia aconteceu/ O que a um doente acontece:/ Cai na cama, e o mal cresce”. É isto: a Bahia caiu de cama quando Wagner venceu a eleição, em 2006 — reeleito em 2010. E, de lá para cá, o mal só lhe tem crescido. Vencerá de novo? Não sei. A democracia pode não ser o melhor remédio, mas é o único aceitável. E tem, obviamente, um custo.

Em nenhum outro estado do país o desastre na segurança pública é tão evidente como na Bahia, pouco importa o índice que se queira analisar. Com mais de 42 milhões de habitantes, São Paulo registrou 5.180 mortes violentas (latrocínios, homicídios e lesão seguida de morte) em 2012, segundo o Anuário da Segurança Pública com dados de 2012. Com pouco mais de 15 milhões, houve 5.764 ocorrências na Bahia. Assim, a taxa por 100 mil habitantes no Estado governado por Wagner situa-se entre as maiores do país: 40,7 por 100 mil, contra 12,4 de São Paulo.

“Por que falar da Bahia? Só para pegar no pé do PT?” Não! Só para ser óbvio. Os petistas prometeram, na disputa eleitoral de 2010, dar uma resposta eficaz à segurança pública. Dilma, reitero, anunciou uma revolução na área. Wagner governa o estado, diz, em parceria com o governo federal e PRATICAMENTE SEM OPOSIÇÃO. A Bahia é um estado rico, mas que concentra um grande número de pobres; tem à sua disposição tudo o que pode oferecer a modernidade, mas também bolsões de atraso. É uma boa síntese do Brasil. Ali os petistas poderiam demonstrar a sua expertise na área. Em vez disso, nos sete anos de governo do partido, a violência explodiu.

Esses números não são produzidos por acaso. Embora tenha um dos maiores índices de homicídios do país, a Bahia é o segundo estado que menos prende bandido — só perde para o Maranhão da família Sarney, onde há muito bandido solto. A taxa de encarceramento de pessoas maiores de 18 anos na Bahia é de 134 por 100 mil habitantes. Só para comparar: a de São Paulo é de 633. Sim, números, nesse caso, são argumentos fortíssimos.

Quando se consideram, então, os dados de um outro levantamento, do Mapa da Violência, a gente se dá conta da tragédia baiana. No ano 2000, o estado tinha, vejam tabela abaixo, 9,4 motos por 100 mil habitantes; em 2010, já eram 37,7. Quando Wagner assumiu, era de 23,5. Em 2010, já tinha havido um crescimento de 60%. Em 2012, segundo o outro levantamento, o anuário, a taxa de mortes violentas passou de 40 por 100 mil, muito acima até da já escandalosa média brasileira, que é de mais ou menos 26. Só para comparar: Na Alemanha, é de 0,8. No Chile, 3,2. Mata-se no Brasil 31,5 vezes mais do que no primeiro país e sete vezes mais do que no segundo.

Segundo Wagner, a greve tem uma “motivação política”. Huuummm, entendi. Ele deveria dar nome aos bois. Os petistas entendem disso. Eles não gostam de um monte de coisas neste blog. E eu compreendo os seus motivos. Mas detestam mesmo é a minha memória.

Encerro

Como a gente nota, quando a greve atrapalha a gestão petista, é tudo tramoia política. Se é contra adversários, aí se trata apenas de “apoiar companheiros”.

A Bahia vai votar em 2014. Vota, Bahia, vota!

Para encerrar: na campanha de 2010, Dilma prometeu espalhar o modelo de segurança pública do Rio país afora. Parte do Rio, na prática, está sob necessária intervenção das Forças Armadas. Outra referência de competência na área é a Bahia, que também teve de se render aos soldados. Que coisa, né? Em certo sentido, o petismo é o caminho mais curto entre a política e os quartéis. Não é ideologia, não. É só incompetência mesmo.


Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 15 de abril de 2014

SBT cede à patrulha e corta as opiniões de Sheherazade. Na TV aberta brasileira, pode mostrar o traseiro e o bilau; pode transformar o vocabulário numa latrina; só não pode dar uma opinião contrária às da milícias do PSOL, do PCdoB, do PT e dos autoritários e imbecis de maneira geral

O SBT cedeu à pressão, ao alarido e à gritaria dos censores em tempos democráticos e decidiu proibir os comentários da jornalista Rachel Sheherazade. Os autoritários, os imbecis e os esquerdopatas estão felizes. São, ademais, mentirosos porque fingem uma indignação que não têm para alimentar os preconceitos que têm. Na origem da polêmica, está um comentário que Sheherazade fez no ar quando um jovem assaltante foi detido por moradores e atado a um poste. Já escrevi um post a respeito no dia 10 de fevereiro. Embora eu não endosse o comentário da jornalista, É UMA MENTIRA ESCANDALOSA QUE ELA TENHA APOIADO AQUELE TIPO DE TRATAMENTO.

Ela disse outra coisa. Afirmou que, numa sociedade em que o estado é omisso e em que a violência se dissemina, é “compreensível” aquela atuação da população. Dias depois, diga-se, o rapaz foi detido novamente por suas vítimas habituais. Para não apanhar, começou a gritar: “Eu sou o do poste. Sabe com quem está falando”. Ele sabia que os cretinos deslumbrados o tinham tornado uma celebridade.

Certamente haverá um bando de tontos, inclusive no meio jornalístico, aplaudindo a decisão, sem se dar conta de que está botando a própria cabeça na guilhotina. É mentira que Sheherazade esteja sendo punida por aquela opinião. Ela está sendo calada porque não emite, na TV, ponto de vista consideradas consensuais; porque não lustra os preconceitos politicamente corretos que tomam conta da TV aberta; porque não segue, enfim, a manada.

Vocês já se deram conta do vocabulário que se tornou usual nas TVs brasileiras — sem exceção — a partir das 21h? Temas de relativa complexidade moral — de dilemas éticos à questão da sexualidade — são levados em cena aberta, e é certo que há crianças do outro lado da tela, não é? Ah, mas em matéria se sexualidade, de formação familiar, de consumo de drogas, de desassombro vocabular, mesmo quando, reitero, há crianças envolvidas inclusive nas cenas, aí somos todos libertários; aí ninguém quer correr o risco de parecer reacionário; aí a mãe pode levar o filho para o ambiente em que mantém flertes lésbicos. Afinal, o que é que tem? Lesbianismo é comum.

E não serei eu aqui a dizer que seja incomum, não é? Não estou defendendo censura nenhuma, antes que algum bobalhão leia que o que não está escrito. Eu já disse que não brigo com TVs, com programas de humor na Internet, com nada disso. Defendo apenas que se desligue a TV e que não se veja o tal programa. E pronto!  Mas sigamos. Aprendi, dada a educação moral e cívica ora em  vigência, que um gay esmagado pelo pai pode sequestrar e jogar uma criança no lixo, tentar matar uma pessoa, financiar o sequestro dessa mesma criança; chantagear, extorquir, fazer o diabo. Se ele descobrir o amor verdadeiro e se isso significar a adesão da maior emissora do país a uma causa “progressista”, tudo vale a pena. O bandido merece perdão. Já a bandida heterossexual morre eletrocutada numa cerca para deixar de ser safada. O pai homofóbico termina seus dias babando e dependendo daquele a quem tanto hostilizou. Quem mandou ser tão malvado e, em certa medida, literalmente cego de heterossexualismo e machismo? E não duvido que muitas mulheres tenham achado “liiinda” a novela misógina. O Brasil está ficando burro.

