Governantes
têm o direito de mentir? A resposta é “não”. Nem que seja sob o pretexto de
“salvar a nação”. Na vida pública, não existe mentira virtuosa. Quando muito,
pode existir a omissão prudente. Dou um exemplo: se o ministro Guido Mantega
vislumbrar pela frente uma escalada inflacionária, se indagado a respeito, ele
não tem de confirmar nem de se estender a respeito, ou haverá o efeito óbvio:
como a economia se move, em parte, por expectativas, ele poderia piorar a
situação se dissesse a verdade. Poderia, no discurso, omitir esse vislumbre
para não piorar o que já seria ruim. Mas é certo que não poderia afirmar o
contrário dos fatos. A mentira, na vida pública, é trapaça contra o interesse
coletivo.
Nesta
segunda, a presidente Dilma participou da inauguração de navios petroleiros no
porto de Suape, em Pernambuco, terra de um de seus futuros adversários na
disputa presidencial, Eduardo Campos. E resolveu deitar falação sobre a
Petrobras, segundo leio na Folha. Afirmou: “Não hesitarei em combater o malfeito, a
ação criminosa, corrupção ou ilícito de qualquer espécie. Mas também não
ouvirei calada a campanha negativa, por proveito político, em ferir a imagem
dessa empresa que o povo construiu com suor e lágrimas”.
Há
duas verdades aí e duas mentiras. Primeira verdade: a Petrobras está eivada de
malfeitos, ações criminosas, corrupções e ilícitos. Segunda verdade: a empresa
foi construída com o suor e lágrimas dos brasileiros. Ainda que Dilma esteja
plagiando Churchill, isso é verdade. Primeira mentira: a presidente hesitou,
sim, em defender a Petrobras, tanto que deixou de apurar a compra da refinaria
de Pasadena e ainda deu emprego para o executivo que, segundo ela própria, foi
o responsável pela operação. Segunda mentira, não existe campanha nenhuma
contra a empresa. Campanha contra a Petrobras fazem os larápios que lá estão
incrustados.
Mas
Dilma foi mais longe na impostura. Disse ainda: “Desde o início da empresa,
teve gente sendo contra, dizendo que não havia petróleo no Brasil. Depois,
mudaram o discurso, e chegaram a dizer que havia petróleo demais para ser
controlado por uma empresa pública. Era uma forma sorrateira que prepararam
para a Petrobras parar em mãos privadas. Foi um processo tão requintado, que foi
interrompido pela pressão externa, que chegaram a fazer a troca do nome da
empresa. Queriam chamar ela de ‘Petrobrax’, sonegando a sílaba que é nossa
identidade. Bras, de Brasil”.
É a
mentira mais escandalosa de todas. Desafio Dilma e o PT a apresentar uma
miserável evidência de que se tentou privatizar a Petrobras. Privatizada ela
está hoje: transformou-se numa soma de feudos, distribuídos entre partidos
políticos: PT, PP, PMDB, PTB… Eles vão usando a estatal para cuidar de seus
próprios interesses. Em sua fala, Dilma sugeriu que as sem-vergonhices na
estatal são ações isoladas, coisas deste ou daquele. Mentira também! O PT está
afundando a Petrobras porque usa a estatal para distribuir prebendas políticas
e para manter unidos os partidos da base aliada.
Venham
cá: por que vocês acham que um partido político quer tanto ter direções de
áreas técnicas de estatais? Como é que isso poderia ajudar a legenda? A
resposta é simples: essa diretoria, fatalmente, terá de comprar coisas, de
construir obras, de contratar serviços e consultorias. O dinheiro sai da
corretagem.
Privatizada,
no sentido mais vagabundo da palavra, que é o único que o PT conhece — já que
execra o virtuoso —, a Petrobras está hoje. Ela precisa voltar a ser uma
empresa pública.
Por Reinaldo Azevedo
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