É estupendo!
Há
muitos dias tenho tratado aqui com sarcasmo a absurda campanha que a imprensa,
ou quase toda, move contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Campanha, sim,
de caráter fascistoide! Os nossos luminares do teclado ainda não aprenderam que
a democracia não proíbe ninguém de dizer besteira. Enquanto isso, a vergonha na
cara fica por aí, esfaimando… José Dirceu, aquele condenado por corrupção ativa
e formação de quadrilha — o chefe dela, segundo a Procuradoria-Geral da
República — concede uma entrevista à Folha e
ao UOL em que, claro!, diz ser inocente. Repete a acusação que gente
ligada a ele já havia feito, segundo a qual o ministro Luiz Fux, antes ainda de
ser nomeado, havia prometido inocentá-lo caso ganhasse uma vaga no Supremo. Em
entrevista, Fux já admitiu o encontro, mas nega que tenha prometido um voto
favorável. Dirceu diz também que vai, recorrer à “Comissão Internacional de
Direitos Humanos” (seja lá o que for isso) e, ora vejam!, faz uma ameaça nem
tão velada assim caso Lula seja mesmo processado por alguns crimes do mensalão.
O que o PT pretende fazer, não fica claro. Mas parece ser coisa grande. Será
que vão botar os tanques na rua? Cercar o Supremo com os tontons-maCUTes? Não
sei. Leiam trechos. Volto em seguida;
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Folha/UOL – Como foi seu encontro com Luiz Fux?
José Dirceu - Eu não o conhecia, eu fui assediado moralmente por ele durante mais de seis meses para recebê-lo.
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Folha/UOL – Como foi seu encontro com Luiz Fux?
José Dirceu - Eu não o conhecia, eu fui assediado moralmente por ele durante mais de seis meses para recebê-lo.
Como foi esse assédio?
Através de terceiros, que eu não vou nominar. Eu não queria [recebê-lo].
Através de terceiros, que eu não vou nominar. Eu não queria [recebê-lo].
Quem são esses terceiros?
São advogados, não são lobistas. Eu o recebi, e, sem eu perguntar nada… Porque ele [hoje] dizer para a sociedade brasileira que não sabia [na época do encontro] que eu era réu do processo do mensalão é tragicômico. Soa ridículo, no mínimo, né? Como o ministro do STJ [cargo ocupado na época por Fux] não sabe que eu sou réu no processo? E ele tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver. Textualmente.
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São advogados, não são lobistas. Eu o recebi, e, sem eu perguntar nada… Porque ele [hoje] dizer para a sociedade brasileira que não sabia [na época do encontro] que eu era réu do processo do mensalão é tragicômico. Soa ridículo, no mínimo, né? Como o ministro do STJ [cargo ocupado na época por Fux] não sabe que eu sou réu no processo? E ele tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver. Textualmente.
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Como é que o sr. se sentiu quando o ministro Fux votou pela sua
condenação?
Depois dos 50 anos que eu tenho de experiência política, infelizmente eu já não consigo me surpreender. A única coisa que eu senti é a única coisa que me tira o sono. Nem a condenação me tira o sono porque tenho certeza que eu vou revertê-la.
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Depois dos 50 anos que eu tenho de experiência política, infelizmente eu já não consigo me surpreender. A única coisa que eu senti é a única coisa que me tira o sono. Nem a condenação me tira o sono porque tenho certeza que eu vou revertê-la.
(…)
A sua defesa vai apresentar recursos [para reverter a condenação].
O sr. tem esperança?
Vai apresentar. Depois do transitado em julgado, vamos para a revisão criminal. E vou bater à porta da Comissão Internacional de Direitos Humanos. Não é que fui condenado sem provas. Não houve crime, sou inocente; me considero um condenado político. Foi um julgamento de exceção, político.
(…)
Vai apresentar. Depois do transitado em julgado, vamos para a revisão criminal. E vou bater à porta da Comissão Internacional de Direitos Humanos. Não é que fui condenado sem provas. Não houve crime, sou inocente; me considero um condenado político. Foi um julgamento de exceção, político.
(…)
Se o ex-presidente Lula não tem nada com isso, por que Marcos
Valério é recebido por Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e um de
seus assessores mais próximos?
Boa pergunta para ser dirigida ao Paulo Okamotto. Eu nunca tive
nenhum contato com Marcos Valério. Nem antes nem depois. E o Lula não tem
nenhuma preocupação. Conheço os fatos, ele não tem nada a ver com isso.
Absolutamente. A não ser que se queira, agora, dar um golpe que não conseguiram
dar antes. Quer dizer, transformar o Lula em réu na Justiça brasileira. A não
ser que se vá fazer esse tipo de provocação ao PT e ao país, à nação
brasileira.
Voltei
O mais escandaloso na entrevista de José Dirceu é que ele deixa
claro que a nomeação de Fux foi decidida no ambiente em que o então ministro do
STJ prometeu inocentá-lo caso conseguisse a vaga no Supremo. Ele diz, claro!,
não saber se tal promessa pesou na indicação. Ora… Então José Dirceu, um dos
capas-pretas do PT, principal réu do mensalão, recebe um candidato ao Supremo
que promete inocentá-lo, e esse homem é, de fato, indicado para o cargo, e
devemos acreditar que uma coisa não tem nada a ver com a outra?
