O
PT conseguiu. Transformou a CPI da Petrobras numa farsa. A cada dia, fica-se
mais longe da apuração das circunstâncias políticas em que se deram as
lambanças. O negócio, agora, é apostar que o Ministério Público faça o seu
trabalho e que a Polícia Federal encontre espaço para trabalhar com
independência nos três inquéritos que foram abertos. Os petistas conseguiram
descaracterizar e desmoralizar a CPI. De agora em diante, o caminho está dado
nas três esferas do Poder Legislativo: sempre que a oposição conseguir
assinaturas para uma comissão de inquérito, basta a situação usar a sua maioria
e contra-atacar com um pedido de investigação da minoria. Não tem jeito: o PT e
a democracia são como água e óleo; não se misturam.
Nesta quinta, a base do governo
protocolou o quarto pedido de CPI — no caso, de CPI Mista. A exemplo do que fez
no Senado, esta também abarca os casos cabeludos da Petrobras e supostas
irregularidades havidas em obras nas gestões tucanas de São Paulo e Minas e
durante a administração de Eduardo Campos, em Pernambuco. O jogo é explícito, é
arreganhado, não tem disfarces. O objetivo é não investigar nada mesmo.
Ora vejam: o governo tem, desde
sempre, a maioria parlamentar mais ampla de todo o mundo democrático. Poderia
ter proposto as CPIs que quisesse. E por que não o fez? Porque, na cabeça dessa
gente, uma comissão de inquérito não serve para investigar, mas para retaliar.
Imaginem vocês se uma comissão vai conseguir apurar as lambanças na Petrobras —
a cada dia, há uma novidade — e eventuais irregularidades em São Paulo, Minas e
Pernambuco. Ainda que o propósito fosse honesto, não haveria condições técnicas
para isso.
Mas a honestidade passou longe
desse debate. Na terça-feira, a CCJ do Senado se pronuncia sobre as duas CPIs
que foram protocoladas na Casa. A decisão da comissão será submetida ao
plenário. O mais provável é que, ora vejam!, triunfe a CPI do governo. Ou por
outra: com um impressionante estoque de escândalos na Petrobras, quem corre o
risco de ser investigada é a oposição.
É claro que isso perverte o
sentido da democracia. Em tempos normais, a questão iria parar no Supremo.
Estamos diante de um claro cerceamento do direito de fazer oposição.
O discurso do governo se torna
mais virulento quanto mais cadáveres vão saindo do armário. Agora, um terceiro
inquérito da Polícia Federal investiga a venda, pela estatal brasileira, de uma
refinaria na Argentina para o grupo do empresário Cristóbal López, uma espécie
de faz-tudo de Cristina Kirchner. Os próprios compradores chegaram a oferecer US$
50 milhões pela refinaria, que acabou vendida por apenas US$ 36 milhões. Também
essa operação se deu no ano eleitoral de 2006, quando a Petrobras comprou os
50% da refinaria de Pasadena.
Por Reinaldo Azevedo
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