Quinhentos
milhões de reais! Sim, R$ 500 milhões. Esse é o montante que dez pessoas
que negociam acordos de delação premiada, no curso da investigação do petrolão,
podem devolver aos cofres públicos. Três pessoas respondem por R$ 165 milhões
desse montante. O engenheiro Paulo Roberto Costa se comprometeu a devolver R$
70 milhões, que correspondem aos US$ 25,8 milhões que ele tem depositados no
exterior. O doleiro Alberto Youssef aceita ressarcir os cofres públicos em R$
55 milhões. Outros R$ 40 milhões virão das contas de Júlio Camargo, executivo
da Toyo Setal. Sete outras pessoas que estão colaborando com a investigação
responderiam pelo resto.
É
assombroso! Atenção, meus caros! Nenhuma dessas dez pessoas era chefe do
esquema. Até agora, não se sabe quem estava na ponta do petrolão. Eram todos
operadores que trabalhavam para partidos políticos. Três dessas legendas
monopolizavam o dinheiro da propina: PT, PMDB e PP. Segundo Paulo Roberto, a
maior parte da grana era enviada mesmo ao Partidos dos Trabalhadores.
Esses
prováveis R$ 500 milhões nada têm a ver com o dinheiro dos políticos. Essa
grana toda foi desviada, reitere-se, por simples operadores, por peixes de
tamanho médio. Se esses dez, que trabalhavam para outros e eram apenas
subordinados, conseguiram amealhar R$ 500 milhões, imaginem quanto não foi
roubado pelos chefes. Ou melhor: não dá nem para imaginar.
Mas
a gente tem algumas pistas. Tudo indica que a obra que mais serviu a
roubalheira foi a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Só para lembrar:
ela estava orçada em US$ 2,5 bilhões e já custou mais de US$ 20 bilhões. Chega
a ser um milagre que o Brasil ainda não tenha sucumbido.
Não!
Essa dinheirama toda não inclui os políticos envolvidos no esquema. Como eles
têm direito a foro especial por prerrogativa de função, seus respectivos nomes
foram enviados ao Supremo Tribunal Federal. O relator do caso é o ministro
Teori Zavascki. Consta que o papelório chegou a seu gabinete e por lá foi
ficando, sem consequências até agora. Vamos ver.
Vai
ser difícil tentar assar alguma pizza no Supremo — embora, a depender das
personagens por ali, a gente possa esperar sempre o pior. Será difícil porque
os dez que ou já fizeram acordo de delação ou estão em vias de fazê-lo
trabalhavam para alguém: no caso, trabalhavam para políticos e para partidos.
Não roubaram apenas para si mesmos. Ao contrário: roubavam para o esquema
criminoso e pegavam uma parcela a título, digamos, de corretagem.
Nunca
houve nada parecido no país, seja em organização, seja em volume de roubalheira.
Em entrevista recente, o ainda ministro Gilberto Carvalho saiu a choramingar,
afirmando que há uma campanha de ódio contra o seu partido, que, segundo ele, é
tratado por setores da imprensa como se tivesse inventado a corrupção. É claro
que não! O PT não seria tão criativo. Não inventou, não! Mas, sob os seus
auspícios, a roubalheira se profissionalizou. Virou método. Virou sistema.
Virou até coisa de, como é mesmo?, “heróis do povo brasileiro”.
Cumpre
lembrar uma vez mais: enquanto se desenvolvia a investigação do mensalão,
enquanto corria o julgamento e eram declaradas as condenações, o petrolão
funcionava a todo vapor. Impressionante, não é mesmo?
Acabou,
sim, havendo punições no mensalão petista, mas não deixa de ser uma piada que
todos os políticos envolvidos na sujeira já estejam em prisão domiciliar ou
perto de consegui-la, e os não políticos do chamado núcleo financeiro estejam
na cadeia. Será que a banqueira Kátia Rabelo e o publicitário Marcos Valério
teriam conseguido operar o mensalão sozinhos? Afinal, não eram os políticos que
trabalhavam para eles, mas eles é que trabalhavam para os políticos. No meu
conjunto de valores, os homens públicos deveriam ser punidos como mais rigor
porque fraudaram, além de tudo, a boa-fé de quem depositou neles a sua
confiança. Vamos ver o que vai acontecer desta vez.
A
propósito: e aí, ministro Zavascki? Esse negócio anda, ou vai ficar criando
bolor aí no seu gabinete? Celeridade, homem! Ou os EUA, que também investigam a
Petrobras, acabam concluindo o seu trabalho primeiro. Por lá se tem respeito
com o dinheiro do contribuinte. E isso vai ser um vexame adicional.
Por Reinaldo Azevedo
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