Josias de Souza
Homenageado
na Câmara com duas medalhas, Lula fez um belíssimo discurso. O ponto alto foi a defesa que fez do Congresso e da atividade
política. Disse que é preciso “aprofundar a democracia”. Algo que exige “a
coragem de romper com a acomodação, com os velhos vícios e com o receio de
mudar.” Parece ter descoberto o que faltou à sua Presidência de oito anos.
Lula disse ter visto nas ruas de
junho “uma lição de civilidade democrática.” Mas ficou entristecido ao perceber
que parte da rapaziada nega a política, “como se nenhum político prestasse,
como se nenhum partido prestasse.” Percebeu que os jovens “não faziam distinção
partidária nem ideológica”, como se na política fosse “todo mundo no mesmo
saco.”
Mais cedo,
no Senado, em outra sessão festiva, Lula rasgara seda para José Sarney, um político que chamava de “ladrão” no passado e
que acolheu como aliado na Presidência, entregando-lhe nacos energéticos do
Estado. A plateia teve a impressão de que será mais fácil distinguir partidos e
ideologias na hora em que Lula decidir se fica dentro do saco ou fora dele.
Generoso, Lula atribuiu as
“conquistas” obtidas na sua administração ao “diálogo político envolvendo o
governo, o Legislativo e a sociedade.” Gentil, evitou dizer que seus aliados
entendiam melhor a linguagem das verbas e dos cargos. “Não me conformo ao ver
banalizada nos dias de hoje a desqualificação da atividade política e das
instituições republicanas.”
Lula tem
razão. Noutros tempos, a esculhambação era menos disseminada. Tão restrita que,
no início da década de 90, um político recém-saído do universo sindical
virou música do
Paralamas do Sucesso ao dizer que havia 300 picaretas no Congresso. “Todos os
agentes políticos tem uma parcela de responsabilidade nesse fenômeno”,
discursou Lula. “Ninguém defenderá o Parlamento e os partidos se essas
instituições não fizerem por merecer o respeito da sociedade.”
O que fazer? “Aprimorar os mecanismos
de transparência e controle externo, não compactuar com o compadrio, o
fisiologismo, o desvio, a confusão entre o público e o privado”, lecionou Lula.
“São obrigações republicanas básicas, das quais o agente público deve ser
exemplo para o cidadão comum.”
Bem se vê que, na Presidência, Lula
realmente “não sabia” de nada do que se passava ao redor. A compra de
consciências no mensalão, o toma-lá-dá-cá, as ONGs companheiras… Ele não viu
nadinha da Silva. Passou dois mandatos tentando descobrir que diabo, afinal,
estava fazendo no Planalto. Só agora se dá conta de que talvez não sirva como
exemplo. Mas é um fantástico aviso.
Num instante em que a afilhada Dilma
Rousseff desfaz a carranca para distribuir sorrisos aos sócios do condomínio, o
padrinho que montou a sociedade revelou da tribuna da Câmara que quem sai aos
seus não endireita mais: “Nada contribui tanto para desmoralizar a política do
que ver partidos atuando como reles balcões de negócios, alugando prerrogativas
como tempo de proganda e o acesso a fundos públicos.”
Na noite desta terça-feira, Lula
encontra-se com Dilma para apertar os pontos da costura de 2014. Nesta quarta,
após participar da festa de aniversário de 10 anos do Bolsa Família, ele
retornará para São Bernardo. Antes de embarcar talvez receba a visita da
autocrítica. Ela lhe mostrará o espelho. E dirá: “Olá, vim apresentar você a
você mesmo.”
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