O
PT reuniu nesta quinta deputados estaduais, federais, vereadores, lideranças
nacionais do partido e, não poderia faltar, o prefeito Fernando Haddad num ato
de desagravo ao vereador Antonio Donato, ex-secretário de Governo da Prefeitura
— teve de ser demitido — e ex-coordenador de campanha de Haddad. Donato foi
recebido, como já se informou aqui, aos gritos de “Donato guerreiro do povo
brasileiro” — é o grito de saudação que o partido costuma dispensar ao patriota
José Dirceu. Isso quer dizer que os petistas consideram os dois igualmente
inocentes, entenderam?
É claro que é um escracho e um acinte. Haddad decidiu deflagrar a operação para pegar os fiscais — havia mesmo uma máfia atuando na Prefeitura — e tinha a intenção de jogar o passivo no colo de Gilberto Kassab. Era um esforço para tentar reverter o brutal desgaste de sua imagem na cidade. Ocorre que a primeira vítima política do escândalo acabou sendo… Donato! De resto, Kassab tinha um acordo de mais alta esfera com Dilma Rousseff, e do Planalto veio a ordem para deixar o ex-prefeito em paz. Adiante.
De todos os políticos com
alguma projeção na cidade, nenhum apareceu tão perto da máfia como Donato:
a: já secretário de governo, ele nomeou
para uma diretoria da SPTrans Ronilson Rodrigues, considerado o chefe da máfia;
b: Donato chamou para trabalhar em seu
gabinete outro auditor fiscal envolvido com a fraude: Eduardo Barcelllos;
c: num acordo de delação premiada,
Barcelllo afirmou que pagava uma pensão mensal de R$ 20 mil ao vereador; o
dinheiro, afirmou, era entregue em seu gabinete na Câmara;
d: quando soube que estava sendo
investigado pela controladoria do município, Ronilson decidiu procurar
justamente Donato;
e: a ex-namorada de um dos auditores,
num telefonema ameaçador, captado pela polícia, ameaça revelar que o vereador
era ligado ao esquema e que recebeu R$ 200 mil do grupo para financiar sua
campanha eleitoral;
f: em depoimento ao Ministério Público,
uma ex-auditora diz que o grupo de fiscais financiou a campanha de Donato.
Donato caiu. Mas deixou claro
que não aceitava a condição de boi de piranha. Vale dizer: não tem a têmpera de
um Delúbio Soares ou mesmo de um José Dirceu. Não é do tipo que aguenta o
tranco calado. O vereador exigiu a solidariedade do partido — inclusive a do
prefeito — e a obteve.
Atenção! Que petista se reúnam
para declarar a inocência de seus soldados, convenham, é do jogo. E todos já
estamos acostumados com isso. Que Fernando Haddad tenha comparecido ao evento
sem que o Ministério Público tenha concluído a investigação e sem que a própria
Controladoria do Município tenha terminado o seu trabalho, eis um absoluto
despropósito. Donato exigiu, e obteve, a solidariedade do Prefeito. Eu já havia
cantado essa bola aqui no dia 15 de novembro.
Sabem como é… Um coordenador de campanha é sempre um homem muito sabido.
Sabem como é… Um coordenador de campanha é sempre um homem muito sabido.
Concluindo
Um dos principais alvos dos petistas no
desagravo ao “guerreiro do povo brasileiro” foi o Ministério Público. Como a
gente sabe, esse órgão só é batuta quando investiga os adversários do PT
Na minha coluna na
Folha desta sexta, lembro um trecho do texto de Trotsky “A moral deles e a
nossa”. O líder socialista responde a uma suposta indagação: na luta contra os
capitalistas, todos os meios são admissíveis, inclusive “a mentira, a
conspiração, a traição e o assassinato”? E ele então diz: “Admissíveis e
obrigatórios são todos os meios, e só eles, que unam o proletariado
revolucionário (…), que o ensinem a desprezar a moral oficial e seus
democráticos arautos”.
Ou seja: sim, tudo é permitido
em nome da causa, inclusive mentir, conspirar, trair e matar.
O PT é herdeiro desse pântano moral.
O PT é herdeiro desse pântano moral.
Por Reinaldo Azevedo
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