sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Renan ficou sem comida em casa. Ôôôôôô, dó!

Acabou a comida na residência oficial do presidente do Senado. A despensa e a geladeira esvaziaram depois que foi cancelada, há 15 dias, uma licitação superfaturada para a aquisição de mantimentos. A lista de compras incluía 25 quilos de camarão vermelho grande, 20 quilos de frutos do mar e 1,7 tonelada de 33 tipos de carnes. Coisa de R$ 98 mil.
A repórter Maria Lima conta que Renan Calheiros e seus familiares viram-se compelidos a matar a fome fora de casa. Ouvida, a assessoria da presidência do Senado informou: “Renan está almoçando no restaurante do Senado, pagando do próprio bolso.” Assombro! “Sua esposa também está comendo fora.” Espanto!! “A licitação vai ser redimensionada para eliminar itens superfaturados e supérfluos.” Estupefação!!!
“Também vai haver corte na quantidade de camarão e outros itens.” Hã, hã… “A ideia é cortar mais da metade do custo antes previsto e adequar as quantidades apenas para o presidente e sua esposa.” Ah, tá! “Os servidores não mais farão suas refeições no local, porque recebem ticket alimentação.” Hummm…
Solidário, o estômago decidiu divulgar uma carta aberta ao presidente do Senado. O texto vai abaixo:
Caríssimo senador,
O senhor não me conhece. Permita que me apresente. Moro onde olho nenhum me alcança, no ermo das entranhas. Sou ferida exposta que não se vê. Sou espaço baldio entre o esôfago e o duodeno.Trago das origens uma certa vocação para a tragédia. Não deve ser por outra razão que venho do grego: ‘stómachos’.
Se pudesse dar entrevista, resumiria assim o oco de minha existência: ‘É dura a vida de víscera.’Às vezes, presidente, invejo o coração que, quando sofre, é de amor. Eu jamais tive tempo para sentimentos abstratos. Perdoe-me o pragmatismo estomacal. Mas só tenho apreço pelo concreto: o feijão, o arroz, a carne…
Meu projeto de vida sempre foi arranjar comida. Danço no ritmo da emergência.Meu mundo cabe no intervalo entre uma refeição e outra. Meu relógio, caprichoso, só tem tempo para certas horas: a hora do café, a hora do almoço, a hora do jantar… Eu entendo o seu drama, senador.
Sem comida, meu relógio ficou louco. Passou a anunciar a chegada de cada novo segundo aos gritos. Nunca tive grandes ambições. Não quero glória. Tampouco desejo um mandato de senador. Sonho com a solidariedade de uma cesta básica, a compaixão de um grão escorregando faringe abaixo.
Ardem-me as paredes, bombardeadas por jatos de suco gástrico. Mas já não sofro, senador. Sem alimento, encontrei a paz na melancolia da fome. A privação levou-me à ante-sala de outra esfera. Consola-me, senador, a certeza de que sua rotina alimentar logo estará normalizada. Quanto a mim

Temente a Deus, sei que Ele há de acomodar no meu céu uma cozinha como a da residência oficial da presidência do Senado, tão farta que me propicie uma fome de senador, dessas que a gente resolve simplesmente abrindo a geladeira. Força, Excelência!

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