Por
Felipe Frazão, na VEJA.com:
O auditor fiscal Moacir Fernando Reis, um dos servidores da prefeitura de São Paulo investigados pela Controladoria-Geral do Município (CGM) por desvio de recursos, é sócio da mulher do secretário municipal de Transportes, o deputado federal licenciado Jilmar Tatto (PT), um dos principais quadros da gestão petista. Reis prestou depoimento à CGM no último dia 24 de outubro, às 10 horas, no âmbito de um processo administrativo.
Ao lado de Adli Tatto, mulher
do secretário, o auditor fiscal é um dos quatro proprietários do estacionamento
Samepark, na Vila Mariana. Segundo a Junta Comercial de São Paulo, o Samepark é
uma microempresa constituída em 2010, com capital social declarado de 20 000
reais. A sede fica no mesmo endereço da residência de Jilmar Tatto. Reis também
é namorado de uma das irmãs da mulher do secretário.
A assessoria de imprensa da
Secretaria Municipal de Transportes afirmou que Tatto “conhece” Reis, mas “não
sabia” que ele era investigado pela CGM. Disse ainda que o secretário não faria
comentários sobre a conduta do servidor, que recebe remuneração bruta de
19.607,61 reais da prefeitura.
Além de Adli Tatto e de Moacir
Reis, também são sócios do estacionamento Jamile Osman e Salah Ali Osman. Ambos
possuem uma clínica médica em Cidade Dutra, na Zona Sul, região de influência
política dos Tatto. Salah é médico otorrinolaringologista. Já fez diversas
menções ao PT nas redes sociais e aparece como doador de pequenas quantias —
geralmente pagamento por convites para eventos de campanha — ao próprio Jilmar
Tatto (1 500 reais nas eleições de 2006) e ao irmão dele, o vereador Arselino
Tatto (1 600 reais, em 2008), também do PT. Dentista, Jamile aparece como
doadora de 600 reais a Arselino em 2008.
Empresário
Reis também é o maior cotista de uma
empresa de compra, venda e aluguel de imóveis próprios, a MFPR Administração de
Bens. Aberta em 2010, ela tem capital social de 541 000 reais. A sede declarada
é o apartamento na Vila Mariana onde mora Reis.
O uso de empresas de fachada,
declaradas como administradoras de bens, era um dos expedientes usados pelos
fiscais que desviaram 500 milhões de reais dos cofres públicos por meio de
fraudes na cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS), de acordo com as
investigações do Ministério Público Estadual. Reis ainda é sócio de um comércio
em Embu, a Florbela Decorações Conveniência, com capital social de 45 000
reais. Ele comprou metade da empresa em julho do ano passado.
Na segunda-feira, o prefeito
Fernando Haddad (PT) e o controlador-geral do município afirmaram que dezesseis
servidores são investigados. Três auditores fiscais continuam presos e um
fiscal foi liberado após assinar termo de delação premiada com os promotores.
A respeito da investigação do MP sobre
o suposto enriquecimento ilícito de dezenas de auditores fiscais, a
Controladoria Geral do Município esclarece:
1. Em fevereiro de 2013, a CGM recebeu
uma denúncia anônima que listava, em anexo, cerca de 100 nomes da carreira de
auditor fiscal, sem mais provas. A mesma denúncia foi enviada à CGM pelo Grupo
de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do
Estado de São Paulo – GAECO.
2. Alguns dos nomes já eram
investigados em procedimentos abertos pela CGM, inclusive um dos nomes da
Operação Necator. Não pesavam sobre os demais, até aquele momento, indícios
fortes o suficiente para ensejar a abertura de um processo de investigação
formal. A Controladoria optou pela realização da apuração patrimonial com base
na declaração patrimonial eletrônica realizada em junho por todos os servidores
da Prefeitura.
3. Com base nessa análise, foi
constatado que em mais de 80% dos casos não existia indícios de
incompatibilidade patrimonial. Essa conclusão foi informada ao Ministério
Público.
4. Com relação aos demais, a
CGM prossegue com a verificação sobre a existência de justificativa para o
acúmulo patrimonial dos servidores e as conclusões serão informadas ao
Ministério Público, que exerceu sua autonomia para a abertura de investigações.