Luiz
Inácio Lula da Silva, o Nosferatu que vampiriza a política brasileira há muitos
anos, convocou os petistas e cutistas a se mobilizar contra o Projeto de Lei
4.330, que regulamenta a terceirização em empresas privadas, mistas e públicas.
O texto permite que elas recorram a serviços de terceiros também nas chamadas
atividades-fim. Boa parte dos sindicatos é contra porque vê nisso a chamada
precarização da mão de obra. É conversa fiada, papo para boi dormir. O que as
máquinas sindicais querem manter é o mercado cativo do imposto sindical. O
texto pode ser votado na Câmara nesta terça-feira. Os companheiros de Lula
estarão lá para fazer pressão e tentar derrubá-lo.
Lula
convocou os petistas, cutistas, esquerdistas no geral e os ditos movimentos
sociais a se manifestar no país inteiro. Além de se mobilizar contra o PL
4.330, está na pauta a defesa da Petrobras — quem, senão os ladrões, a ameaça?
— e da democracia, que, até onde sei, não está em perigo.
Escrevi na tarde de ontem a respeito e
volto ao assunto. Há quem não tenha entendido a natureza do jogo.
O
Babalorixá de Banânia está empenhado hoje em duas operações políticas para
tentar salvar seu partido do desastre eleitoral — e, quem diria?, salvar a si
mesmo. Quer que Dilma entregue metade ou mais do governo ao PMDB, de porteira
fechada. E pronto. Isso asseguraria à presidente, em meio à crise econômica, a
estabilidade congressual para governar. No Parlamento, o PT institucional
continuaria a compor essa maioria.
Lula,
pessoalmente, quer se encarregar do “PT não institucional”. Ele julga ter
encontrado a fórmula ideal: o Congresso deixa de criar dificuldades para a
presidente, o pacote fiscal será aprovado sem grandes alterações, o mercado se
acalma — como vem se acalmando, basta olhar os números — com o fortalecimento
de Joaquim Levy, e o PT volta a liderar as pressões de rua, mas pela esquerda.
Qual
é o diagnóstico — em parte sensato — de Lula? A economia vai demorar a
reagir. Levará tempo até que os mais pobres voltem a sentir os efeitos da
retomada do crescimento, sem prazo para começar. Os descontentes de todas as
classes, mas muito especialmente os mais pobres — que o PT pretendia que fossem
seu mercado cativo —, continuarão a sacar contra o patrimônio do… petismo!
Afinal, essa é a força que está no governo.
Ora,
indaga Lula, o que o PT fará enquanto isso? Vai se limitar a defender o
necessário ajuste recessivo e se enterrar ainda mais? Vai ficar na defensiva,
tomando pancada de todo lado? Caminhará para as eleições do ano que vem — SIM,
HAVERÁ ELEIÇÕES NO ANO QUE VEM — com a reputação na lona? Até Marco Aurélio
Garcia, assessor de Dilma, admitiu que está sendo hostilizado na rua.
Um
eventual desastre eleitoral em 2016 será prenúncio de dias ainda mais difíceis
em 2018, quando Lula pretende se recandidatar à Presidência da República. Hoje,
não tenho dúvida, seria derrotado por um nome da oposição. E ele é esperto
demais para não saber disso.
Hoje,
quem, de verdade, quer que Dilma sangre no poder, mas não caia, é Lula. Ele
está numa operação muito sutil para articular dois movimentos em si opostos,
mas que se combinam:
a: garantir no Parlamento o apoio institucional a Dilma — e, por isso,
quer dividir, de verdade, o poder com o PMDB, de olho, inclusive, nos palanques
do ano que vem;
b: descolar o PT do governo
recessivo de Dilma, propondo uma agenda que sabe que este não pode adotar.
Logo, essa nova agenda pede um novo — e velho! — demiurgo: ele próprio.
E
esse salvador, que viria, então, para coroar a obra petista já não
pretende falar em nome de um partido — o PT —, mas de uma “frente”, que
reunificaria as esquerdas e os movimentos sociais, numa espécie de réquiem
virtuoso de sua carreira, que seria marcado com uma espécie de luta final do
“Bem” (ele e sua turma) contra o “Mal” (todos os outros que estarão contra
ele).
É
por isso que o chefão decadente do PT convocou a sua tropa contra o PL 4.330,
que conta com o apoio do governo federal. Ele só pensa em 2018 e está
empenhado, hoje, em salvar o partido de uma crise sem precedentes. Uma pergunta
óbvia: “Esse movimento é combinado com Dilma?”. Resposta: não! Não é! Até porque
é muito arriscado. Mas ela não tem o que fazer para conter os seus apetites.
Outra
eventual questão: “E por que Lula ainda quer salvar Dilma e não a deixa de vez
para cuidar de seu projeto salvacionista?”. Porque isso poderia implicar a
entrega do poder para o PMDB, de Michel Temer, que não encontraria dificuldades
para governar sem o PT. De resto, os companheiros não vão abrir mão de 25 mil
cargos federais de confiança, mais o estupefaciente aparelhamento de todas as
esferas do estado brasileiro.
Lula
precisa de Dilma na Presidência para poder pôr o seu partido na rua — inclusive
contra Dilma se necessário. Se ela sangra no cargo, o vampiro se alimenta.
Nesta terça, ele deu início à sua campanha a 2018. Eis a natureza do jogo.
Podem escrever aí.
Por Reinaldo Azevedo