Sempre
considerei que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), no cargo há estonteantes 24
anos, faz o marketing do bobalhão. Ninguém sobreviveria por tanto tempo na vida
pública sendo tão sonso, tão bocó, tão zé-mané. Então, a melhor coisa que tenho
a dizer sobre ele é isto: essa estupidez sempre foi falsa. Isso sempre lhe
conferiu um certo ar de inocência que o tornava também politicamente inimputável.
Entendo. As pessoas olham pra ele e pensam: “É, ninguém seria louco de fazer
uma maracutaia com Suplicy”. Sabedor disso, ele usa a “honestidade” como seu
único ativo eleitoral. Ou por outra: o que é uma obrigação de todos nós se
transforma, na sua propaganda, num diferencial.
Ocorre
que o substantivo “honestidade” pode abrigar qualificativos, não é? Digamos que
ele realmente nunca tenha enfiado a mão no bolso de ninguém — até porque sempre
foi um homem rico, e daí deriva parte do seu suposto charme… Mas pergunto: e
intelectualmente honesto, ele é? Quando resolveu se perfilar com alguns
facínoras, como Cesare Basttisti e um grupo de sequestradores, cabia-lhe, ainda
assim, o distintivo de “honesto”? Sigamos.
Nunca
caí, pois, nessa conversa mole de que ele é uma espécie de maluco-beleza de
terno e gravata. Depois de tomar conhecimento do vídeo abaixo, no entanto,
confesso que já não tenho tanta certeza de sua sanidade mental. Parece que a
possibilidade de ser demitido do Senado pelo povo, depois de 24 anos, o tirou
mesmo do eixo. O ainda senador por São Paulo, acreditem, defendeu em entrevista
à jornalista Maria Lídia que jovens infratores, mesmo os que cometeram crimes
hediondos — latrocínio e estupro, por exemplo — cumpram penas alternativas,
como “dar aula de português e de alfabetização” e “trabalhar como enfermeiros
em hospitais”.
Maria
Lídia, a gente nota, ainda tenta dar uma ajudazinha, sugerindo, por meio da
interrogação, que ele restrinja a proposta apenas àqueles que cometeram infrações
leves. Mas Suplicy também pertence àquela escola dos que não se deixam
intimidar pelo mundo real. Que nada! Ele quer o benefício para todo mundo.
Assim, o “jovem” que, eventualmente, estourou os miolos de um inocente pode,
daí a algum tempo, ensinar análise sintática. Assim: “Eu matei um homem”.
Sujeito da frase: “eu”; “matei”: verbo transitivo direto; “um homem”: objeto
direto…
Chega
a ser asqueroso. Na sequência de sua resposta, a gente nota, ele aproveita para
voltar a seu samba de uma nota só: a defesa da renda mínima — que ele chama de
“renda básica da cidadania”. É aquele exotismo que concederia uma pensão mensal
a todos os brasileiros, a quem precisa e a quem não precisa também. Seríamos
todos iguais diante da bondade do Estado… Pior: ele relata o dia em que foi
falar com jovens infratores, aos quais teria dito: “Eu tenho a convicção de
que, se houvesse a renda básica de cidadania para vocês e todos os de sua
família, vocês não teriam cometido os delitos que os fazem estar aqui presos”.
No fim, parece, eles cantaram juntos.
Suplicy,
como a gente nota, acha que é a pobreza que leva as pessoas a cometer crimes.
Dito de outro modo: Suplicy acha que os pobres estão mais sujeitos a delinquir,
o que é de um preconceito escandaloso.
Para
encerrar: certamente não foi a miséria que levou à cadeia a cúpula do seu
partido, não é mesmo, senador? No máximo, trata-se de um caso de miséria moral.
Por Reinaldo Azevedo
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