terça-feira, 29 de abril de 2014

Lula e Collor juntos mais uma vez — agora, contra o Supremo. Que lindo!

Lula e o ex-presidente Fernando Collor são aliados políticos faz tempo. Em 2002, o “caçador de marajás” já apoiou o petista, que havia sido seu adversário em 1989. Não custa lembrar que o PT constituiu o núcleo duro da campanha que resultou na deposição de Collor.

Agora, mais uma causa une os dois políticos. A luta contra o Supremo Tribunal Federal. Em Portugal, e nós ainda falaremos disso aqui, Lula afirmou que o julgamento do mensalão teve 80% de questão política e 20% de questão jurídica. É um despropósito total.

No Senado, Collor, que foi absolvido pelo tribunal de um processo iniciado há, calculem!, 23 anos, resolveu bater no peito e proclamar a sua inocência, dizendo que o STF, assim, reescreve a história do país. Apesar disso, atacou o ministro Joaquim Barbosa de maneira brutal, acusando o ministro de não respeitar a liturgia do cargo.

Com o devido respeito ao ex-presidente e hoje senador, declaro: uma ova, meu senhor! O STF não reescreve coisa nenhuma. O STF só o absolveu porque a denúncia feita pelo Ministério Público, à época, foi inepta e não conseguiu provar as vinculações de Collor com o esquema liderado por PC Farias.

O que pretende Fernando Collor? Negar que PC fizesse tráfico de influência? Negar que seu ex-caixa de campanha se movimentava nas sombras, cobrando, vamos dizer, uma taxa dos agentes econômicos que eram obrigados a se relacionar com o governo?

Vamos ser claros: o fato de o Ministério Público não ter conseguido evidenciar a culpa de Collor o torna inocente perante a Justiça, mas não elimina as lambanças do que se chamou, então, “República de Alagoas”.

A coisa tem a sua graça trágica. Quando Collor foi eleito, em 1989, as esquerdas disseram, então, que a pior elite tradicional do Brasil se reciclava na figura de um doidivanas. Quando Lula se elegeu, em 2002, esses mesmos grupos afirmaram que, finalmente, as elites tradicionais estavam sendo vencidas. Quis o destino, então, que a velha e a nova elites se unissem, ambas contra o estado de direito.


Por Reinaldo Azevedo

Lula tem é ódio à democracia; seu mundo é o da troca de favores; do toma-lá-dá-cá; das relações viciosas

Todo mundo sabe que os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, não formam exatamente uma “corrente” de pensamento. Ainda bem que não! Tribunal não é seita nem ideológica nem partidária. Eles estão lá para, instruídos pela Constituição e pelas leis, julgar de acordo com a sua consciência. Nem devem prestar atenção nem ao alarido das ruas nem aos bochichos de corredores. Só que Luiz Inácio Lula da Silva, que supõe encarnar em si mesmo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, não se conforma com isso. Nesta segunda, esses três ministros afinaram suas vozes para reagir aos ataques que Lula desfechou contra o STF.

Em entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, que estreou ontem, às 18h,  na rádio Jovem Pan, Mendes comentou a declaração de Lula, segundo quem o julgamento do mensalão foi “80% político e 20% jurídico”. Disse Mendes: “O tribunal se debruçou sobre esse tema já no recebimento da denúncia. Depois, houve várias considerações técnicas; houve rejeição da denúncia em muitos pontos; houve toda uma instrução processual, e o tribunal julgou com clareza e examinou todas essas questões”.

O ministro está afirmando, em suma, que se fez um julgamento técnico. Joaquim Barbosa, presidente do Supremo, também reagiu: “O juízo de valor emitido pelo ex-chefe de estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome”.

Pois é… Este é o ponto: Lula não se conforma que a Justiça não ceda às injunções da política — e, claro!, da sua política. Ora, voltemos um pouquinho no tempo. Em abril de 2012, o chefão do PT convidou o ministro Gilmar Mendes para um bate-papo. Ele queria adiar a todo custo o início do julgamento do mensalão. Achando que tinha uma carta na manga contra o ministro — carta falsa, diga-se —, tentou nada mais nada menos do que chantagear um membro da corte suprema do país.

Reproduzo em azul trecho de reportagem da VEJA de maio de 2012:

(…)
Depois de algumas amenidades, Lula foi ao ponto que lhe interessava: “É inconveniente julgar esse processo agora”. O argumento do ex-presidente foi que seria mais correto esperar passar as eleições municipais de outubro deste ano e só depois julgar a ação que tanto preocupa o PT, partido que tem o objetivo declarado de conquistar 1.000 prefeituras nas urnas.

