Acho
uma desnecessidade moral (embora haja razão técnica, já chego lá) preso tomar
banho frio. Pra quê? Ninguém merece isso! Poucas coisas podem ser tão
destetáveis. De resto, esse tratamento não corrige ninguém. Falo por mim. Um
chuveiro frio desperta “meus instintos mais primitivos”, para lembrar frase com
que Roberto Jefferson brindou José Dirceu — no caso, o que acordava os tais
instintos…
Existe
um troço chamado Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Está subordinado
ao Ministério da Justiça. O titular da pasta é José Eduardo Cardozo. Os
petistas estão entrando no 12º ano de governo, não? Se achassem que os presos
devem ter banho quente, já teriam tomado as devidas providências, não é mesmo?
E
Maria do Rosário, este poema épico do humanismo nacional? Por que, até agora,
não acusou esse tratamento desumano? Os que estão com pena de Dirceu e demais
companheiros devem dirigir suas questões a esses dois luminares do petismo.
Existe,
é claro, uma razão para que seja assim. Não é conveniente que presos tenham
acesso a fios elétricos. Descartem-se, pois, chuveiros dessa natureza. Um
sistema de caldeira, elétrico ou gás, suponho, seria estupidamente caro. De
todo modo, eis uma questão com a qual, até agora, os brasileiros não haviam se
defrontado. Como a Papuda recebeu moradores ilustres, então a questão surgiu.
Há
certo tipo de humanista no Brasil que deveria vir com uma tarja preta,
advertindo que o consumo de suas ideias pode gerar graves perturbações
psíquicas. Todo mundo sabe o que todo mundo sabe: os presídios brasileiros, com
algumas exceções, são verdadeiros pardieiros. A tortura a presos políticos
ainda é um tema quente e alimenta uma indústria bilionária de indenizações, mas
quase nada se diz sobre a tortura a presos comuns, uma realidade cotidiana. Na
verdade, até isso se politiza: atribui-se, o que é escandalosamente mentiroso,
a prática a uma herança do… regime militar.
Os
meliantes intelectuais que sustentam essa falácia não tiveram nem o trabalho de
ler “Memórias do Cárcere”, obra estupenda, escrita por um comunista: Graciliano
Ramos. Vejam lá as condições em que eram confinados tanto os presos comuns como
os inimigos do regime getulista, durante o Estado Novo. Há muito tempo se
tortura no Brasil. Mas só os presos com pedigree ideológico mobilizam os nossos
sedizentes progressistas.
E o
mesmo se diga de algo mais prosaico, muito menos agressivo: a água fria. Agora
que os a Papuda recebeu os presos estrelados, a questão virou um tema nacional.
Parecia razoável que o sujeito que bateu um carteira tomasse um banho frio, mas
há gente chocada que José Dirceu, que chefiou a quadrilha do mensalão, segundo
o STF, seja submetido ao mesmo tratamento.
A
República foi proclamada em 1889.
Por Reinaldo Azevedo
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