Nunca
existiu um projeto propondo a cura gay. Essa é uma falácia militante que uniu a
quase totalidade da imprensa ao ativismo gay, hoje o mais organizado do país.
Basta que ele aponte o dedo contra esse ou aquele, e o sujeito que se vire para
provar que tomada (modelo antigo) não é focinho de porco.
Pra começo de conversa,
reportagens chamavam o Projeto de Decreto Legislativo de “Projeto de Lei”. O
texto, como já demonstrei
aqui, derrubava dois trechos de uma resolução do
Conselho Federal de Psicologia que não encontram paralelo em lugar nenhum do
mundo: interferem de forma indevida na relação entre paciente e psicólogo e
patrulham até os eventos de que os profissionais da área podem participar.
Criou-se, no entanto, a farsa,
repetida na imprensa cotidianamente como verdade, de que o texto “propunha” a
“cura gay”. Um “inteliquitual” chegou a dizer na GloboNews que isso acarretaria
custos ao estado. O texto foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara e gerou um quiproquó danado. A maioria das pessoas que se
posiciona a respeito não leu nem a Resolução do Conselho nem o PLD.
Bem, o autor do Projeto de
Decreto Legislativo — e não do Projeto de Lei — é o deputado João Campos
(PSDB-GO). O partido o pressionou e chegou a emitir nota opondo-se ao texto.
Ele acaba de anunciar que abandonou o texto — que já estava condenado. Como já
foi aprovado em uma comissão, pode, em tese, ter sequência, ser submetido a
outras, até chegar a plenário. Mas não vai acontecer. Sem paternidade, será
arquivado.
Bem, chega dessa história!
Morre, assim, o que nunca houve: um projeto de “cura gay”. A resolução do
Conselho Federal de Psicologia, como está (ver link), permite travestir mera
perseguição, até ideológica, de questão técnica. Insisto no paralelo: é como se
um Conselho Federal de Jornalismo (por enquanto, não existe) estabelecesse que
“nenhum jornalista pode participar de eventos contrários às organizações
populares”…
Lembro que o Projeto de Decreto
Legislativo, que não era Projeto de Lei, mantinha intocado o trecho da
resolução que deixa claro que homossexualidade não é patologia — logo, não se
cura o que não é doença. O texto apenas protegia alguns profissionais de uma
intromissão indevida no seu trabalho. Andei recebendo alguns desaforos de
psicólogos e psicólogas e coisa e tal. Como sabem, não dou bola nem para
alarido das ruas. Apresentem-me uma só resolução semelhante no mundo, que seja
judiciosa até sobre o tipo de eventos de que psicólogos podem participar, e a
gente começa a conversar.
Também nesse caso, vale a
máxima: se a coisa só existe no Brasil, ou é jabuticaba ou é besteira. A
militância venceu os fatos. Não é a primeira nem será a última vez.
Por Reinaldo Azevedo
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