Já
lembrei isto à presidente Dilma Rousseff uma vez e o faço de novo: “Quos volunt
di perdere, dementant prius” — “Os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem
querem destruir”. A citação com todos os termos no singular é mais conhecida:
“Quem vult deus perdere dementat prius” — “Deus primeiro enlouquece aquele a
quem quer destruir”.
A
presidente Dilma Rousseff e Michel Temer, seu vice, foram diplomados nesta
quinta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral. Dilma se esqueceu de que recebia
ali o documento que lhe permite tomar posse do segundo mandato e resolveu
pensar como uma socióloga nefelibata, do tipo que anda com a cabeça nas nuvens
e os pés também. A governanta decidiu se referir à roubalheira na Petrobras e,
ora vejam!, dividir as suas culpas conosco. Na verdade, tudo bem pensado, foi
ainda mais grave: a presidente nos tomou a todos como corruptos — os
brasileiros no geral.
Ao
falar sobre o que é preciso para coibir a ladroagem na estatal, disse: “É
preciso uma nova consciência, uma nova cultura, fundada em valores éticos
profundos. Ela tem de nascer dentro da cada lar, dentro de cada escola, dentro
da alma de cada cidadão e ir ganhando de forma absoluta as instituições”.
Com
a devida vênia, a presidente enlouqueceu. Retiro. Esse discurso não tem né pé
nem cabeça nas nuvens. Tem é os dois pés no chão e as duas mãos também. Quer
dizer que há fatores, digamos, antropológicos e socioculturais que explicam os
desvios praticados por diretores nomeados pelo PT e uma corja de políticos?
Dilma está a dizer que o país todo é corrupto e que o que se praticava na
Petrobras é a nossa rotina.
É
mesmo? Quem nomeou Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor Cerveró? Foi o
cidadão comum, o estudante, a dona de casa, eu, você? A propósito: eles foram
nomeados por quê? E aqui cumpre lembrar como esta senhora pretende mudar a
cultura brasileira: ela vai dar uma vice-presidência do Banco do Brasil a
Anthony Garotinho, candidato derrotado ao governo do Rio pelo PR e com uma
extensa, como direi?, ficha na Justiça. O que ele entende do assunto? Por que
vai assumir o posto? É a sua especialidade que o conduzirá ao cargo?
A
presidente investiu ainda no nacionalismo tosco: “Alguns funcionários da
Petrobras, empresa que tem sido e vai continuar sendo o nosso ícone de
eficiência, brasilidade e superação, foram atingidos no processo de combate à
corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor e vamos converter a
renovação da Petrobras em energia transformadora do nosso país. Temos de punir
as pessoas, não destruir as empresas. Temos de saber punir o crime, não
prejudicar o país ou sua economia”.
É
mesmo? Fale com o mercado, minha senhora! Fale com os investidores. Converse
com os acionistas que foram lesados dentro e fora do país. Infelizmente para
nós, é mentira que a Petrobras seja um exemplo de eficiência. Ao contrário: a
empresa não consegue nem fechar o seu balanço e está virando pó. Infelizmente
para nós, é mentira que o que se deu lá seja uma exceção. O que se fez por lá é
método.
O
presidente do TSE, Dias Toffoli, também discursou. Afirmou: “Não haverá
terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem. Já
conversei com a Corte, e é esta a posição inclusive do nosso corregedor-geral
eleitoral. Não há espaço para terceiro turno que possa vir a cassar o voto
destes 54,5 milhões de eleitores”.
Certo.
Vamos explicar. Não haverá terceiro turno porque não há terceiro turno previsto
em lei, certo? Quanto ao mais, diga-se o óbvio: se aparecer algum crime
eleitoral que venha a ensejar a perda de mandato, reivindicá-la, deve concordar
o ministro Toffoli, não é “terceiro turno”, mas exercício do Estado de Direito.
Se o crime aparecer, cassar o mandato é não é “terceiro turno”, mas exercício
do Estado de Direito. De resto, a sombra que se projeta sobre o mandato de Dilma
não está na esfera eleitoral, mas criminal. A propósito, doutor Toffoli: quando
a Câmara dos Deputados aceitou a denúncia contra Fernando Collor por crime de
responsabilidade, aquilo foi terceiro turno ou cumprimento da lei e da
Constituição?
Por Reinaldo Azevedo
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