Eu
sempre fico muito encantado quando políticos decidem mostrar, assim, o seu
“lado humano”, especialmente depois de falar com, como direi?, especialistas em
imagem. Vi com atraso, mas vi, o perfil de Dilma Rousseff no Fantástico. O vídeo está aqui.
A partir dos 9min, vejam lá, a “represidenta” acabou fazendo humor
involuntário. Ao comentar a sua doçura de avó, ela contou como é rigorosa em
separar o público do privado; ela deixou claro como não mistura as coisas;
evidenciou, com terna gravidade, que, com ela, as duas esferas não se
confundem. Afinal, isto é uma República! E como ela deixou isso claro? Com a
fábula contada sobre o netinho, Gabriel, de 4 anos.
Disse a presidente que, no
andar térreo do Palácio do Alvorada, só há coisas públicas, inclusive uma bola
de cristal — que certamente não anda a mostrar o futuro… — na qual o garoto
gosta de mexer. Mas a avó não deixa, não! De jeito nenhum! E ela reproduz,
então, a conversa que tem com o infante:
“Não pega que é do povo
brasileiro. Ele tem medo do povo brasileiro atualmente. Acha o povo brasileiro
perigosíssimo (…) Ele adora pegar a bola de cristal, mas o povo brasileiro não
deixa”.
Huuummm…
Já sei! Vamos criar, então, a
“Lei Gabriel” do governo Dilma, não é? Quero ser governado, entre 2015 e 2018,
pela Vovó Dilma. Em que consiste? A “nona” vai demitir todos os apaniguados das
estatais. Os cargos de direção só serão exercidos por técnicos de carreira,
independentemente de suas vinculações partidárias. Imaginem se a doce senhora
decidisse que as estatais só seriam governadas segundo o lema da avó: “Diretor,
não pega que é do povo brasileiro”.
E se a presidente Dilma, em vez
de ter nomeado Nestor Cerveró diretor financeiro da BR Distribuidora, tivesse
dito à turma da Petrobras: “Não pega porque é do povo brasileiro”? Imaginem se
aquela multidão que exerce cargos de confiança nas estatais, nas autarquias, na
administração direta e indireta… Imaginem se essa gente toda tivesse do “povo
brasileiro” o medo que, segundo Dilma, tem Gabriel. Seria muito bom que esses
valentes também considerassem “perigosíssimo” esse “ente” chamado… “povo
brasileiro”.
Ocorre que assim seria se assim
fosse. Dilma só passou a admitir que algo de errado havia acontecido na
Petrobras quando o seu marqueteiro lhe apresentou números evidenciando que o
escândalo na Petrobras poderia lhe tirar a reeleição; quando estava claro, por
A mais B que, a coisa, como se diz, “havia pegado”; quando se tornou evidente
que o tal “povo brasileiro” — que não é dono só daquela bolota de cristal do palácio,
mas também da Petrobras — estava mesmo indignado.
Antes disso, Dilma preferiu
adotar o discurso fácil e mentiroso de que criticavam os desmandos na estatal
só os que queriam privatizá-la. Pessoalmente, eu não veria nada demais que a
vovó Dilma fosse um pouco mais relaxada com a criança. Aos quatro anos, Gabriel
não ameaça o povo brasileiro, por quem, acho, tem de ser estimulado a sentir
amor, não medo. Já a administração pública, ah, esta sim…
A presidente poderia, por
exemplo, não ter usado o Bolsa Família para ganhar votos e, pior de tudo, tomar
votos. Seu lema, em relação a uma política de Estado, poderia ser este: “Não
pega porque é do povo brasileiro”. Dilma me obriga a encerrar assim: ela pode
ser mais presidente, isto é, mais permissiva, com o seu netinho. E que seja
mais vovó com a coisa pública: “Não pega porque é do povo brasileiro”.
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