Quando
teve início aquele escarcéu estúpido por causa da tal mensagem do Santander
enviada a alguns correntistas — informando que os mercados reagiam
negativamente à perspectiva de Dilma ser reeleita —, defendi aqui, basta
procurar no arquivo, o direito que o banco tinha de emitir uma opinião. O resto
da história vocês já conhecem. Lula pediu a cabeça da analista e puxou o saco
do presidente mundial do banco, Emilio Botín, que prometeu demitir a
responsável, o que acabou acontecendo. Antes disso, a instituição já havia
tornado público um pedido de desculpas. Nesta quinta, os correntistas receberam
uma segunda cartinha. Aí o Santander já se desculpava com os clientes.
Assim
como não vi nada demais na primeira carta, lastimo todo o resto da história,
incluindo a demissão. O Santander, com a devida vênia, comportou-se de modo
patético nessa história. Por mais que esse setor seja bastante dependente dos
humores dos poderosos de turno — e é —, há um limite para o ridículo que me
parece ter sido ultrapassado com impressionante desassombro.
Dado
o barulho que fez o PT, até compreendo que o banco pudesse emitir uma nota
pública informando que não se mete em política partidária. Poderia até afirmar
que a opinião da analista — ou de um departamento — não refletia o que pensava
a instituição etc. Em suma, havia várias maneiras de amenizar eventuais
desconfortos. Mas o que se vê é um espetáculo um tanto grotesco de
sabujice. Dá a entender, talvez injustamente, que o banco mantém uma relação de
dependência com o poder que não é conhecida pelo conjunto da sociedade.
Esse
episódio, acreditem, fez muito mal à cultura da liberdade de política e do
livre exercício da opinião. Um texto que era público — afinal, enviado a muitos
correntistas — mereceu o tratamento de alguma peça conspiratória, como se
pessoas mal-intencionadas atuassem nas sombras para desestabilizar a presidente
Dilma.
Quer
dizer que o analista de um banco está proibido de informar a seus clientes que,
deixem-me ver, comprar ações de empresas públicas num eventual cenário de
reeleição de Dilma é um mau negócio? E é mau negócio por quê? Não porque o tal
analista não goste do PT. Mas porque ele tem a obrigação de alertar que é
próprio da cultura petista usar essas empresas para fazer política, pouco se
importando com a economicidade de determinadas escolhas. É o que acontece com a
Petrobras, por exemplo. É o que acontece com o setor elétrico.
O
comportamento da imprensa brasileira, diga-se, ressalvadas as exceções de
sempre, é também lamentável. Mais uma vez, reage de maneira pífia a uma clara
agressão ao debate livre de ideias.
Bem,
agora falta o quê? Mais um pouco, a direção do Santander vai se chicotear de
joelhos na rampa do Palácio do Planalto. Uma pergunta: se eu decidir botar meu
dinheiro no Santander, devo confiar no que me disser o analista financeiro ou
me cabe intuir que sua opinião passou antes pelo Departamento de Censura
Diretório Nacional do PT?
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário