Josias de Souza
Alguém precisa levar para Dilma Rousseff uma cópia do último depoimento
do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa à Justiça Federal. Ocorreu em 8
de outubro, em Curitiba. Coisa pública. Nada a ver com a delação premiada feita
em segredo. Presidiu a audiência o juiz Sérgio Moro. Antes de encerrar o
interrogatório, ele perguntou a Paulo Roberto se desejava dizer algo.
E o interrogado: “Queria dizer só uma coisa, Excelência. Eu trabalhei na
Petrobras 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos,
gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos.”
Paulo Roberto emendou: “Se houve erro —e houve, não é?— foi a partir da
entrada minha na diretoria por envolvimento com grupos políticos, que usam a
oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles dizem muito isso.
Então, esse envolvimento político que tem, que tinha, depois que eu saí não
posso mais falar, mas que tinha em todas as diretorias da Petrobras, é uma
mácula dentro da companhia…”
Nesta segunda-feira, já reeleita para
um novo mandato de quatro anos, Dilma falou ao Jornal Nacional. Questionada sobre
o escândalo da Petrobras, sucedâneo do mensalão, a presidente respondeu que
espera justiça, “doa a querm doer”. Disse que fará “o possível para colocar às
claras o que aconteceu.”
Dilma vociferou: “Não vou deixar pedra sobre pedra. Vou investigar.
[...] Eu vou fazer questão que a sociedade brasileira saiba de tudo. Eu não
concordo que isso leva à crise. Acho que o que leva à crise no Brasil é as
suposições, as ilações e as insinuações.”
Pois bem, para evitar suposições, ilações e insinuações sobre sua
dificuldade de entender o sentimento de mudança que quase a arrancou do
Planalto, Dilma deveria convocar os jornalistas para repassar-lhes três
declarações:
1. 'Lula errou ao entregar diretorias
de estatais como a Petrobras a prepostos de partidos políticos'.
2. 'Eu errei duas vezes: como
presidente do Conselho de Administração da Petrobras, por silenciar ante a
chegada da ilicitocracia à estatal. Como
presidente da República, ao manter o doutor Paulo Roberto no comando da
diretoria de Abastecimento da Petrobras entre janeiro de 2011 e abril de 2012'.
3. 'No meu segundo mandato, diretores
de empresas públicas serão escolhidos pelapresidenta da
República, não por aliados políticos de baixa qualificação moral'.
Enquanto Dilma não pronunciar essas três frases, o lero-lero do “doa a
quem doer” e a conversa mole do “não deixarei pedra sobre pedra” serão palavras
ocas. O repórter acredita que a encrenca funciona como o futebol. Ou o vôlei. O
sujeito pode ser supertalentoso, mas não marca gol, não faz o ponto sozinho.
Tem toda uma engrenagem por trás do lance: a agremiação, o preparador
físico, o massagista, o técnico e, mais importante, o time em ação, armando
toda a jogada que resultará no chute ou na cortada indefensáveis.
Na corrupção é igualzinho. O governo se autodefine como “de coalizão”,
leva as diretorias da Petrobras ao balcão, esquece o recato, confunde a
atividade pública com a privada… Enfim, arma toda a jogada. O corrupto apenas
pratica a corrupção.
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