Eu
tinha pensado, confesso, numa intenção um tanto cabotina, em dar de presente a
Dilma Rousseff o meu quinto livro, que vai ser lançado no mês que vem. Mas
mudei de ideia depois de assistir a duas de suas entrevistas, uma à TV Globo e
outra à TV Record. Deixarei meu livro pra lá. Enviarei à represidenta um
dicionário. Pode ser o Aurelião, o Houaiss ou o Grande Dicionário Sacconi da
Língua Portuguesa, que já traz a palavra “petralha”, uma criação deste escriba,
que o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, detesta. Ele
acha que isso é cultura do ódio. Entendo. Cultura do amor é afirmar que o
adversário, se for eleito, vai extinguir o Bolsa Família. Mas, agora, deixo
isso de lado.
À
Globo, mostrando que sua gestão não é dada apenas à contabilidade criativa,
Dilma afirmou que, durante a campanha, seu governo foi atacado “diuturna e
noturnamente”. À Record, disse que, se a crise hídrica que há em São Paulo
ocorresse em algum governo da situação, eles, os seus apoiadores, seriam
criticados “diuturna e noturnamente”.
Escreveu
o poeta Olavo Bilac que a língua portuguesa é, “a um tempo, esplendor e
sepultura”. No caso de Dilma, falta o esplendor. A represidenta acha que
“diuturno” quer dizer aquilo que acontece “de dia”, daí que “diuturnamente”
seria o contrário de “noturnamente”, palavra que, de resto, não existe. O
conjunto da obra é digno de Odorico Paraguaçu, o lendário prefeito criado por
Dias Gomes. Faz sentido: a forma como o governo usou o Bolsa Família na eleição
fez de boa parte do Brasil uma verdadeira Sucupira, não é mesmo?
Lula
sempre espancou a língua portuguesa com notável desenvoltura. Nunca ninguém deu
muita bola porque se sabe que, embora muito inteligente, teve, de fato, pouca
instrução formal. Não é o caso de Dilma, que, ao menos frequentou os bancos
universitários. Se ela quer falar como povo, que tire então o “diuturno” do seu
vocabulário; se quer recorrer ao vocabulário dos mais instruídos, então precisa
se instruir.
Em
tempo: “diuturno” quer dizer aquilo que dura muito tempo, que se prolonga, que
subsiste. Na origem, a palavra latina “diuturnos” estava, sim, relacionada a
“dia”, mas entendido como um período de 24 horas.
Está
decidido. Meu presente para Dilma será o “O Grande Dicionário Sacconi da Língua
Portuguesa”.
Por Reinaldo Azevedo
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