Essa mesma televisão, no entanto, não pode comportar as opiniões de Rachel Sheherazade. Quais opiniões? Aquela de que é “compreensível” que a população se revolte e decida fazer justiça. Não! Ninguém nem está ligado pra isso. O problema são as outras opiniões que ela tem. Se há manifestantes violentos nas ruas, em vez de ela verter a baba adesista, tão comum hoje em dia, ela critica; se bandidos cometem atrocidades, em vez de ela se compadecer com a suposta origem social da violência — uma mentira! —, ela pede cadeia; se há invasão de propriedade privada, em vez de ela se solidarizar com invasores, deixa claro que aquele não é o caminho.

Isso não pode! Sheherazade poderia estar emitindo opiniões com esse conteúdo em qualquer democracia do mundo. Não na nossa! Na nossa democracia, todos têm de estar alinhados com os cânones do pensamento politicamente correto. Ou não pode trabalhar. Vejam os debates sobre os 50 anos do golpe militar de 1964. Eu falei “debates”? Uma ova! Não houve! Ao contrário: sob o pretexto de que todos defendemos a democracia, o que se viu nas TVs foi um espetáculo de mistificação. Mais um pouco, João Goulart só não foi chamado de competente…

PCdoB e PSOL

PCdoB e PSOL resolveram recorrer ao Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça da jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que defendem a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que defendem regimes que prendem pessoas por delitos de opinião? Que se alinham com as milícias bolivarianas?

Quem vai dar aula de tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali? O partido que, até outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com ONGs de mentirinha para enfiar a mão do dinheiro público? Que ainda não perdoou Krushev? Nem chego a considerar a tal Jandira um ser da nossa era! Espero que ela não tente me calar também!

Muito bem! Agora Sheherazade não vai mais emitir opiniões. O Brasil ficou melhor por isso? Teremos, agora, mais liberdade de expressão? A verba publicitária oficial pode ser usada por veículos de comunicação que defendem abertamente a roubalheira havida na Petrobras, mas não poderia ir para o SBT porque havia lá uma jornalista que dizia coisas incômodas. Considerando o padrão da TV aberta brasileira, Sheherazade é que virou um problema? Mostrar o traseiro e o bilau em reality show pode, mas afirmar que a população, sem estado, acaba fazendo justiça com as próprias mãos é proibido? Engraçado! Na democracia americana, a bunda e o bilau na TV abertas seriam proibidos, mas a opinião política é livre. Vai ver é por isso que os EUA são os EUA, e o Brasil é o Brasil. Na novelas das nove, se podem defender a descriminação das drogas e o aborto — hoje considerado crimes pela legislação brasileira — e da pior forma possível: no modelo merchandising ideológico, de forma mais ou menos sorrateira. Mas ai de um jornalista que emita uma opinião que ofenda as polícias do pensamento!

Sobre a violência

No primeiro texto que escrevi sobe o caso, tratei da questão da violência. Não se trata de saber se direitos humanos devem existir também para bandidos. Os direitos humanos, vejam que coisa!, humanos são — e deles ninguém se exclui ou pode ser excluído. Ponto final. A questão é de outra natureza: cumpre tentar entender por que esses prosélitos mixurucas, esses propagandistas vulgares, jamais se ocupam da guerra civil que está em curso no Brasil há décadas. Então os mais de 50 mil que morrem por ano no país não merecem a sua atenção?

Sei que pode parecer estranho a esses oportunistas, mas Sheherazade não amarrou ninguém. A violência que a gente vê é só um pouco da violência que a gente não vê. Os linchamentos se espalham Brasil afora. Os mais de 50 mil homicídios a cada ano no país é que mereciam uma “Comissão da Verdade”. Por que os que agora pedem a cabeça de uma apresentadora de TV jamais se ocuparam das 137 pessoas (média) que são assassinadas todos os dias no Brasil?

Os imbecis tentarão ler no meu texto o que nele não está escrito. Dou uma banana para os tolos. Quanto mais eles recorrem à tática da desqualificação, mais leitores vão chegando — e, agora, mais ouvintes também. Não dou a mínima. Não me deixo patrulhar. Sim, eu acho que os que prenderam aquele rapaz pelo pescoço têm de ser punidos. Eu acho que os que recorrem a linchamentos também têm de arcar com as consequências.

