sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Olívio Dutra considera justa a prisão dos mensaleiros

Jimmy Azevedo, Jornal do Comércio

Destoando do discurso de lideranças petistas, intelectuais de esquerda e juristas, o ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (foto abaixo) não acredita que houve cunho político na condenação e na prisão dos correligionários José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares, detidos, na semana passada, pelo escândalo do mensalão durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Funcionou o que deveria funcionar. O STF (Supremo Tribunal Federal) julgou e a Justiça determinou a prisão, cumpra-se a lei”, analisa o ex-presidente estadual e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT).

No entendimento de Olívio Dutra, o desfecho da Ação Penal 470, conhecida popularmente como mensalão, foi uma resposta aos processos de corrupção que, historicamente, permeiam a política nacional, independentemente de partidos

Ação que condenou Genoino a mais 4 anos de prisão — caso BMG — está de volta ao Supremo; Marco Aurélio é o relator; Gilmar Mendes, o revisor

Pois é… Que José Genoino se recupere plenamente! Até para que possa responder à Justiça pelos crimes do mensalão pelos quais já está condenado — por corrupção ativa (4 anos e 8 meses), pena executada, e formação de quadrilha (2 anos e 3 meses), objeto de embargos infringentes. Só que as coisas não param por aí. Lembram-se dos empréstimos fraudulentos do BMG às empresas de Marcos Valério e ao PT? Pois é. Resultaram na Ação Penal 420. Corria no Supremo. Só que José Genoino, único réu que tinha foro especial por prerrogativa de função, deixou de tê-lo. Então o processo foi enviado para a 4ª Vara Federal de Belo Horizonte. Ocorre que ele voltou a ser deputado, e a ação retornou ao Supremo.

ATENÇÃO! NESSE PROCESSO DO BMG, GENOINO FOI CONDENADO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA A QUATRO ANOS DE PRISÃO POR FALSIDADE IDEOLÓGICA. Aliás, esse é o caso em que as digitais de ninguém menos do que Luiz Inácio Lula da Silva aparecem de modo insofismável. O relator dessa ação no Supremo é o ministro Marco Aurélio. O revisor é Gilmar Mendes.

Se a pena for confirmada pelo Supremo, mesmo que Genoino escape da imputação de quadrilha, sua condenação será superior a oito anos — o que rende, em circunstâncias normais, regime fechado.

O caso BMG

- No dia 17 de fevereiro de 2003, o BMG “emprestou” ao PT R$ 2,4 milhões. José Genoino assinou pelo partido.
- No dia 20 de fevereiro, Marcos Valério levou Ricardo Guimarães, presidente do banco, para um encontro como Palácio do Planalto com… José Dirceu.
- Cinco dias depois dessa reunião, o BMG liberou um empréstimo de R$ 12 milhões, desta vez para uma empresa de Valério. O publicitário confessou depois que era dinheiro para pagar a turma indicada por Delúbio — vale dizer: era dinheiro para o PT.
- Entre o “empréstimo” feito diretamente ao partido e aqueles oficialmente concedidos às empresas de Valério, o BMG repassou ao esquema R$ 43,6 milhões.

E tudo isso por quê? Eis o pulo do gato. Ou do sapo barbudo. Reproduzo uma síntese que foi publicada no site Consulor Jurídico, com base nos dados da Ação Penal 420:

Em 2004, cinco dias após o presidente Lula assinar o Decreto 5.180, que abriu a todos os bancos o mercado de crédito consignado a aposentados e pensionistas do INSS, o BMG pediu oficialmente para entrar nesse mercado. Oito dias depois, recebeu autorização do INSS. Outros dez bancos fizeram pedido igual, na mesma época. Todos levaram pelo menos 40 dias para receber a mesma autorização.

Com condições favoráveis, o BMG operou com pouca concorrência num mercado em que a demanda era abundante. Sua carteira de crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS engordou e, três meses depois, o BMG a vendeu à Caixa Econômica Federal por R$ 1 bilhão. O BMG, que já operava com crédito consignado desde 1998, tornou-se um gigante nesse mercado. Fechou o ano de 2004 com lucro de R$ 275 milhões — um crescimento de 205% em relação ao lucro de R$ 90 milhões no ano anterior. No ano seguinte, o lucro foi de R$ 382 milhões.

Àquela altura, o BMG se tornara o 31º banco do país. (Em 2002, antes do governo Lula, o BMG não estava entre as 50 maiores instituições financeiras brasileiras.) No ano passado, o BMG lucrou R$ 583 milhões, comprou outro banco e se tornou o 17º do país em ativos totais. No mês passado, enquanto o Rural se preparava para o julgamento do mensalão no Supremo, o BMG se tornava sócio do Itaú Unibanco, o maior banco da América Latina, cedendo a ele 70% de suas operações no mercado consignado.

