segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Tristes feudos, por Mary Zaidan

A política provoca sentimentos antagônicos: acirramento de ânimos e desalento, conformismo e ativismo desenfreado, desinteresse de muitos, indignação de alguns. Seja como for, sem ela não há saída. A equação é cristalina: quanto maiores a participação e a pluralidade na representação política, maiores serão as exigências e as chances de desenvolvimento de uma cidade, região ou país.

Os estados do Maranhão e de Alagoas que o digam. Piores entre os piores, há anos eles travam uma luta árdua pelo último lugar no ranking de Desenvolvimento Humano (IDH), com Alagoas na rabeira e o Maranhão na 26º posição.
São estruturas de poder diferentes, mas de práticas quase idênticas: o Maranhão tem um só dono há mais de cinco décadas, o clã Sarney, e Alagoas alguns, Collor de Mello, Renan Calheiros, Teotônio Vilela. Terras que apostam suas fichas na ignorância -- 22,5% dos alagoanos e 19,3% dos maranhenses são analfabetos. Terras em que a ideologia e o partido são a família, que o Estado é a sala íntima do governante da vez.
Por mais graves que sejam a explosão de violência no presídio de Pedrinhas e o reflexo dela nas ruas de São Luís, com queima de ônibus e morte de uma criança de 6 anos ordenada por facções criminosas, elas são apenas parte do subdesenvolvimento imposto ao povo maranhense.
Reportagem do jornalista Demétrio Weber, publicada em O Globo informa que o Maranhão tem o maior percentual de miseráveis do país, 12,9%, tendo sido, na última década, o que menos conseguiu combater a pobreza extrema.
E daí? “O Maranhão está indo muito bem, talvez seja o único estado do Brasil que vai ter todas as suas cidades interligadas por asfalto”, diz a governadora Roseana, não deixando dúvidas quanto às escolhas de seu governo: prefere os empreiteiros e as obras visíveis. Isso explica por que dos 1,6 milhões de domicílios maranhenses só 7,6% têm acesso à coleta e tratamento de esgoto; apenas 184 mil residências têm banheiro, coleta e ligação à rede, 570 mil têm fossas rudimentares e 228 mil nem mesmo banheiro e vaso sanitário.
Nesse item, Alagoas está melhor na corrida entre os péssimos: as estruturas de saneamento chegam a 9,6% dos domicílios. Não alcançam 300 mil dos 3,3 milhões de habitantes do estado de Collor, Renan e Teotônio, ainda que este último tenha a seu favor a redução da miséria absoluta de 19% para 7,8% nos últimos 10 anos, sete dos quais sob sua tutela. Um pouquinho melhor, mas anos-luz de distância do que deveria ser.
Não é nada fácil mudar estruturas de poder enraizadas há décadas. Só o voto tem o dom de fazê-lo. Do contrário, continua-se pagando as lagostas de Roseana e a cabeleira de Renan.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail:
maryzaidan@me.com

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