Mas acho igualmente que essa gente que decide resolver por conta própria — que também é pobre de tão preta e preta de tão pobre — merece ter estado, merece ter segurança, merece ter proteção. Se sucessivos governos se mostram incapazes de dar uma resposta — por mais que eu deteste, por mais que eu ache que o caminho errado, por mais que eu tenha a certeza de que a situação só vai piorar —, as pessoas farão alguma coisa.

Parece-me que foi esse o sentido que Sheherazade deu à palavra “compreensível” — o que não implica necessariamente um endosso. Os historiadores já se debruçaram sobre os fatores que tornaram “compreensível” a eclosão dos vários fascismos na Europa do século passado ou da revolução bolchevique na Rússia. Compreender um fenômeno não quer dizer condescender com ele. Eu, por exemplo, penso que é compreensível que o PT tenha chegado ao poder, entenderam?

Ainda que, reitero, avalie que o comentário foi, sim, desastrado. Mas tentar linchar Sheherazade moralmente, aí já é um pouco demais! Estranha essa gente: defende o direito de defesa para os bandidos mais asquerosos — e nem poderia ser diferente —, mas pede a execução sumária de alguém por ter emitido uma opinião infeliz.

E por quê?

E por que se silencia de maneira sistemática, contumaz, cínica, sobre a guerra civil brasileira? Num artigo da Folha, sintetizei a razão (em azul):

E por que esse silêncio? É que os fatos sepultaram as teses “progressistas” sobre a violência. A falácia de que a pobreza induz o crime é preconceito de classe fantasiado de generosidade humanista. A “intelligentsia” acha que pobre é incapaz de fazer escolhas morais sem o concurso de sua mística redentora. Diminuiu a desigualdade nos últimos anos, e a criminalidade explodiu. O crescimento econômico do Nordeste foi superior ao do Brasil, e a violência assumiu dimensões estupefacientes.

Os Estados da Região estão entre os que mais matam por 100 mil habitantes: Alagoas: 61,8; Ceará: 42,5; Bahia: 40,7, para citar alguns. Comparem: a taxa de “CVLI” de São Paulo, a segunda menor do país, é de 12,4 (descarta-se a primeira porque inconfiável). Se a nacional correspondesse à paulista, salvar-se-iam por ano 26.027 vidas.

Com 22% da população, São Paulo concentra 36% (195.695) dos presos do país (549.786), ou 633,1 por 100 mil. A taxa de “CVLI” do Rio é quase o dobro (24,5) da paulista, mas a de presos é inferior à metade (281,5). A Bahia tem a maior desproporção entre mortos por 100 mil e (40,7) e encarcerados: 134. Estudo quantitativo do Ipea (aqui) evidencia que “prender mais bandidos e colocar mais policiais na rua são políticas públicas que funcionam na redução da taxa de homicídios”.

Isso afronta a estupidez politicamente correta e cruel. Em 2013, o governo federal investiu em presídios 34,2% menos do que no ano anterior — caiu de R$ 361,9 milhões para R$ 238 milhões. Para mais mortos, menos investimento. Os progressistas meio de esquerda são eles. Este colunista é só um reacionário da aritmética. Eles fazem Pedrinhas. Alguém tem de dar as pedradas.

Retomo

Boa parte dos que estão vociferando não está nem aí para os pobres, os humilhados etc. Esses coitados servem apenas de pretexto para aquela turma perseguir os de sempre. Não fosse assim, esses bacanas estariam mobilizados, cobrando uma ação do estado brasileiro para pôr fim ao Açougue Brasil, especializado em carne humana.

