Jerson Kelman, O Globo
O editorial do GLOBO (13/1) mostra que os gastos para a prevenção dos efeitos dos desastres naturais têm sido inferiores ao que consta do orçamento governamental e conclui que “o grande desafio é melhorar como um todo a administração pública na prevenção de tragédias e nas ações de reparos de danos”.
Imagino que a reação dos leitores tenha sido de indignação com a aparente ineficiência e indolência da máquina pública. Provavelmente atribuirão aos “políticos” a responsabilidade pelas catástrofes que acontecem todos os anos durante a estação chuvosa.
Será isso mesmo? A responsabilidade deve recair apenas sobre a ineficiência e indolência do setor “chapa branca”? Penso que não.
Para começar, é preciso reconhecer que a máquina pública não se move sozinha. Ela é acionada por despachos e decisões de servidores públicos. São pessoas que em sua maioria gostariam de estar prestando um bom serviço. Mas que recebem continuamente uma sinalização na direção contrária.
Explico: se um servidor público toma uma decisão de boa-fé que depois se revele equivocada, provavelmente será punido. Para isso há um exército de controladores entrincheirados nas corregedorias, tribunais de contas e Ministério Público.
Se “empurrar com a barriga”, por exemplo, se pedir mais esclarecimentos ou engavetar o processo, provavelmente seguirá na carreira, sem grandes perturbações, a despeito da paralisia causada à máquina pública.
Por outro lado, se tomar a decisão correta, é quase certo que não será premiado. Ao contrário, como a administração pública no Brasil é avessa à meritocracia, provavelmente será visto com desconfiança.
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