Foi baixa, muito baixa, baixíssima a
adesão à primeira chamada do programa ‘Mais Médicos’. Dos 15.460 profissionais
que planeja contratar para atender à clientela do SUS nos fundões do Brasil, o
governo só conseguiu atrair 938 brasileiros. Para o ministro Alexandre Padilha
(Saúde), ficou entendido que a importação de
profissionais será mesmo inevitável. De onde? Citou Espanha, Portugal,
Argentina e… Cuba.
Um artigo
veiculado no mês passado no Jornal da USP esmiúça o modelo de exportação de
médicos adotado por Cuba. Chama-se Juan López Linares o autor do texto,
disponível aqui. Nascido
e graduado na ilha dos irmãos Fidel e Raul Castro, Juan naturalizou-se
brasileiro. Hoje, é professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos da USP. Declara-se “a favor” da vinda de médicos cubanos ou de
qualquer outra parte do mundo. Porém…
Juan diz recear que um eventual
acerto com Cuba inclua no “pacote” alguns “interesses espúrios” da ditadura dos
irmãos Castro e ameaças às “liberdades individuais” dos médicos cubanos. Eis
algumas das observações do professor:
1. Levando adiante o plano de importar médicos cubanos, o governo
brasileiro teria de se entender com o regime de Havana, não com os
profissionais. “Isso significa, na prática, que mais de 50% do salário pago
pelas autoridades brasileiras” não chegaria aos bolsos dos médicos. Serviria
“para alimentar a ditadura cubana.”
2. O salário mensal de um médico em Cuba, escreve o professor Juan, “não
supera os R$ 100”. Por isso, eles consideram o trabalho no estrangeiro, mesmo
quando prestado na África, “um sacrifício desejável.”
3. Cuba impõe aos médicos que envia ao estrangeiro um leque de suplícios
baseados num vocábulo: não. Os doutores não podem viajar, não estão autorizados
a participar de congressos, não podem tomar parte de movimentos políticos, não
isso e não aquilo. O desrespeito às proibições sujeita os infratores a uma
punição draconiana: retornar a Cuba.
4. “A experiência mostra que uma parte não desprezível dos médicos
termina ‘fugindo’ dessa situação mediante o casamento com um cidadão local ou a
emigração para um terceiro país”, escreveu o professor Juan. Para a grande
maioria dos médicos cubanos, viajar para trabalhar em outro país (mesmo nos
países mais pobres da África) é um sacrifício desejável.
5. O doutor Juan prossegue: “A experiência mostra que uma parte não
desprezível dos médicos termina ‘fugindo’ dessa situação mediante o casamento
com um cidadão local ou a emigração para um terceiro país.”
6. Juan diz dar razão às entidades médicas brasileiras quanto à exigência
de submeter os médicos cubanos ao teste de conhecimentos profissionais, o
Revalida. As estatísticas do exame, informa o doutor, indicam que “somente 20%
dos médicos formados em Cuba passam nas provas” –a cifra inclui os brasileiros
que estudam em Havana. Gente indicada “pelos partidos políticos favoráveis ao
regime dos Castros.”
Considerando-se os alertas do
professor, o governo brasileiro arrisca-se a importar mais problemas do que
médicos se levar adiante o plano de incluir Cuba na equação.
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