Em 2005, após o chamado escândalo do mensalão, o Tribunal de Contas da União examinou a entrada do BMG no mercado de empréstimos consignados do INSS. A Polícia Federal investigou as operações de lavagem de dinheiro do mensalão envolvendo o BMG. O Banco Central analisou a lisura dos empréstimos liberados pelo BMG ao PT e a Marcos Valério. A CPI dos Correios e a Procuradoria-Geral da República centraram-se no nexo entre a concessão desses empréstimos e as vantagens obtidas pelo BMG no crédito consignado do INSS.

De volta a Genoino

Entenda, leitor. O dinheiro do BMG não era bem um empréstimo. Digamos que o banco tinha a grana, o PT tinha seus mensaleiros, e Lula tinha a caneta para autorizar as operações de empréstimos consignados, que permitiram à instituição fazer depois aquele negócio bilionário com a Caixa Econômica Federal.

Aqueles R$ 2,4 milhões que o BMG repassou diretamente ao PT foi tendo o pagamento adiado, adiado, adiado… Genoino e Delúbio passaram a figurar como avalistas e devedores solidários. A Justiça considerou que era outra evidência de fraude porque eles não tinham bens para fazer frente a um eventual calote. A propósito: Delúbio também foi condenado a quatro anos. Se quiser ler a integra da sentença, clique aqui.

Eis todos condenados pela juíza Camila Franco e Silva Velano com base na do Art. 4°, Caput, da Lei 7492/86 (Lei do Colarinho Branco) Ricardo Annes Guimarães, João Batista Abreu, Márcio Alaôr de Araújo e Flávio Guimarães. Foram condenados por falsidade ideológica José Genuíno Neto, Delúbio Soares De Castro, Marcos Valerio Fernandes de Souza, Ramon Hollerbach Cardoso, Cristiano de Mello Paz e Rogério Lanza Tolentino.

Por Reinaldo Azevedo



MP pede fim do privilégio de mensaleiros na Papuda

G1

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) enviou nesta quinta-feira uma recomendação à diretoria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal para que seja seguido o princípio da isonomia no tratamento aos internos e visitantes das unidades prisionais. Apesar de não citar os nomes dos mensaleiros, é uma manifestação direta contra os privilégios que os petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino estão recebendo, com visitas frequentes de amigos, familiares e parlamentares do PT.

A Promotoria lembrou que o horário de visitação do presídio é restrito às quartas e quintas-feiras, das 9h às 15h, além de destacar que os visitantes devem passar por revista, estar com roupa apropriada e deixar aparelhos eletrônicos na entrada. O acesso irrestrito aos parlamentares, fora dos horários estabelecidos, é um entendimento do juiz da Vara de Execuções Penais, que pode ser suspenso a qualquer momento.

Assessor de secretário de Haddad é afastado do cargo

Germano Oliveira e Leonardo Guandeline, O Globo

A Prefeitura de São Paulo afastou nesta quinta-feira o assessor especial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendorismo, Tony Nagy, investigado pela Controladoria Geral do Município (CGM) por suspeita de enriquecimento ilícito. Ele não apresentou à Prefeitura a declaração de patrimônio, segundo o prefeito Fernando Haddad (PT). A exoneração dele do cargo deve ser publicada no Diário Oficial do Município. Nagy, inclusive, doou R$ 140 mil à campanha de Eliseu Gabriel (PSB), titular da pasta e candidato a vereador na época da doação, no ano passado. 

- Na verdade, nós recomendamos o afastamento desse assessor do Eliseu, em função... Ele já estava sendo monitorado pela Controladoria, ele não apresentou a declaração de renda (declaração de patrimônio) tempestivamente. Em função disso ele passou a ser monitorado e havia indícios de problemas com as declarações que ele prestou ao município. Ele não é servidor do município, está em um cargo comissionado, vindo da assessoria da Câmara, e nós recomendamos o afastamento dele.

Governo leiloa aeroportos nesta sexta e aposta em disputa acirrada

Luciana Collet, Wladimir D’Andrade e Antonio Pita, Estadão

Com expectativa de forte concorrência e ágio superior a 350%, o governo federal realiza nesta sexta-feira, 21, o leilão para concessão dos aeroportos de Galeão, no Rio, e Confins, em Belo Horizonte. Os lances mínimos estabelecidos pelo edital prometem ao governo reforçar o caixa em mais de R$ 6 bilhões em março de 2014.

Os consórcios passaram a semana finalizando as estratégias para a disputa, com a expectativa de muito interesse pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão). A disputa acirrada levou o consórcio formado por EcoRodovias, Fraport - operadora do terminal de Frankfurt, na Alemanha - e Invepar, que já opera Guarulhos, a concentrar seus investimentos no aeroporto carioca.

GENOINO – NÃO EXISTE PRINCÍPIO DE INFARTO; ISSO É UMA INVENÇÃO DA TIA DO ADVOGADO DO PETISTA!

Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino, afirma que ele sofreu um princípio de infarto. É mesmo? Torço, podem acreditar nisto, para Genoino se recuperar e fico, então, mais tranquilo. PRINCÍPIO DE INFARTO, LEITOR, NÃO EXISTE. É UMA INVENÇÃO DA SUA TIA, DA TIA DO PACHECO, DOS SEUS VIZINHOS, DO DIZ-QUE-DIZ-QUE. Ou existe o infarto, que infarto é — não um “princípio” —, ou existe outra coisa.

Como pode atestar qualquer médico — não sei o que diriam os cubanos de Dilma —, o infarto é uma obstrução da coronária, que provoca uma necrose no coração. Não existe uma “quase necrose”. A necrose não é como a verdade para o PT, que pode ser e não ser ao mesmo tempo. Genoino teve uma disseção da aorta, que é outra coisa. Podem pesquisar. Podem falar com doutores. O risco de o petista ter um infarto não é maior por isso;  é o mesmo do de qualquer outra pessoa nas suas condições: pressão alta, colesterol elevado e fumante. Segundo o advogado, Genoino passou mal e foi levado para fazer exames no Incor de Brasília.

Já recomendei aqui e volto a fazê-lo: Pacheco precisa tomar um pouco mais de cuidado ao falar com a imprensa. Ele já havia dado a entender que um perito médico recomendara a prisão domiciliar para Genoino. O doutor teve de deixar claro que era mentira. Limitara-se a relatar o estado do paciente. Pacheco esclareceu depois que havia apenas feito uma livre interpretação do laudo médico.

Agora, ele volta com a história do “princípio de infarto”, que, certamente, não lhe foi fornecida por nenhum médico — nem que a médica fosse a tia de Pacheco.

Reitero: Genoino está doente, sim, e sua saúde, sei de fonte certa, inspira cuidados. O que o PT faz, no entanto, com esse fato passa a linha do razoável. E o faz com a concordância do doente. O militante que assinou contratos fraudulentos de empréstimo agora endossa uma pantomima sobre a sua saúde. De novo para os que insistem em não tirar as patinhas dianteiras do chão: ele está doente, sim; o que é deprimente é o uso político que se faz disso. Bem, já vimos que nem o câncer intimida o PT, não é? Tanto o de Lula como o de Dilma foram parar no palanque.

Conforme este blog revelou ontem com exclusividade, Genoino — com a concordância do criativo Pacheco — dispensou o exame médico preventivo do IML na sexta, quando se entregou à Polícia Federal em São Paulo. Se a viagem a Brasília fosse desaconselhável, como se tenta sustentar agora, o exame poderia tê-lo indicado.

Jornalismo é precisão. A imprensa não pode sair por aí noticiando “princípio de infarto”. Daqui a pouco vai se dar a notícia da moça que está quase grávida. Que Deus e a medicina protejam a vida do petista. O que quer que venha a acontecer com ele, à diferença do que sustenta essa gente asquerosa, que transforma tudo em baixa política, não tem nada a ver com a decretação da prisão. Quem escreve é um fumante: o cigarro foi o grande inimigo de Genoino, não Joaquim Barbosa; a alimentação inadequada e a falta de exercício o agrediram muito mais do que a condenação. É hora de pôr um ponto final nessa farsa.


Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Piada pronta

Não lembro de quem é autoria, mas esse país é o “país da piada pronta”.

Na política, existem deputados-presidiários... Presidiários-deputados... Políticos gastam milhões de reais em combustível... Presidência gasta fortunas com cartões corporativos e que são gastos “secretos” (devem esconder o tamanho da calcinha comprada com dinheiro público)...

Ainda, na política, certos partidos querem ser o Partido Único, copiando a “ditadura” militar, que tanto criticaram... Defendem a censura, travestida com nome pomposo: “marco civil”, controle social e outras esquisitices...

Também há toda uma legião de “defensores” do partido único na internet e redes sociais, mas vários desses são pagos com dinheiro público....E o povo, bovinamente, acredita neste teatro encenado...

Na Psicologia, há um sem fim de “piadas prontas”... Um grupo é eleito, se chamando de oposição, mas as pessoas e práticas são as mesmas do grupo criticado...

Ainda, na Psicologia, programas foram criados, tendo um discurso lógico, mas seus resultados foram próximos de zero (a não ser para aqueles que conseguiram cargo público devido a isto)... E o psicólogo pagando a conta... Resoluções são editadas, vetando o exercício profissional, mas, tudo bem... Bovinamente os psicólogos ficam olhando e pagando...

No direito, a entidade de classe sai em defesa dos mensaleiros, por pura birra pessoal.... As leis que se danem, o que interessa é "o meu direito e pronto"!

A piada pronta sempre existiu e vai continuar existindo, enquanto não se mudarem as práticas; enquanto a disputa pelo “poder” e pelo “dinheiro” associado a este for visada em benefício próprio ou de um partido, a piada pronta estará sempre presente.


