E
não é que alguns bocós estão por aí a defender o Decreto 8.243,
assinado pela presidente Dilma e que institui a Política Nacional de
Participação Social? Assistindo a um debate sobre o assunto, vi um sujeito,
conhecido como “tucano”, a considerar delirante a avaliação de que se trata de
uma forma de aparelhamento do estado pelo PT. Ainda bem que, no PSDB, ninguém
dá bola pra ele, e o partido integra o grupo de dez legendas que pede regime de
urgência para um Decreto Legislativo que susta o arroubo autoritário da
presidente Dilma Rousseff. Outro, numa referência direta a este blog — mas sem
citá-lo —, sustenta não ser verdade que a petista decidiu definir o que é
sociedade civil.
Vamos
ver. O link com a íntegra do decreto de Dilma está aí. O Inciso I do Parágrafo
2º define, sim, o que é sociedade civil, a saber: “o cidadão, os coletivos, os movimentos
sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas
organizações”. Vale
dizer: sociedade civil é tudo aquilo que o poder de turno decidir que é
sociedade civil. Se esse decreto prospera, na forma como está, a política
brasileira será, definitivamente, refém de grupelhos ideológicos organizados —
a maioria deles subordinada ao PT, sempre destacando que os demais estão
ligados a partidos de extrema esquerda.
Em
defesa do decreto de Dilma, o deputado petista Alessandro Molon, do Rio, um dos
queridinhos dos socialistas da Vieira Souto, com vista para o mar, confirmou,
sem querer, que se trata, sim, de atrelar a administração pública a grupelhos
de esquerda e mandou ver: “Se os partidos de direita não têm
inserção social, não tem base social, lamento, mas isso não podemos resolver”. Eis aí: é uma confissão. O que
ele chama de “inserção social” é o aparelhamento, pelos esquerdistas, dos ditos
movimentos sociais, que passam a ser manipulados por grupos que estão, na
verdade, disputando o poder.
Pensemos
na greve parcial do Metrô de São Paulo. Pergunto: o sr. Altino Prazeres,
presidente do sindicato, está preocupado com os usuários do serviço ou, mesmo,
vá lá, com a categoria que lidera? Uma ova! Quem dita as suas escolhas é um
partido político, o PSTU; é uma ideologia: o socialismo. E o que dizer do MTST,
o dito Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, comandado, em São Paulo, pelo
riquinho com complexo de culpa Guilherme Boulos? De onde deriva a legitimidade
desse movimento para interferir nas políticas públicas de moradia? Ora, do
mesmo lugar de onde se origina a legitimidade do MST para ser o dono da reforma
agrária: de lugar nenhum! Eles são usurpadores da ordem democrática, que
recorrem à truculência para impor a sua vontade.
De
algum modo, o sr. Molon está certo: esse tipo de inserção social é, de fato,
coisa típica das esquerdas porque só elas transformaram a má-fé e a mentira em
categorias de pensamento e manipulam, de modo deliberado, as carências da
população para fazer vingar uma ideologia. Ora, se o sr. João Pedro Stédile
apenas quisesse que um homem tivesse o seu pedaço de terra, conseguido tal
intento, o coitado poderia se livrar das garras do MST e tocar a sua vida
normalmente. Mas não é assim que funciona. Se e quando obtiver o seu lote, será
obrigado a prestar serviços para sempre ao movimento. Será seu escravo e terá
de participar de novas invasões, sem direito de dizer “não”. Afinal, o MST é
confessadamente socialista e quer acabar com a propriedade privada no campo. O
mesmíssimo método é empregado pelo MTST na cidade de São Paulo. Saibam: boa
parte dos líderes da causa nem sequer é sem-teto, a começar de Boulos, o
chefão maior. Ele é um militante socialista e viu nas pessoas que querem uma
casa um bom filão para brincar de revolucionário.
Ocorre
que a ação dos MSTs e MTSTs da vida não é irrelevante ou meramente folclórica.
De fato, essa gente impede que se organize uma política pública consequente e
democrática, seja sobre a distribuição de terra, seja sobre a construção ou
distribuição de moradias. Eles se tornam, isto sim, verdadeiras fontes de
privatização do bem público; tornam-se, na marra, sócios do poder sem que
tenham sido eleitos por ninguém.
O
que o decreto de Dilma faz é, ao arrepio da Constituição, sim, entregar,
formalmente, uma parcela do poder a essa gente. Tomo um Engov toda vez que
alguém vem pra cima de mim com a cascata de que os ditos movimentos sociais são
uma alternativa à chamada crise de representatividade. É mesmo, é? Quer dizer
que resposta à tal crise está em substituir aquilo que é eleito por todo mundo,
o Parlamento, por grupelhos que se autoproclamam representantes do povo, não
são eleitos por e ninguém e querem impor no berro à sociedade as suas
prioridades — ou, então, ameaçam derramar sangue, como fez o sr. Guilherme
Boulos?
Foi
assim que o PCC…
Para
arrematar: foi abrindo a administração para os “movimentos sociais” ligados ao
transporte público que o petismo entregou, em São Paulo, uma fatia desse
serviço a cooperativas infiltradas ou controladas pelo PCC. Tentar
derrubar esse decreto de Dilma é um imperativo moral dos defensores da
democracia. E agora termino mesmo. Na estrovenga autoritária de Dilma, está
escrito que “as
definições previstas neste Decreto não implicam na desconstituição
ou alteração de conselhos (…)”, Até “no que se refere” (como ela
diria!!!) à língua portuguesa, o decreto da Soberana não presta!
Eu e
os de má-fé lemos o decreto. Eu não gosto; eles sim. Talvez os idiotas estejam
opinando sem conhecer a sua gramática — também a política.
Por Reinaldo Azevedo
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