O PT
fez a sua segunda “Virada Cultura”. Mais um desastre! Infelizmente! A boa sorte
não costuma acompanhar a incompetência. Para que os leitores de outros Estados
e de outras cidades tenham uma informação básica: a iniciativa começou em 2005,
no primeiro ano da gestão de José Serra à frente da Prefeitura da maior cidade
do país. E já nasceu como um sucesso de público. A ideia era promover 24 horas de
atividades culturais nos mais variados pontos da cidade. Aqui e ali, ocorriam
pequenos problemas, mas nada muito significativo.
No
ano passado, a coisa já não andou bem: duas pessoas foram assassinadas. Neste
2014, no segundo evento organizado pela gestão petista, a sensação foi de
fiasco. O tempo, claro, não ajudou. Mas a incompetência foi pior do que a
chuva. E, para piorar tudo, a violência.
Houve
nada menos de 18 arrastões na madrugada de sábado para domingo. Há quaro
pessoas internadas em estado grave, duas delas feridas a bala e duas outras a
faca. A Polícia Militar, que teve muito trabalho, estima em 13 mil o número de
abordagens feitas. Houve mais de cem detenções.
Em
2013, a gestão petista já foi criticada por ter concentrado os eventos na
região central da cidade — quando a ideia original da Virada era justamente
levar eventos para a periferia. Neste ano, houve ainda menos palcos, atraindo
menos público, embora o evento tenha custado 13% a mais — estima-se em R$ 13
milhões.
O
tempo ruim, a desorganização e a violência forçaram o cancelamento de diversas
apresentações. O grupo Demônios da Garoa, um patrimônio da cidade, cancelou a
sua participação acusando desrespeito e falta de condições. Segundo o produtor
da turma, eles foram impedidos, sem qualquer justificativa, de instalar a sua
própria mesa de som. Sergio Rosa, o Pimpolho, desabafou à Folha: “De
repente o cara te joga dentro da Cracolândia. Não é o fato de estar na
Cracolândia. Mas ali perto do palco tinha um mau cheiro, um negócio degradante.
Você acha que a gente iria até lá e não ia querer fazer o show se tivesse
condições?”
A
banda de rap Pollo, agendada para as 4h da madrugada deste domingo, também
cancelou sua apresentação. Rafael de Melo, produtor, narrou à Folha: “Cheguei com a equipe por volta de 1h30 para montar
o show. Mas, por volta das 2h, houve uma briga, e as coisas saíram do controle.
Começaram a saquear uma loja, subiram no palco, invadiram os camarins”.
Contra
todas as evidência, no entanto, Juca Ferreira, secretário de Cultura da cidade
de São Paulo, viu um sucesso danado e diz que a virada vai continuar.
Existem
picaretas em São Paulo
Um
pouco de memória, vamos lá. Já escrevi a respeito, mas volto ao assunto. Quando
surgiu na capital, em 2012, o tal movimento “Existe Amor em SP”, tirei um
sarrinho aqui. Era gato escondido com o rabo de fora. Estava na cara, ou no
rabo, que era gato. Tratava-se apenas de mais um “movimento popular”, ou
“organização espontânea”, ligada ao PT. Informação para o leitor que não é na
cidade: o tal grupo se dizia “apartidário” e interessado apenas em impedir a
eventual eleição de Celso Russomanno (PRB). Estranhei e ironizei porque não
nasci ontem. Esse negócio de “movimento apartidário” contra um candidato em
particular era coisa por demais suspeita, especialmente quando o dito-cujo,
como era o caso, havia conquistado fatias do eleitorado tradicionalmente
petistas. Assim, era evidente que atacá-lo beneficiava o nome petista na
disputa, Fernando Haddad.
Criar
grupos “apartidários” para intervir no debate público é uma prática que remete
aos primeiros dias do partido. Conheço isso como a palma da mão. A rigor, a
prática não difere muito da relação que a legenda mantém com os sindicatos que
estão sob a sua orientação. Os sindicalistas, nesse caso, não estão
principalmente dedicados à defesa da categoria que representam. Ao contrário:
podem até lutar contra os interesses objetivos do grupo se, num dado momento,
os interesses do partido o exigirem. O PT não está sozinho nessa prática. A
UNE, por exemplo, desde a sua refundação, é um feudo do PCdoB. Os sucessivos
comandos da entidade estão se lixando para os interesses dos estudantes. O
PSOL, bastante presente nas universidades públicas, age do mesmo modo com os
centros acadêmicos ou diretórios centrais que conquistam.
Com
o advento das redes sociais, emprestar caráter “popular” àquilo que é
partidária e ideologicamente orientado se tornou ainda mais fácil. Por quê?
Porque a antiga militância, e sei bem do que falo, exigia tempo, dedicação,
aplicação à causa. As reuniões só podiam ser feitas com a presença física dos
mobilizados. Hoje em dia, não! Basta estar conectado à rede. Dez ou 15
profissionais do partido, pagos pra isso, conseguem criar o movimento de
opinião na Internet e marcar uma concentração em algum ponto da cidade a que
podem comparecer centenas e até alguns poucos milhares de pessoas. Ou por
outra: era mais difícil arregimentar idiotas úteis no passado. Hoje em dia, é
moleza.
Pois
bem… O tal movimento “Existe Amor em SP” foi tratado pela imprensa paulistana —
onde tinha muitos amigos e porta-vozes informais — como uma espécie de “nova
voz da cidade”, como uma expressão genuína das ruas. É mesmo?
Pois
é… No ano passado, o que fez Haddad? Contratou toda a turma! E ela que responde
hoje pela organização da Virada Cultural e pelo seu segundo ano de desastre.
Eis
aí: existem incompetentes em São Paulo. E picaretas também!
Por Reinaldo Azevedo
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