Ou você acha que, quem está lá, mamando nas tetas do Estado, quer abandonar suas benesses em prol de “desejos sociais”? Só se for no discurso... 

Aliás, creio que deveria ser criado um concurso mundial de “oratória” e “o mais belo discurso planetário”. Creio que o Brasil jamais perderia a primeira posição!

Mesmo com proibição de visitas, 26 deputados entraram na Papuda ontem

André de Souza e Cristiane Jungblut, O Globo

Um grupo de 26 deputados do PT (foto abaixo) visitou na tarde desta quarta-feira quatro condenados no processo do mensalão: o ex-ministro da Casa Civil, o deputado José Genoino, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-deputado Romeu Queiroz, todos cumprindo pena em regime semiaberto no Complexo da Papuda, em Brasília. A visita aconteceu mesmo após a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal proibir os mensaleiros de receberem visitas hoje. Segundo o órgão, os condenados do mensalão que já receberam visita no Complexo Penitenciário da Papuda não poderão encontrar familiares e amigos hoje.

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, também visitou o presídio hoje. Segundo nota divulgada pelo governo distrital, ele esteve pela manhã na Papuda. O objetivo da visita foi “humanitário”, para averiguar as instalações e acomodações oferecidas aos mensaleiros e ele também teria “verificado pessoalmente” o estado de saúde de Genoino. No começo da tarde, a assessoria de imprensa do governo do DF negou que Agnelo tivesse ido à Papuda.

Assessor investigado fez doação de R$ 140 mil a secretário de Haddad

Por José Ernesto Credendio, Mario Cesar Carvalho e Rogério Pagnan, na Folha:

A Controladoria Geral do Município investiga um assessor especial da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da gestão Fernando Haddad (PT) por suspeita de enriquecimento ilícito e de manter relações com a máfia do ISS (Imposto Sobre Serviços). O titular da secretaria é Eliseu Gabriel, vereador licenciado pelo PSB. O assessor especial, Tony Nagy, doou R$ 140 mil para a campanha a vereador de Gabriel no ano passado, quando era assistente parlamentar dele na Câmara. Desse montante, R$ 110 mil foram doados em dinheiro.

Gabriel diz não saber quanto ele ganhava no ano passado. Mas cargo similar ao que ele ocupava recebia cerca de R$ 2.000 líquidos por mês –ou seja, seria preciso cinco anos e oito meses sem gastar um centavo para fazer uma doação de R$ 140 mil. Só para se ter uma ideia do porte da doação de Nagy, o Itaú-Unibanco, o segundo maior banco do país, contribuiu com R$ 30 mil na campanha de Gabriel, que consumiu um total de R$ 1 milhão.


A lei prevê que uma pessoa física pode doar no máximo 10% dos seus rendimentos brutos no ano anterior à eleição. Por essa regra, Nagy teria de ter ganhos brutos de R$ 1,4 milhão em 2011. Atualmente, Nagy recebe um salário bruto de R$ 4.852, mora numa cobertura avaliada em R$ 1,5 milhão na Vila Romana (zona oeste) e, eventualmente vai trabalhar com um carro novo da BMW, segundo funcionários da secretaria ouvidos pela Folha. Ele foi procurado desde anteontem pela reportagem, mas não foi localizado.
(…)

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Dura realidade, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo

Nada mais peculiar às elites privilegiadas do que este escândalo que parentes e apoiadores petistas da trinca de líderes condenados do mensalão fazem diante da dura realidade de suas prisões.

Tudo indica que não acreditavam que o desfecho ocorresse um dia, confiantes nas manobras protelatórias que sempre deram certo para os ricos e poderosos escaparem do cumprimento das penas atrás das grades.

Como sempre, a elite encontra caminhos especiais, que existem só para elas, para amenizar seus pesares. Fingir-se de preso político é uma maneira de escamotear a verdade, continuar vivendo uma fantasia que há muito já foi rasgada nos duros embates da realidade política.

Nem o PT é um partido revolucionário, nem seus líderes estão atrás das grades por questões políticas. Se fossem realmente presos políticos, quais seriam seus algozes no governo que dirigem há 11 anos? Seriam dissidentes políticos acusados injustamente pelo grupo momentaneamente no poder, como ocorre muitas vezes na China ou em Cuba?

Lula e Dilma estariam então por trás das transgressões de que acusam o Supremo Tribunal Federal durante o julgamento e agora, na fase das execuções penais. É verdade que a presidente evita falar em público sobre o caso, para não se contaminar eleitoralmente, mas isso não chega a ser prova de que gostaria de ver seus “companheiros” atrás das grades.

E Lula, que promete sempre revelar verdades desconhecidas sobre o mensalão, e essa hora nunca chega? “Estamos juntos”, disse ele a Dirceu, numa solidariedade que exagera na retórica, deixando margem a que se considere que ele se sente metaforicamente preso, mas continua tomando banho quente.

As insanidades autoritários numa nota do PT: contra o Judiciário, contra a imprensa, contra alternância de poder. E a favor de criminosos, é claro!

O Diretório Nacional do PT divulgou uma “nota de conjuntura” nesta segunda. A íntegra está aqui. Destaco abaixo alguns trechos em vermelho e comento em azul. Muito impressionante! O partido deixa claro o seu desprezo pelo Judiciário, acusa o STF de agir por interesses partidários, volta a mirar numa tal “mídia conservadora” e prega uma reforma política que privilegiaria o próprio partido.

(…)

É nosso papel combater o discurso e as falácias da oposição a respeito da economia, da política econômica e da ação governamental, sem deixar de manifestar nossa rejeição a propostas como a da independência do Banco Central, rapidamente descartada pela presidenta. Da mesma maneira, é preciso não baixar a guarda com relação às taxas de juros, bem como a obsessão por superávits primários que sacrifiquem as políticas de distribuição de renda e geração de empregos.

Não adianta! Eles não reconhecem o regime democrático e ponto! Como se nota, para os valentes, as oposições não constituem entes típicos do regime democrático. Ora, é claro que o papel do PT é dizer que estão erradas. Mas reparem que o que vai acima é outra coisa: elas seriam portadores de “falácias”. Se é assim, expressam um ponto de vista obviamente ilegítimo. É a velha tara comuno-fascista, segundo a qual quem discorda, na verdade, sabota. Se é assim, o adversário tem de ser eliminado, não vencido.


Vale tudo para tentar barrar a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Esta tem sido a estratégia e a palavra de ordem da oposição. Seja a do bloco formado pelo PSDB, DEM, PPS e conexos, seja a recente articulação pretensamente de terceira via, encabeçada pela maioria do PSB. Contam a seu favor neste momento com a ação orquestrada da mídia monopolizada, bem como a simpatia de setores do grande capital, de altos funcionários do aparelho Judicial e do Ministério Público.

Os petistas criminalizam a oposição, acusando-as, que escândalo!, de tentar tomar o lugar de Dilma. Que crime! Antes, essa mesma oposição queria o lugar de Lula!!! É inaceitável que ainda existam partidos políticos que tenham a ousadia de disputar a Presidência da República, que, como é sabido, cabe ao PT por direito divino. Destaque-se: o PSB, agora, já virou inimigo e é apenas uma “pretensa terceira via”.

Parte significativa do esforço da oposição política, partidária, midiática e social tem sido a repercussão, à exaustão, das condenações de lideranças petistas no curso da AP 470. Novos episódios deste fim de semana vieram a retomar essa linha de atuação. A prisão arbitrária de companheiros petistas, sem que seus recursos tivessem sido julgados, foi mais um casuísmo jurídico – de tantos que a maioria do Supremo Tribunal Federal perpetrou ao longo da Ação Penal 470. Mais que isso, constitui grave violação ao instituto do direito de defesa, princípio fundamental no Estado democrático de direito.

Das 12 pessoas que tiveram a prisão decretada, só 4 são petistas — além de Pizzolato, o fujão, José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Os outros oito não são do PT. Atenção! Os 11 ministros decidiram, por unanimidade, dar como transitada em julgado a parte da sentença contra a qual já não cabia recurso. E isso inclui Ricardo Lewandowski. Sabem por que os ministros agiram assim? Porque é o legal, é o que recomenda o… estado de direito.

Não fosse só por isso, o mandado de prisão expedido pelo presidente do STF, ao não especificar o regime de cumprimento das penas, além de propiciar um espetáculo indesejado e condenável, desrespeitou direitos dos companheiros e ainda colocou em risco a vida do deputado José Genoino, cardiopata recém-operado.

O risco de vida, segundo nota do próprio Ministério da Justiça, é só exagero. Se existe, nada tem a ver com a prisão. A não especificação do regime é de ser lamentada, mas o ponto do PT, fica evidente, é outro. O partido não aceita é o julgamento. Entende estar acima da lei.

Condenados sem provas, num processo nitidamente político e influenciado pela mídia conservadora, os companheiros estão sendo vítimas, desde o início, de uma tentativa de linchamento moral, que visa, também, criminalizar o PT e influir na disputa eleitoral.

Mais uma vez essa conversa de tentativa de influir no processo eleitoral. Lula venceu a disputa em 2006 com a questão do mensalão ainda quente. Dilma se reelegeu em 2010 com o processo já correndo no Supremo. O PT obteve importantes vitórias em 2012 com o julgamento em curso. Que diabo de “tentativa” é essa, que não surte efeito mínimo? Criminalizar o PT? Não! O que se fez foi punir os criminosos que usaram dinheiro público — e privado — para criar um estado paralelo.

