Um
estrangeiro ou um marciano que visitassem o Brasil e decidissem se inteirar dos
números da nossa economia certamente esperariam ver uma nação grata ao
agronegócio, quase reverente, reconhecendo que, afinal, o setor livra o país do
buraco. Em vez disso, os agricultores brasileiros têm de enfrentar a difamação
promovida por setores do governo e da imprensa, pelo MST, por ONGs que se
apresentam como porta-vozes de índios e quilombolas e até por atores da Globo e
alguns comediantes, que não resistem à tentação de pôr a sua ignorância
engajada a serviço da desinformação. Recentemente, o ataque mais boçal à
produção agrícola brasileira e ao homem do campo partiu de uma autoridade do
governo. Refiro-me ao senhor Paulo Maldos, velho conhecido deste blog, que é
Secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência —
braço-direito de Gilberto Carvalho. É aquele que aparece ali no alto. Já chego
ao caso. Antes, é preciso lembrar alguns números para que se possa fazer um debate
instruído.
Em
2013, a balança comercial brasileira teve o seu pior desempenho em 13 anos, com
um saldo positivo de, atenção!, apenas US$ 2,5 bilhões. E, na verdade, ele é
falso. Tem mandracaria aí, uma das muitas artimanhas da contabilidade criativa.
O país registrou como entrada US$ 7,7 bilhões por conta da (falsa) exportação
de sete plataformas de petróleo que, na verdade, não saíram de Banânia: foram
fabricadas aqui, compradas por empresas como a Petrobras no exterior e alugadas
para operar no Brasil. Entenderam? Sem o truque, a balança teria fechado no
vermelho: US$ 5,2 bilhões.
E o
agronegócio com isso? Pois é. Leiam post na home. No ano passado, o superávit
comercial do setor foi de US$ 82,91 bilhões. Só para vocês terem uma ideia: o
país exportou em 2013 US$ 242,17 bilhões — US$ 99,97 bilhões desse total —
41,28% — pertencem ao agronegócio. Em contrapartida, importou modestos US$
17,06 bilhões — apenas 7,11% de um total de US$ 239,61 bilhões. Vejam que
coisa: os brasileiros gastaram só em viagens no exterior, no ano passado, US$
23,125 bilhões — 35,6% mais do que tudo o que importou o setor que livra o país
do buraco.
Aplausos?
Reconhecimento? Reverência? Que nada! O agronegócio brasileiro — na verdade, os
produtores rurais de maneira geral — é tratado a tapas e pontapés. E, claro!,
no grupo dos detratores que vai lá no primeiro parágrafo, é preciso incluir
certo ambientalismo doidivanas. Um setor da economia opera com eficiência
máxima para, na prática, financiar a farra daqueles que o difamam. Ou haveria o
circo se começasse a faltar pão — inclusive sobre a mesa dos brasileiros?
Porque é preciso deixar claro que o agronegócio opera a preços competitivos lá
fora e abastece o mercado interno com uma das comidas mais baratas do planeta.
Tudo isso é matéria de fato, não de gosto. As coisas são assim porque assim são
as coisas. Não são matéria de gosto, de opinião, de achismo.
Acontece
que…
Acontece
que uma das configurações que assumiram as esquerdas contemporâneas prevê,
deixem-me ver como chamar, a “reindianização” do Brasil. Mais números, que são,
sim argumento: esse fantástico desempenho do agronegócio brasileiro é obtido
com a agricultura e a pecuária ocupando pouco mais de 27% do território
nacional. É nesse espaço que se produzem aqueles números que nos livram da
bancarrota.
Atenção:
essa área corresponde ao dobro daquela que é hoje ocupada por reservas
indígenas, que abrigam uns 600 mil índios, onde não se produz uma espiga de
milho. Ao contrário: os indígenas brasileiros — bem como boa parte dos sem-terra
— se alimentam com cestas básicas fornecidas pelo poder público: sim, são os
alimentos produzidos pelo “detestável”… agronegócio!!! Os comediantes, de fato,
teriam com o que se fartar caso buscassem se informar, fugindo da piada fácil e
do discurso ideológico bocó.
Maranhão
Brasil
afora, multiplicam-se os confrontos entre índios e produtores rurais,
decorrentes, na maioria das vezes, da reivindicação para ampliar áreas de
reserva já estabelecidas ou da decisão da Funai — e seus antropólogos invisíveis
—, de considerar indígenas territórios em que agricultores estão instalados há
mais de século.
Neste
exato momento, a tragédia de Pedrinhas não é o único crime — ou penca deles —
que se comete no Maranhão. Há outro em curso. Agricultores instalados há
décadas numa área declarada como pertencente aos índios Awá-Guajá terão de
deixar suas terras. Atenção! São 1.200 famílias — perto de 6 mil pessoas. A
própria Justiça admite que a esmagadora maioria é formada por agricultores
pobres, que têm pequenas propriedades. O ódio ao agronegócio contamina, agora,
até os pequenos produtores.
De
volta a Maldos
Pois
bem, na semana retrasada, o senhor Paulo Maldos falou à Voz do Brasil sobre o
assunto e disse a seguinte barbaridade (em vermelho):
“A
maioria dos ocupantes que se encontram ali vivem da extração da madeira,
plantação de maconha e outros ilícitos, como já foi identificado há pouco tempo
trabalho escravo na região. Então, a gente tem uma crise humanitária, digamos,
em que você, por um lado, povos indígenas sem contato algum com a nossa
sociedade, ou um contato muito recente, e, por outro lado, representantes,
digamos, da nossa sociedade, que são o que temos de mais criminoso. Então, uma
situação que o estado tem que se fazer presente, dando suporte a uma decisão
judicial”.
