Alexandre
Padilha, ainda ministro da Saúde, fez campanha eleitoral antecipada de maneira
arreganhada, desabrida, sem pudor. O ministro falou aos brasileiros nesta
quarta, dia 29 de janeiro. Pretexto: anunciar a campanha de vacinação contra o
vírus HPV. Sabem quando as vacinas estarão à disposição? Só em março. Ora, qual
é a natureza dos pronunciamentos públicos, feitos em rede nacional de rádio e
TV, prerrogativa de que só dispõe o governo federal? Anunciar um serviço, fazer
um comunicado de urgência, informar algo relevante à população. Trata-se, sim,
de algo relevante. Mas cabe é pergunta: é urgente?
Ocorre que Padilha, que
apareceu com a sua gravata vermelha — que pertence ao uniforme de campanha dos
petistas —, está deixando o Ministério da Saúde para se candidatar ao governo
de São Paulo. O pronunciamento, segundo a pasta, custou R$ 55 mil. Mas esse,
obviamente, é só o custo, digamos, de produção. O que o ministro estava fazendo
era faturar politicamente uma ação de governo orçada em R$ 15 milhões.
Tanto se tratava de campanha
que Padilha não se limitou a falar da vacinação. Aproveitou também para faturar
com o programa “Mais Médicos”. O tom era de proselitismo escancarado. Disse: “Com o programa Mais Médicos, o governo federal está dando outro
passo decisivo para levar mais saúde a áreas que, durante décadas, viveram
esquecidas”.
É mesmo? Se a memória do
ministro é fraca, a minha é boa. Em 2002, último ano do governo FHC, havia 2,7
leitos hospitalares, públicos e privados, por mil habitantes. Em 2013, havia
2,3. A Organização Mundial de Saúde recomenda 5. Em 11 anos, houve uma queda de
15%. Atenção! No país que vive uma epidemia de crack, há apenas 0,15 leito
psiquiátrico por mil habitantes. É a metade do que havia em 2002, quando o PT
venceu a eleição. Nos países civilizados, a média é de um leito psiquiátrico
para cada mil pessoas, quase seis vezes mais. Entre 2005 e 2012, e isso inclui
a gestão do doutor Padilha, o SUS perdeu mais de 41 mil leitos.
Mas, agora, temos os cubanos
espalhados Brasil afora para, como disse a presidente Dilma certa feita, dar
umas apalpadas nos pobres. Esses médicos, chamados “de família”, não podem realizar vários procedimentos, como cirurgias,
por exemplo. No Brasil profundo, trabalham em postos de saúde e hospitais
caindo aos pedaços. Considerar que a chegada dos cubanos é a redenção da saúde,
em face dos números a que acabo de me referir, é um escárnio.
Padilha é o ministro de Dilma
que mais fez pronunciamentos oficiais em rede nacional — cinco ao todo — e é o
segundo que mais usou jatos da FAB até dezembro do ano passado. Viajou a várias
capitais brasileiras, por exemplo, para receber os médicos cubanos — sempre
acompanhado de assessores e fotógrafos. O material coletado, claro!, ajudará a turbinar
a campanha eleitoral.
Chega a ser uma piada que o
Supremo Tribunal Federal esteja a apenas um voto para formar a maioria que vai
proibir as doações de empresas a campanhas eleitorais. Desde que sejam
transparentes, que mal há nisso. Condenável, detestável mesmo, é este uso
absurdo do dinheiro público em favor de uma candidatura.
Evangélicos
Leio na Folha: “Ontem Padilha usou o horário de almoço para assistir a um culto evangélico no auditório da Saúde. ‘Quem está aqui não é o ministro, é alguém que crê em Deus’, disse a cerca de 60 funcionários do ministério.”
Leio na Folha: “Ontem Padilha usou o horário de almoço para assistir a um culto evangélico no auditório da Saúde. ‘Quem está aqui não é o ministro, é alguém que crê em Deus’, disse a cerca de 60 funcionários do ministério.”
Muito bem! Tem início o ritual
de conversão cristão à boca da urna, quando o índice dos que acreditam em Deus
no Brasil alcança 110%… Em 2010, Dilma revelou até a sua santa de devoção: a
“Nossa Senhora de Forma Geral”, que ela chamou de “deusa”, fundando o
cristianismo politeísta.
Por Reinaldo Azevedo
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