Bando de censores babacas e autoritários! Ah, sim: o SBT não proibiu apenas Sheherazade de omitir opiniões. A regra vale agora para todos os profissionais de imprensa da casa. Vai ver o Sindicato dos Jornalistas do Rio, que também havia se insurgido contra ela, está feliz. Agora, sim, é que ficou bom, certo? Claro, claro! Sempre haverá um daqueles para dizer que isso só acontece porque se trata de um meio de comunicação da burguesia. O semovente não tem dúvida de que Sheherazade deve ser censurada, mas que a opinião deve ser livre para os que emitem as opiniões “corretas”…


Por Reinaldo Azevedo

As mentiras do discurso de Dilma sobre a Petrobras. Ou: Governante tem o direito de mentir?

Governantes têm o direito de mentir? A resposta é “não”. Nem que seja sob o pretexto de “salvar a nação”. Na vida pública, não existe mentira virtuosa. Quando muito, pode existir a omissão prudente. Dou um exemplo: se o ministro Guido Mantega vislumbrar pela frente uma escalada inflacionária, se indagado a respeito, ele não tem de confirmar nem de se estender a respeito, ou haverá o efeito óbvio: como a economia se move, em parte, por expectativas, ele poderia piorar a situação se dissesse a verdade. Poderia, no discurso, omitir esse vislumbre para não piorar o que já seria ruim. Mas é certo que não poderia afirmar o contrário dos fatos. A mentira, na vida pública, é trapaça contra o interesse coletivo.

Nesta segunda, a presidente Dilma participou da inauguração de navios petroleiros no porto de Suape, em Pernambuco, terra de um de seus futuros adversários na disputa presidencial, Eduardo Campos. E resolveu deitar falação sobre a Petrobras, segundo leio na Folha. Afirmou: “Não hesitarei em combater o malfeito, a ação criminosa, corrupção ou ilícito de qualquer espécie. Mas também não ouvirei calada a campanha negativa, por proveito político, em ferir a imagem dessa empresa que o povo construiu com suor e lágrimas”.

Há duas verdades aí e duas mentiras. Primeira verdade: a Petrobras está eivada de malfeitos, ações criminosas, corrupções e ilícitos. Segunda verdade: a empresa foi construída com o suor e lágrimas dos brasileiros. Ainda que Dilma esteja plagiando Churchill, isso é verdade. Primeira mentira: a presidente hesitou, sim, em defender a Petrobras, tanto que deixou de apurar a compra da refinaria de Pasadena e ainda deu emprego para o executivo que, segundo ela própria, foi o responsável pela operação. Segunda mentira, não existe campanha nenhuma contra a empresa. Campanha contra a Petrobras fazem os larápios que lá estão incrustados.

Mas Dilma foi mais longe na impostura. Disse ainda: “Desde o início da empresa, teve gente sendo contra, dizendo que não havia petróleo no Brasil. Depois, mudaram o discurso, e chegaram a dizer que havia petróleo demais para ser controlado por uma empresa pública. Era uma forma sorrateira que prepararam para a Petrobras parar em mãos privadas. Foi um processo tão requintado, que foi interrompido pela pressão externa, que chegaram a fazer a troca do nome da empresa. Queriam chamar ela de ‘Petrobrax’, sonegando a sílaba que é nossa identidade. Bras, de Brasil”.

É a mentira mais escandalosa de todas. Desafio Dilma e o PT a apresentar uma miserável evidência de que se tentou privatizar a Petrobras. Privatizada ela está hoje: transformou-se numa soma de feudos, distribuídos entre partidos políticos: PT, PP, PMDB, PTB… Eles vão usando a estatal para cuidar de seus próprios interesses. Em sua fala, Dilma sugeriu que as sem-vergonhices na estatal são ações isoladas, coisas deste ou daquele. Mentira também! O PT está afundando a Petrobras porque usa a estatal para distribuir prebendas políticas e para manter unidos os partidos da base aliada.

Venham cá: por que vocês acham que um partido político quer tanto ter direções de áreas técnicas de estatais? Como é que isso poderia ajudar a legenda? A resposta é simples: essa diretoria, fatalmente, terá de comprar coisas, de construir obras, de contratar serviços e consultorias. O dinheiro sai da corretagem.