O DN reafirma o conteúdo da Nota da CEN de novembro de 2012. O julgamento dos petistas denunciados na AP 470 foi injusto, nitidamente político e alheio às provas dos autos. Com serenidade e equilíbrio, reiteramos que nenhum de nossos filiados comprou votos no Congresso Nacional.

Ah, claro! O julgamento “dos petistas” foi injusto. E o dos demais? Será que, sem o partido, Marcos Valério e Kátia Rabello, por exemplo, teriam operado o esquema? É preciso ter uma cara de pau gigantesca para escrever tais barbaridades.

Como afirmamos em nosso 3º. Congresso, a crise é do sistema político que prevê financiamento privado de campanhas e que privilegia o marketing político pessoal em detrimento de programas e Partidos, essenciais ao processo democrático. Para romper com essa lógica, o PT tem estado à frente da luta pela Reforma Política, pelo financiamento público exclusivo de campanhas, pela lista partidária pré-ordenada com paridade de gênero e pela ampliação da democracia participativa.

Viram? Os petistas estão confessando outro crime: o financiamento irregular de campanha. Deveriam explicar como os R$ 73 milhões do Banco do Brasil, que lhes foram franqueados por Henrique Pizzolato, o fujão, se encaixam nessa história. Mas eles já têm uma solução: o financiamento público de campanha. Vale dizer: querem enfiar ainda mais a mão no nosso bolso. E o sistema, que distribuiria dinheiro segundo o tamanho da bancada de cada partido na Câmara, privilegia o… PT!

O PT saúda e se soma à iniciativa de dezenas de movimentos sociais, centrais sindicais e outros organismos da sociedade civil de organizar, na Semana da Pátria de 2014, o Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva para a Reforma Política. Somente a mobilização social amplificará a necessidade do instrumento da Constituinte Exclusiva para a realização de uma efetiva Reforma Política no País, como a Presidenta Dilma e o PT defenderam no curso das manifestações populares de junho.
(…)

As protoditaduras bolivarianas, como é amplamente sabido, foram precedidas de… constituintes. Processos constituintes só se justificam quando há alguma ruptura importante da ordem. Sem isso, é só uma tentativa de golpe — no caso, de autogolpe porque pensando para conceder mais privilégios a quem já está no poder. A nota do PT tem um mérito: não esconde o que quer. E quer um ditadura petista. A tentativa de linchar o Judiciário e a imprensa é parte desse projeto. É o que se vê a Argentina e nas repúblicas bolivarianas. O outro instrumento é justamente a Constituinte, que se encarregaria de criar na lei um país fora da… lei.

Por Reinaldo Azevedo


Promotoria abre investigação contra ex-secretário de Haddad

Por Rogério Pagnan, José Erenesto Credendio e Mario Cesar, na Folha:

O Ministério Público de São Paulo abriu ontem uma investigação para apurar suposto enriquecimento ilícito do ex-secretário de Governo Antonio Donato, que era braço direito do prefeito Fernando Haddad (PT).  A decisão de abrir um novo inquérito, paralelo à apuração de um esquema de fraude no ISS, foi tomada a partir do depoimento do auditor Eduardo Barcellos. Ele disse à Promotoria na semana passada ter dado mesada de R$ 20 mil ao então vereador petista de dezembro de 2011 a setembro de 2012. Barcellos afirmou ainda que pode comprovar, com base em extratos telefônicos, que sempre telefonava a Donato antes de ir pessoalmente à Câmara entregar a verba. O vereador, que está licenciado do cargo, nega ter recebido dinheiro do grupo.


 A investigação será conduzida por Marcelo Milani, da Promotoria do Patrimônio Público, em um procedimento exclusivo, independente do esquema do ISS –no qual fiscais são suspeitos de cobrar propina para a redução do imposto de construtoras. O ex-secretário também poderá ser investigado na área eleitoral, já que há suspeita, a partir de depoimentos e gravações, de que ele tenha recebido dinheiro para sua campanha à Câmara. Em casos semelhantes, a Promotoria procura fazer uma varredura na vida do investigado, com pedido de informação ao Coaf (setor de inteligência da Fazenda) e levantamento de bens –para comparar com a renda. Cabe ao investigado provar a origem de seu patrimônio. Donato saiu da gestão Haddad no último dia 12, no mesmo dia em que a Folha revelou que ele requisitou Barcellos para trabalhar em sua equipe no começo do ano. Barcellos permaneceu na Secretaria de Governo entre janeiro e abril de 2013.
(…)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Para ministro do STF, Lula sabia do mensalão

