Reportagem
publicada ontem pelo Estadão evidenciou o uso absolutamente abusivo de
jatinhos da FAB pelo primeiro escalão do governo Dilma. Trata-se de um
disparate. As tentativas de explicação, então, são grotescas!
O mais criativo
na resposta foi José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. Ainda acho que ele
estava tentando tirar um sarro da reportagem.
Quero
apelar à memória dos leitores que já acompanhavam assuntos parecidos no governo
FHC e trazer uma informação aos leitores mais jovens. Lembram-se dos procuradores Luiz Francisco e Guilherme Schelb, os dois
Torquemadas ao tempo em que os tucanos estavam no Planalto? Sumiram, não é? Por
onde andarão? E cadê os outros representantes do Ministério Público?
Em
dois anos de governo Dilma, as 18 aeronaves que podem servir aos ministros
voaram 10,8 mil horas, em 5,8 mil voos. Perfizeram 8 milhões de quilômetros.
Dava par ir à Lua e voltar 10 vezes. Alexandre Padilha, ministro da Saúde, fez
469 voos; em segundo lugar, vem Cardozo, com 353. Ninguém descobriu, até agora,
o que faz Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, mas ele aparece em
terceiro lugar na lista, com 317. O levantamento vai até fevereiro.
Vejam
bem: dois anos e 2 meses de governo somam 789 dias. Descontem-se, no período,
208 entre sábados e domingos (e olhem que dou de barato os feriados). Sobram
581 de trabalho. Padilha viajou 469 vezes. A sua média mensal foi de 20 mil
quilômetros.
O Estadão faz uma comparação interessante: para tentar desarmar as
bombas-relógio mundo afora, Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA,
percorre a média mensal de 32 mil quilômetros.
Não
esqueci dos dois representantes do MP, não. Já chego lá. Ao se explicar ao
jornal, Padilha lembrou que é o gestor do SUS e que tem de ir aonde o problema
está. Tudo muito certo, tudo muito bem! Mas por que a maioria de suas viagens
tem São Paulo como destino?
Justamente onde ele tem fincadas as suas raízes
políticas e cujo governo, se tudo sair como espera (não adiante negar), ele
pretende disputar? Aí a explicação começa a ficar ruim, né?
E
onde está o Ministério Público? Ministros do governo FHC tiveram de responder a
ações de improbidade por muito menos do que isso. E que se note: nem estou
entrando no mérito do que se fez antes. Estou apenas constatando a diferença de
tratamento. “Ué,
mas os ministros de Dilma não estavam trabalhando?” O terceiro maior
useiro dos aviões, Fernando Pimentel, fez a maioria de suas viagens para… Belo
Horizonte.
Cardozo
E o
ministro da Justiça, o que apresentou a desculpa mais ousada e original (já
falo a respeito)? Reproduzo trecho de reportagem do Estadão:
“A
FAB também foi buscar ministro no retorno de evento que celebrou os dez anos do
PT no poder, em 20 do mês passado, em São Paulo. Naquele dia, uma quarta-feira,
José Eduardo Cardozo (PT) despachou em Brasília até as 17h, viajando em seguida
para a festa. Não pediu o benefício na ida, mas, segundo as planilhas da
Aeronáutica, usou um na volta, no dia seguinte, às 15h.”
Ou
ainda:
“Ocupa o segundo lugar no pódio o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ele decolou 353 vezes a bordo da frota da Aeronáutica, muitas vezes para destinos onde não teve compromissos de sua pasta. Sua viagem deste ano para o carnaval paulistano é um exemplo: ida e volta taxiados pela Força Aérea, no período que coincidiu com sua passagem pelo camarote no Anhembi.”
“Ocupa o segundo lugar no pódio o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ele decolou 353 vezes a bordo da frota da Aeronáutica, muitas vezes para destinos onde não teve compromissos de sua pasta. Sua viagem deste ano para o carnaval paulistano é um exemplo: ida e volta taxiados pela Força Aérea, no período que coincidiu com sua passagem pelo camarote no Anhembi.”
A
desculpa
Cardozo
explicou tudo direitinho. Aprendemos com o professor — também apontado como
pré-candidato ao governo de São Paulo — que ele viaja muito para nosso bem e
para preservar o patrimônio público. Afirmou: “O uso de aeronave da FAB, nos casos em
que ocorreu, não ofende a lei e a moralidade. Até porque os aviões necessitam
voar determinadas horas para sua correta manutenção”. Ah, bom!
Na
lista dos que mais requisitam aeronaves, está até Celso Amorim, hoje ministro
da Defesa. É o sexto, com 279 viagens. Por quê? Vai ver anda cuidando
pessoalmente das nossas fronteiras…
A
farra já custou R$ 44,8 milhões ao bolso dos brasileiros. E o Ministério
Público, até agora, silenciou.
Por Reinaldo Azevedo
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