Para espíritos mais sensíveis, Lula já teria sido indecoroso simplesmente por sugerir a um ministro do STF o adiamento de julgamento do interesse de seu partido. Mas vá lá. Até aí, estaria tudo dentro do entendimento mais amplo do que seja uma ação republicana. Mas o ex-presidente cruzaria a fina linha que divide um encontro desse tipo entre uma conversa aceitável e um evidente constrangimento. Depois de afirmar que detém o controle político da CPI do Cachoeira, Lula magnanimamente, ofereceu proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo para preocupação com as investigações. O recado foi decodificado. Se Gilmar aceitasse ajudar os mensaleiros, ele seria blindado na CPI. (…) “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”, disse Gilmar Mendes a VEJA. O ministro defende a realização do julgamento neste semestre para evitar a prescrição dos crimes.

Retomo

Lula havia recebido a falsa informação de que Mendes teria relações com Carlinhos Cachoeira. Como se tratava de uma mentira inventada pela rede suja na Internet, seu esforço indecoroso caiu no vazio, e Mendes denunciou a tentativa de chantagem.

Com Barbosa, a relação passou a ser de ódio explícito. O chefão do PT não cansou de repetir nos bastidores que Barbosa devia a ele a sua nomeação; que só havia um negro da corte porque ele tomara essa decisão política. Esperava, em suma, para citar uma expressão do ministro Marco Aurélio, que o ministro lhe fosse grato com a toga. Eis Lula: ele não entende a democracia como a institucionalização de papéis. Seu mundo é o da troca de favores; do toma-lá-dá-cá; das relações viciosas que se amparam, se complementam e se justificam.

De resto, ninguém precisa ser muito bidu para supor que Lula certamente considera que agiram com correção os ministros Roberto Barroso e Teori Zavascki, por exemplo, que absolveram José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino do crime de quadrilha. E que errados estavam todos aqueles que condenaram os companheiros.

Em síntese, para Lula, quando um ministro absolve um amigo seu e condena um adversário, está agindo tecnicamente; se faz o contrário, então está movido por má-fé política.

Compreendo essa alma pura. Nestes dias que seguem, Lula deve é estar de olho no Vaticano. Está tentando entender por que cargas d’água Padre Anchieta, João 23 e João Palo 2º foram canonizados, e ele, Lula, por enquanto, não foi ainda nem beatificado.

Por Reinaldo Azevedo


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lula, o rei do besteirol investigado em inquérito da PF, diz em Portugal que não houve mensalão. Ou: Mais uma bobagem para sua insuperável coleção

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu na sexta uma entrevista à TV portuguesa RTP, que foi ao ar no sábado (leia post na home). Mesmo para quem está acostumado a despropósitos; mesmo para quem já disse que não haveria problemas de poluição na Terra se o planeta fosse quadrado; mesmo para quem anunciou que cruzaria o Atlântico para chegar aos Estados Unidos; mesmo para quem já afirmou, na presença do então presidente americano George W. Bush e das respectivas primeiras-damas, que pretendia encontrar o “ponto G” da relação entre os dois países; mesmo para quem já chamou Muamar Kadhafi de “irmão”; mesmo para quem já disse que, na Venezuela, “há democracia até demais”; mesmo para quem já recomendou a Obama que copiasse o nosso SUS; mesmo para quem já comparou a luta por democracia no Irã à reação de descontentamento de uma torcida quando seu time perde o jogo; mesmo para quem já fez pouco caso da eleição de um presidente negro nos EUA, afirmando que quer ver é a eleição de um operário; mesmo para quem já afirmou que o Bolsa Família deixava o povo preguiçoso (antes de ele próprio se fingir de dono do Bolsa Família); mesmo, em suma, para quem é autor de uma impressionante coleção de besteiras, a verdade é que Lula, na entrevista à TV portuguesa, se excedeu, foi além da conta, num misto de cinismo, de estupidez e de falta de apreço pela verdade.

Segundo Lula, “o mensalão teve 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”. Mais: disse achar que “não houve mensalão”. Afirmou que não ficaria debatendo decisão da Suprema Corte e anunciou pela undécima vez que “essa história vai ser recontada”. Para ele, tudo não passou de uma tentativa malsucedida “de destruir o PT”. Então vamos ver.

Não houve uma só condenação sem provas no processo do mensalão, como todo mundo sabe. Só três dos ministros que condenaram mensaleiros — Celso de Mello, Marco Aurélio e Gilmar Mendes — não foram indicados para a Corte ou pelo próprio Lula ou por Dilma. O ex-presidente e seu partido, portanto, não podem nem mesmo se dizer vítimas de uma “tribunal formado por adversários”. O homem que falava era aquele que teve a publicidade da campanha paga no exterior, em moeda estrangeira, numa conta que o marqueteiro Duda Mendonça mantinha fora do país. Origem do dinheiro? Ninguém sabe. Em duas operações, ficou claro que o Banco do Brasil, por intermédio do fundo Visanet, foi lesado em R$ 76 milhões. Mais do que evidências de pagamento, houve as confissões. O próprio então presidente chegou a dizer em 2005 que houvera sido traído.

