Condenado a dez anos e dez meses de cadeia, o ex-chefão da Casa Civil
José Dirceu declara que foi “assediado moralmente” pelo ministro Luiz Fux, do
STF. Conta que, após “mais de seis meses” de assédio, topou recebê-lo. Deu-se,
então, o inusitado. “Ele tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver.
Textualmente”, afirma o hoje “chefe de quadrilha” à espera da execução da
sentença.
Dirceu fez as declarações numa entrevista a Mônica Bergamo e Fernando
Rodrigues (aqui, a íntegra). A coisa toda ocorreu há dois anos –época em
que Fux era ministro do STJ e cabalava apoios para arrancar de Dilma Rousseff a
indicação a uma cadeira do STF. No julgamento do mensalão, Fux foi um juiz
duro. Acompanhou o relator Joaquim Barbosa em 99,9% dos seus votos. Inclusive
na condenação a Dirceu.
O vaivém de Fux é “a única coisa que me tira o sono”, diz agora Dirceu.
Por quê? “Ele, de livre e espontânea vontade, se comprometeu com terceiros, por
ter conhecimento do processo, por ter convicção, certo? Essa é que era a
questão, que ele tinha convicção e conhecimento do processo. É um comportamento
quase que inacreditável.”
A reporter Mônica Bergamo já havia revelado em dezembro de 2012 que
Fux estivera com Dirceu. Ouvido na ocasião, o magistrado
confirmara o encontro. Mas negara que houvesse prometido absolvição ao
interlocutor. Chegara mesmo a dizer que esquecera que o “assediado” era réu.
Depois de ler o processo, ficara “estarrecido”.
Também em dezembro, falando ao repórter Kennedy Alencar, o ministro
Gilberto, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, revelou que Fux o havia procurado antes de ser indicado
por Dilma para o STF. Contou que, durante a conversa, ele deixara claro que
absolveria os réus do mensalão.
“Sem que eu perguntasse nada, ele falou pra mim o que falou pra todos os
outros: que ele tinha estudado o processo, que o processo não continha prova
nenhuma, que era um processo absolutamente sem fundamento e que ele tomaria uma
posição muito clara.” Fux não se deu ao trabalho de desmentir Carvalho.
Ao tomar posse na presidência do STF, Joaquim Barbosa criticou em seu
discurso os critérios de ascensão funcional dos juízes. “Nada justifica, a meu
sentir, a pouco edificante busca de apoio para uma singela promoção de juiz de
primeiro ou segundo grau”, lecionou.
Para Barbosa, “o juiz, bem como os membros de outras carreiras
importantes do Estado, deve saber de antemão quais são suas reais perspectivas
de progressão. E não buscar obtê-las por meio da aproximação ao poder político
dominante no momento.” Sem querer, o presidente do Supremo presenteou o colega
Fux com uma carapuça.
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