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse acreditar que Lula sabia da existência do mensalão. “Eu não posso imaginar que alguém atilado como é o ex-presidente Lula, safo como eu disse, não tivesse conhecimento do que estava ocorrendo na República”. Na versão do delator Roberto Jefferson, Lula teria vertido lágrimas ao ser comunicado por ele da existência do esquema. Em entrevista ao blog, Marco Aurélio levou o pé atrás: “Será que durante os oito anos [de mandato] ele delegou tanto a chefia do governo?”
Marco Aurélio recebeu o repórter na tarde desta segunda-feira (18) no seu gabinete no Tribunal Superior Eleitoral. Nesta terça-feira (19), ele assumirá pela terceira vez a presidência da Corte máxima da Justiça Eleitoral. Disse esperar que a Câmara casse os mandatos dos deputados federais condenados no julgamento do mensalão. “Eu não concebo que, em se tratando de um crime contra a administração pública, vindo à tona uma decisão condenatória, o condenado continue exercendo o mandato político.”
O ministro realçou que uma das consequências da execução da pena é “a suspensão dos direitos políticos” do condenado. “Logicamente, quem está com os direitos suspensos não pode exercer o mandato”, enfatizou o entrevistado. Marco Aurélio reconheceu que houve uma “involução” do STF nessa matéria. Ao julgar outro processo, envolvendo o senador Ivo Cassol (PP-RO), o tribunal entendeu, por 6 votos a 5, que não cabe ao Judiciário “declarar a perda do mandato político”. Ainda assim, ele defende a cassação automática.
Para Marco Aurélio, não caberia à Mesa diretora da Câmara senão “constatar o fato, conferir a documentação do fato e, diante de uma decisão do Supremo, simplesmente proclamar a perda” do mandato. “Nós temos o exemplo [de Natan] Donadon que, condenado a 13 anos, continua ainda titular do mandato”, afirmou o ministro antes de manifestar sua expectativa de que a Câmara não irá permitir que se forme uma bancada da Papuda. “A cobrança da sociedade, ante o acompanhamento da imprensa, é muito rígida. E o nosso Congresso está a dever satisfações à sociedade.”
Instado a comentar a nota em que o PT criticou o julgamento do mensalão e as afirmações dos petistas José Dirceu e José Genoíno de que são “presos políticos”, Marco Aurélio afirmou: “É o direito de espernerar. Condenados nunca ficam satisfeitos com condenação.” Segundo ele, o STF chegou às condenações guiando-se exclusivamente pelas provas. “Não houve ficção jurírica.” Lembrou que a maioria dos ministros do Supremo “foi nomeada pelo governo do PT”. E ironizou: “Há alguma coisa que não fecha nesse sistema.”
Quais serão os efeitos do julgamento do mensalão na sociedade e no compartamento dos políticos?, indagou o repórter. E Marco Aurélio: “A percepção de que a lei é linear, vale para todos.” Afasta-se do cenário, na opinião do ministro, “a sensação de impunidade”. Quanto aos “homens públicos, ficarão um pouco mais espertos. Voltarão os olhos para servir a partir do cargo e não para se servirem do cargo, visando vantagens pessoais.”
Recordou-se a Marco Aurélio que, enquanto o STF julgava o mensalão, proliferaram os casos de corrupção —a máfia dos fiscais na prefeitura paulistana, as propinas e a a formação de cartel no metrô de São Paulo, os desvios de verbas nos ministérios, por meio de ONGs… Ele afirmou que “muitos julgamentos” como o do mensalão terão de ocorrer para que a corrupção seja inibida.
“Esses são casos que afloraram”, disse Marco Aurélio. “E os que não afloram, que ficam debaixo do tapete, como se costuma dizer?” Otimista, o ministro disse crer que “um dia nós teremos um contexto bem mais sadio em termos de cultura no Brasil.” Avalia que, para que isso ocorra, são essenciais as atuações da imprensa, do Ministério Público, da Polícia Federal e do próprio Judiciário, que precisa atuar “a tempo e modo, pouco importando o envolvido.”
Tomado pelas palavras, o ministro não parece tão otimista quanto ao julgamento dos embargos infringentes, previsto para o ano que vem. Receia que o STF altere condenações pelo crime de formação de quadrilha ao julgar recursos impetrados por réus como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Deve-se o temor à alteração da composição do tribunal a partir da aposentadoria dos ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto, substituídos por Teori Zavascki e Luíz Roberto Barroso.
A mudança já se materializou no julgamento do processo que envolve o senador rondoniense Ivo Cassol. “Houve uma dispersão de vostos quanto à configuração da quadrilha”, admite Marco Aurélio. Caminha-se para um cenário em que a maioria do plenário pode enxergar mera “coautoria” onde antes via formação de quadrilha. Algo que, na opinião de Marco Aurélio, ateará decepção na opinião pública. “Como cidadão, eu ficarei desapontado” se, “depois de a Corte maior do país ter batido o martelo num certo sentido, vir a dar o dito pelo não dito”, permitindo que condenados como Dirceu migrem “do regime fechado para o semiaberto.”
Conforme já antecipado aqui no início da noite passada, Marco Aurélio fez críticas à maneira como o presidente do STF, Joaquim Barbosa, implementou os primeiros pedidos de prisão do mensalão. “Não havia motivo para o açodamento”, declarou. “Eu teria aguardado a segunda-feira, sem dúvida alguma”. Estranhou a transferência dos presos de São Paulo e Belo Horizonte para Brasília. “Para quê? Para depois eles retornarem à origem?”
O ministro desaprovou também a demora no envio à Vara de Execuções Penais do DF das “cartas de senteça”, documentos que detalham a situação de cada preso. E classificou de “impensável” o fato de condenados ao regime semiaberto terem sido presos em regime fechado, ainda que por poucos dias.