É verdade que uma nova história está sendo contada. Pelos petistas. E não passa de uma coleção vergonhosa de mentiras, omissões, mistificações, distorções — escolham aí o substantivo. Prefiram todos. O mais espetacular, e os portugueses não têm obrigação de saber disso, é que um inquérito, aberto pela Polícia Federal, investiga a participação do próprio Lula no mensalão. Foi aberto a pedido do Ministério Público Federal em abril do ano passado. E o caso diz respeito justamente a… Portugal.

O então presidente do Brasil teria intermediado a obtenção de um repasse de R$ 7 milhões de uma fornecedora da Portugal Telecom para o PT, por meio de publicitários ligados ao partido. Os recursos teriam sido usados para quitar dívidas eleitorais dos petistas. De acordo com Marcos Valério, operador do mensalão, Lula intercedeu pessoalmente junto a Miguel Horta, que era o presidente da companhia portuguesa, para pedir os recursos. As informações eram desconhecidas até 2012, quando Valério — já condenado — resolveu contar parte do que havia omitido até então. Isso significa que o homem que concedeu a entrevista ainda pode vir a se tornar um réu do mensalão.

Lula exibiu outra característica notável de sua personalidade política — coisa que, até hoje, o deputado André Vargas, por exemplo, agora sem partido, ainda não entendeu. No PT, o chefão máximo é sempre inocente. Queimam-se fusíveis para preservar Lula de uma descarga elétrica fatal. Indagado sobre a sua proximidade com os mensaleiros presos, não teve dúvida: “Não se trata de gente da minha confiança”. Entenderam?

Mais: Lula repetiu à TV portuguesa uma concepção de honestidade já muitas vezes revelada por ele próprio aqui no Brasil. Prestem atenção! “O importante é que, quando uma pessoa é decente e honesta, as pessoas enxergam é nos olhos. Não adianta dizer que o Lula pratica qualquer ato ilícito porque o povo me conhece”.

Com isso, o ex-presidente está a afirmar que existe no Brasil a categoria dos homens inimputáveis, daqueles que serão sempre inocentes, mesmo que sejam culpados. E, obviamente, ele próprio é um exemplar dessa espécie superior. Assim, não importa o que o homem público faça ou deixe fazer. O que interessa é essa relação de confiança olhos-nos-olhos. Se a população decidir que é inocente, inocente é. É o fim da picada. Já seria uma coisa estúpida porque esse tipo de comportamento permitiria, claro!, que muito bandido passasse por inocente. Afinal, quem disse que o olho revela o criminoso? Mas pode acontecer algo ainda pior: um inocente que não caia nas graças do povo — ou que caia em desgraça — também poderia ser considerado culpado sem ser, certo? Corolário da máxima luliana: ele e seus amigos são sempre inocentes, mesmo quando são culpados; seus adversários são sempre culpados, mesmo quando são inocentes.

Lula também, note-se, está vivendo em outro país; está fora da realidade. Para espanto dos fatos, afirmou: “Acho engraçado algumas revistas estrangeiras dizerem que o Brasil não está bem. Em se tratando de responsabilidade fiscal e de macroeconomia, não tem nenhum país melhor do que o Brasil. O milagre econômico vai se manter, e o Brasil vai continuar crescendo”.

Até a ideia de um “milagre econômico”, o petista copia da ditadura, não bastasse o ufanismo tosco que o PT passou a incentivar. O país tem uma das mais altas taxas de juros do mundo e também um dos menores crescimentos do mundo para países na sua faixa. O déficit nas contas externas no primeiro trimestre é o maior desde 1970: US$ 25 bilhões. O déficit projetado no ano é de US$ 80 bilhões, que deve ser o segundo maior do planeta. Um dos graves problemas do país é justamente a balança comercial. No ano passado, o resultado negativo do setor industrial ficou na casa dos US$ 105 bilhões. Não fosse o agronegócio, com um superávit de mais de US$ 80 bilhões, o país estaria lascado. Segundo Lula, no entanto, nada há no mundo como o Brasil.

Ufanismo tosco, megalomania e desapreço pela verdade. Até agora, convenham, ele tem tudo para achar que essa fórmula dá certo, não é mesmo? Parece, no entanto, que camadas crescentes da população começam a se dar conta do engodo.


Por Reinaldo Azevedo