Privatizada, no sentido mais vagabundo da palavra, que é o único que o PT conhece — já que execra o virtuoso —, a Petrobras está hoje. Ela precisa voltar a ser uma empresa pública.


Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 14 de abril de 2014

André Vargas puxou a faca, e os petistas graúdos saíram correndo. Quem tem Vargas tem medo! Na mira, Padilha, Gleisi e Bernardo

Afirmei aqui na sexta-feira que o deputado André Vargas (PT-PR) andou dizendo coisas desagradáveis a seus companheiros. Não aceita ser enxotado do partido e promete reagir. Pelo visto, o PT entendeu o recado. A disposição de puni-lo até com a expulsão se transformou numa comissão para ouvir os seus motivos.

Segundo reportagem de Daniel Pereira e Robson Bonin na VEJA desta semana, os primeiros, digamos, “ameaçados” por Vargas são Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, que vai concorrer ao governo de São Paulo, pelo PT; a senadora Gleisi Hoffmann, que deve disputar o governo do Paraná pelo partido, e seu marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Vargas estaria insinuando a “companheiros” que Paulo Bernardo é beneficiário de propinoduto da Petrobras e que seria intermediário de contratos entre o grupo Schahin, que costuma aparecer em escândalos petistas, e a estatal. O ministro teria recebido uma corretagem por isso, devidamente repassada ao “Beto”, que é como Vargas chama o doleiro Alberto Youssef.

Schahin? Lembram-se de Marcos Valério, o operador do mensalão petista? Em depoimento à Polícia Federal, ele afirmou que a construtora simulou no passado uma prestação de serviços para a Petrobras para arrumar dinheiro para os petistas comprarem o silêncio de um empresário que ameaçava envolver Lula e outros membros da cúpula do partido na morte de Celso Daniel.

As insinuações vão além. A senadora Gleisi e seu marido não gostariam ainda de ver expostas as suas relações com a Agência Heads Propagada do Paraná. Seria, na expressão atribuída a Vargas, um “esquema deles”.

Bem, no governo Dilma, a Heads se tornou líder no recebimento de verbas da propaganda oficial. A ascensão foi tão espetacular que chamou a atenção do Tribunal de Contas da União, que decidiu apurar se há algo de errado. Todo mundo, evidentemente, nega tudo. Só uma coisa é inegável: até agora, Vargas não demonstra disposição se ir para o cadafalso em silêncio.

Sem saída

O chato para o petismo é que não há saída virtuosa para essa história. Leiam a reportagem de VEJA, que foi a Indaiatuba conhecer a Labogen, que, acreditem, no papel, pertence a um frentista chamado Esdra Ferreira. Também no papel, ele tem um sócio, o “autônomo” Leonardo Meirelles. Os dois já admitiram para a polícia que, de início, a Labogen era mesmo uma empresa de papel. Mas muito bem-sucedida, claro!!! Sem produzir um comprimido ou um supositório, faturou R$ 79 milhões entre agosto e novembro de 2010. Um portento!

Com a influência de Vargas, os técnicos do Ministério da Saúde, comandado por Padilha, foram vistoriar os equipamentos da Labogen para saber se estava apto a fazer a parceria com a gigante EMS e com Laboratório da Marinha. Equipamentos??? Esdra, o frentista, contou à polícia: o maquinário era sucata comprada em cemitério de peças, revestida de alumínio, “para dar a aparência de novas”. Mesmo assim, a parceria ganhou um sinal verde. Leiam reportagem na edição desta semana.

Vargas, como está dito, puxou a faca. E os petistas tremeram. Mais um pouco, ele também vai virar “guerreiro, herói do povo brasileiro”.

Parece que tanto empenho em tentar impedir a CPI da Petrobras vai um pouco além da “questão política”, não é mesmo?


Por Reinaldo Azevedo