Existem
madeireiros na região? Sim! Há pessoas praticando crimes por ali? Não duvido.
Mas é a regra? Não! Ao contrário. A maioria das famílias é formada de gente que
ganha a vida honestamente, produzindo alimentos. A fala é absurda, truculenta,
escandalosa. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da CNA reagiu (em
azul):
“A
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil vem a público repudiar as
declarações levianas, irresponsáveis e ideológicas de um servidor público mau
intencionado, contra as quais buscará as medidas judiciais cabíveis.”
A
presidente Dilma obrigou Maldos a se desmentir. Em nota, ele tentou remendar
(em vermelho):
“Em
relação à desintrusão da terra indígena Awá-Guajá gostaria de esclarecer que
não foi minha intenção generalizar e afirmar que os agricultores que se
encontram naquele local são plantadores de substâncias ilícitas. No local vivem
muitos agricultores corretos e decentes. Se houve qualquer mal entendido a
partir de minhas declarações, deixo claro que não foi essa minha intenção.”
A
fala dele à Voz do Brasil é muito clara. De resto, este senhor tem uma atuação
pregressa conhecida. Já lembrei aqui alguns de seus feitos.
Maldos
é braço-direito de Carvalho. A ele cabe conversar com os movimentos sociais.
Essa “conversa” assume um sentido muito particular: na prática, o governo os
organiza e os financia. Maldos foi, por exemplo, o coordenador-geral do grupo
de trabalho criado pelo governo federal para promover a desocupação de uma
região chamada Marãiwatséde, em Mato Grosso.
Como
ele trabalha? Nessa área, havia uma fazenda chamada Suiá-Missú, que abrigava,
atenção!, um povoado chamado Posto da Mata, distrito de São Félix do Araguaia.
Moravam lá 4 mil pessoas. O POVOADO FOI DESTRUÍDO. Nada ficou de pé, exceto uma
igreja — o “católico” Gilberto Carvalho é um homem respeitoso… Nem mesmo
deixaram, então, as benfeitorias para os xavantes, que já são índios
aculturados. Uma escola que atendia a 600 crianças também foi demolida. Quem se
encarregou da destruição? A Força Nacional de Segurança. Carvalho e Maldos
foram, depois, para o local comemorar o feito. Republico este vídeo
impressionante que mostra o que restou daquela comunidade.
Maldos
já disse a interlocutores que não descansa enquanto 25% do território
brasileiro não forem destinados a reservas indígenas. Tem dito também que a
violência dos índios é compreensível porque isso é uma espécie de direito à
rebelião. De novo: o Brasil já destina hoje a menos de 600 mil índios (de um
total de pouco mais de 800 mil) uma área correspondente a 26,6 Holandas, 11
Portugais ou duas Franças. Maldos quer 40 Holandas, 17 Portugais e 3,1 Franças.
Agora o Pinheirinho.
Pinheirinho
Maldos
não é um qualquer. Trata-se, reitero, de um profissional do conflito — e não da
resolução de conflitos. Vocês devem se lembrar da desocupação do Pinheirinho,
no interior de São Paulo. A Justiça determinou — e não cabia contestação à
ordem — a desocupação de uma propriedade. Carvalho e Maldos acompanhavam tudo
de perto. A Polícia Militar não podia mandar a Justiça às favas. Tinha de
cumprir a ordem. O governo federal poderia ter resolvido tudo com uma
assinatura: bastava desapropriar o terreno. Não o fez. Ficou esperando o
conflito. Esperando? Não! Fez um pouco mais do que isso.
No
dia da desocupação, adivinhem quem estava lá, ajudando a organizar a
“resistência” dos invasores? Acertou quem chutou “Paulo Maldos”. Depois ele
veio a público, com grande estardalhaço, anunciar que tinha sido atingido por
uma bala de borracha. ATENÇÃO: ELE SE NEGOU A FAZER EXAME DE CORPO DE DELITO.
Saiu a exibir uma bala de borracha por aí (foto no alto), dizendo ter sido
atingido por um artefato daquele e posando de herói. Sim, uma tragédia poderia
ter acontecido. Não aconteceu. Forças do oficialismo chegaram a denunciar ao
mundo a existência de mortos e desaparecidos. Era tudo mentira.
Eis
aqui um agricultor que está sendo expulso de sua terra no Maranhão. É este
homem que Maldos considera “o que há de mais criminoso no Brasil”.
Encerro
As
1.200 famílias que lá produzem seu sustento acabarão deixando a terra. A
exemplo do que se viu em Raposa Serra do Sol, não se plantará mais nenhum grão
ou pé mandioca por lá. Se não saírem por bem, pais de família serão coagidos
pelas forças policiais. Hoje, são donos do seu destino. O governo lhe oferece
como saída se cadastrar no programa de reforma agrária.
Escrevi
na tarde de ontem um texto sobre a expansão do Bolsa Família. Brasileiro bom é
brasileiro dependente da caridade oficial, não é mesmo? Gente que produz tem
mais é de ser tratada a chicote. Sem querer pautar comediantes, dou uma
dica: o próprio ouvidor da Secretaria Nacional de Direitos Humanos confirmou,
em depoimento na Câmara dos Deputados, que os direitos fundamentais dos antigos
moradores da fazenda Suiá-Missú foram violados. Quem se importa?
Afinal
de contas, direitos, para que possam ser considerados “humanos”, têm
necessariamente de ser direitos de alguma minoria sociológica influente no
imaginário esquerdopata. Brasileiro pobre que trabalha que se dane. Que vá
pedir esmola a Lula e Dilma, pô!
Por Reinaldo Azevedo
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