O
ódio de Dirceu é tão grande que ele não se importa em confessar que a escolha
de um ministro para o Supremo obedeceu aos mais baixos interesses. Não se
pensava, então, no país, mas em livrar a cara de um poderoso chefão petista. A
entrevista, é evidente, estoura na porta do gabinete de Fux, mas compromete
ainda mais a presidente Dilma Rousseff. Trata-se de um verdadeiro escândalo.
Insônia
Fux que se cuide. Eu detestaria ser objeto da insônia de José
Dirceu, e o ministro, segundo confessa o próprio condenado, povoa as noites mal
dormidas do chefão. Que ele não seja do tipo que perdoa, isso a gente já sabe…
Num
país, digamos, razoável, tanto Fux como Dilma estariam obrigados a divulgar
notas oficiais nesta quarta-feira. Ele tem de dizer se Dirceu mente ou fala a
verdade quando sustenta que recebeu uma promessa de voto; ela tem de deixar
claro que princípio orientou a escolha de Fux.
Fantasias
de Dirceu
Dirceu decidiu enrolar o público com algumas fantasias. Não sei
que diabo vem a ser “revisão criminal” nesse caso. Ele está se referindo aos
embargos infringentes? Nem mesmo está claro se eles são cabíveis ou não no
caso. Eu entendo que não. A Lei 8.038, vejam aí a íntegra, disciplina justamente os
julgamentos nos tribunais superiores — também no STF. E não trata de “embargos
infringentes” — vale dizer: da possibilidade de haver um reexame da decisão da
maioria. Essa lei é de 1990. Na prática, ela tornou sem efeito o Artigo 333 do
Regimento Interno do STF, que prevê os tais embargos. Os advogados de defesa
até podem vir com essa história. Suponho que os ministros do Supremo,
responsáveis que são, dirão o óbvio: um artigo de um regimento interno, mesmo
do Supremo, não pode mais do que a lei. Vamos ver.
A
“Comissão Internacional de Direitos Humanos”, de que ele fala, deve ser a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos — à qual ele já havia dito que não
recorreria… Pelo visto, mudou de ideia. É pura conversa mole. Recorrer à
comissão por quê? Ele teve, por acaso, cerceado seu direito de defesa? Ainda
que recorresse e ainda que seu pleito fosse acolhido, é bom Dirceu ler a
Constituição Brasileira.
A instância máxima da Justiça é o Supremo Tribunal
Federal. E ponto! Esses petistas são mesmo curiosos. Quando a questão de Belo
Monte foi parar na Comissão e depois na Corte Interamericana de Direitos
Humanos, os petistas deram de ombros e ainda acharam uma ingerência indevida na
política interna brasileira.
Melar
o jogo
Os mensaleiros e alguns de seus advogados ainda não desistiram de
tentar melar o jogo. Essa entrevista de José Dirceu vem coordenada com uma
tentativa de Márcio Thomaz Bastos de impedir a publicação do acórdão do
julgamento. São esforços para tentar colar em todo o processo a pecha de
“julgamento de exceção”.
Lula
e a ameaça
Vejam lá como Dirceu se refere à possibilidade de que Lula se
torne réu num dos processos do mensalão. Diz que será uma “provocação ao PT, ao
país, à nação brasileira”. Se Lula atropelar sem querer um gato, esse gato será
atropelado pela nação brasileira. Quando mantinha relações especiais e
ancilares com uma funcionária da Presidência da República, quem comparecia para
os eventos era a “nação brasileira”. Assim, caso se torne réu, ré, então, será
a nação brasileira. É uma besteira, mas também é uma ameaça.
Tenho
cá as minhas desconfianças se Dirceu, no fundo, não torce por isso. Caso Lula
também se torne réu, ele se perfila ao lado do outro, um tantinho mais popular,
e se diz também uma “vítima”.
Eis
aí. Um quadro dirigente de um dos maiores partidos políticos do país, que está
no poder há 10 anos, revela que ministro foi nomeado para o Supremo depois de
lhe prometer um voto, força a mão para desmoralizar o tribunal e ainda faz
ameaças veladas aos órgãos de investigação do estado. E os bananas ficam por aí
perseguindo um deputado porque, no fim das contas, não gostam de suas opiniões.
LEMBREM-SE:
DILMA ESTÁ PRESTES A INDICAR UM NOVO MINISTRO DO SUPREMO. Há dias, a presidente
esteve com o tributarista Heleno Torres. Torres já afirmou sobre o julgamento
do mensalão o que segue em vermelho:
“O Tratado do Pacto de San José proclama direito de recorrer da
sentença a juiz ou tribunal superior. Por tudo isso, no final, a Corte
Interamericana terá que anular esse julgamento, sob pena do seu absoluto
descrédito”.
Por Reinaldo Azevedo
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