Noutro trecho da entrevista, Marco Aurélio reiterou suas críticas ao temperamento mercurial de Joaquim Barbosa. “Nós não podemos permitir que a discussão descambe para o campo pessoal. E foi isso que ocorreu várias vezes. Digo mais: se não houvesse tantos incidentes, nós teríamos terminado esse processo muito antes.” Na sua opinião, falta “urbanidade” a Barbosa. “Hoje, penso que é pacífico que ele não é bom no diálogo”, “não convive bem com a divergência.” Numa autoavaliação, Marco Aurélio disse que aprendeu a lidar a controvérsia na sua própria casa. “Eu sou flamenguista e minha mulher é Fluminense.”

Lula, que nada sabia, agora diz ter muito a falar

Em 2005, quando o mensalão estourou, Lula jurou que “não sabia”. Dizendo-se “traído” declarou: “Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas. Porque o povo brasileiro [...] não pode, em momento algum, estar satisfeito com a situação que o nosso país está vivendo.”
Hoje, Lula é outro homem. Acha que ninguém deve nada. Muito menos explicações. E insinua saber mais do que todo mundo supõe. Aguarda pelo ponto final do STF para soltar a língua.


“Eu acho que o PT soltou uma nota que condiz com a realidade do momento. Temos os embargos infringentes para serem votados. Vamos aguardar para ver o que vai acontecer. Estou dizendo há muito tempo que eu vou esperar o julgamento total porque eu tenho muita coisa a comentar e eu gostaria de falar sobre o assunto.” Ah, fala logo!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Zé Dirceu tomando banho frio? Reclamem com os petistas José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário!

Acho uma desnecessidade moral (embora haja razão técnica, já chego lá) preso tomar banho frio. Pra quê? Ninguém merece isso! Poucas coisas podem ser tão destetáveis. De resto, esse tratamento não corrige ninguém. Falo por mim. Um chuveiro frio desperta “meus instintos mais primitivos”, para lembrar frase com que Roberto Jefferson brindou José Dirceu — no caso, o que acordava os tais instintos…

Existe um troço chamado Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Está subordinado ao Ministério da Justiça. O titular da pasta é José Eduardo Cardozo. Os petistas estão entrando no 12º ano de governo, não? Se achassem que os presos devem ter banho quente, já teriam tomado as devidas providências, não é mesmo?

E Maria do Rosário, este poema épico do humanismo nacional? Por que, até agora, não acusou esse tratamento desumano? Os que estão com pena de Dirceu e demais companheiros devem dirigir suas questões a esses dois luminares do petismo.

Existe, é claro, uma razão para que seja assim. Não é conveniente que presos tenham acesso a fios elétricos. Descartem-se, pois, chuveiros dessa natureza. Um sistema de caldeira, elétrico ou gás, suponho, seria estupidamente caro. De todo modo, eis uma questão com a qual, até agora, os brasileiros não haviam se defrontado. Como a Papuda recebeu moradores ilustres, então a questão surgiu.

Há certo tipo de humanista no Brasil que deveria vir com uma tarja preta, advertindo que o consumo de suas ideias pode gerar graves perturbações psíquicas. Todo mundo sabe o que todo mundo sabe: os presídios brasileiros, com algumas exceções, são verdadeiros pardieiros. A tortura a presos políticos ainda é um tema quente e alimenta uma indústria bilionária de indenizações, mas quase nada se diz sobre a tortura a presos comuns, uma realidade cotidiana. Na verdade, até isso se politiza: atribui-se, o que é escandalosamente mentiroso, a prática a uma herança do… regime militar.

Os meliantes intelectuais que sustentam essa falácia não tiveram nem o trabalho de ler “Memórias do Cárcere”, obra estupenda, escrita por um comunista: Graciliano Ramos. Vejam lá as condições em que eram confinados tanto os presos comuns como os inimigos do regime getulista, durante o Estado Novo. Há muito tempo se tortura no Brasil. Mas só os presos com pedigree ideológico mobilizam os nossos sedizentes progressistas.

E o mesmo se diga de algo mais prosaico, muito menos agressivo: a água fria. Agora que os a Papuda recebeu os presos estrelados, a questão virou um tema nacional. Parecia razoável que o sujeito que bateu um carteira tomasse um banho frio, mas há gente chocada que José Dirceu, que chefiou a quadrilha do mensalão, segundo o STF, seja submetido ao mesmo tratamento.

A República foi proclamada em 1889.


Por Reinaldo Azevedo