quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cada uma que eu leio...Ou: como um delinquente intelectual se expressa!

O artigo publicado pelo Sr. Ramatis Jacino, do Inspir (???) é digno deste ser: mistura alhos com bugalhos e disto tenta extrair uma lógica. Só podia sair besteira. 

Leiam o que este “doutorando” escreve, reproduzido em parte da imprensa ideológica, mantida com verbas governistas, abaixo em itálico. Em negrito, destaco suas besteiras.

Ramatis Jacino, do Inspir: O sonho do ministro Joaquim Barbosa pode virar pesadelo publicado em 22 de outubro de 2012 às 13:50 

Que sonho do ministro? Por acaso, o Sr. Ramatis anda perscrutando a personalidade, o sono do Ministro? Joaquim Barbosa não expressou nada que seja fora dos autos e do que a lei prevê. Neste caso, a insinuação deste ser, Ramatis, é, no mínimo, estranha, para não dizer que é loucura mesmo... 

Negros que escravizam e vendem negros na África, não são meus irmãos 
 Negros senhores na América a serviço do capital, não são meus irmãos 
 Negros opressores, em qualquer parte do mundo, não são meus irmãos... 
Solano Trindade 

O racismo, adotado pelas oligarquias brasileiras para justificar a exclusão dos negros no período de transição do modo de produção escravista para o modo de produção capitalista, foi introjetado pelos trabalhadores europeus e seus descendentes, que aqui aportaram beneficiados pelo projeto de branqueamento da população brasileira, gestado por aquelas elites. 

Sempre o discurso das “zelites’ contra o povo. Me admira muito que este Sr. fale sobre isto, uma vez que ele próprio é elite. Já espiou sua culpa, Ramatis? Já dividiu seus bens com o “povo”? Afinal, quem custeou seu mestrado na USP, ou vai me dizer que não gastou nada? Se não gastou, então explorou o povo é? 

Impediu-se, assim, alianças do proletariado europeu com os históricos produtores da riqueza nacional, mantendo-os com ações e organizações paralelas, sem diálogos e estratégias de combate ao inimigo comum. Contudo, não há como negar que o conjunto de organizações sindicais, populares e partidárias, além das elaborações teóricas classificadas como “de esquerda”, sejam aliadas naturais dos homens e mulheres negros, na sua luta contra o racismo, a discriminação e a marginalização a que foram relegados. 

Ah, certo. Ele fala aqui do PT, lógico, uma vez que deve ser filiado, não é mesmo? Agora, uma coisa que o PT não faz é ser aliado do povo, não mesmo. Senão, não aconteceria o mensalão, não teríamos o filhinho do “mito” milionário e outras coisas mais..

No campo oposto do espectro ideológico e social, as organizações patronais, seus partidos políticos e as teorias que defendem a exploração do homem pelo homem, que classificamos de “direita”, se baseiam na manutenção de uma sociedade estamental e na justificativa da escravidão negra, como decorrência “natural” da relação estabelecida entre os “civilizados e culturalmente superiores europeus” e os “selvagens africanos”. 

Mistura tudo neste parágrafo, querendo dizer que o capitalismo é ruim; que empresas são vilãs...Quanta falta de cultura, apesar de estar se doutorando. Se o capitalismo fosse ruim como o Sr. prega, o bolsa-família não teria existido e, talvez, “as esquerdas”, com o o Sr. chama, jamais teria eleito dois Presidentes. E, ressalte-se, o PT jamais, em seu período como governo, foi de esquerda. Quem patrocina mensalão, quem deixa os bancos com lucros estratosféricos, não pode ser considerado de esquerda. 

É equivocada, portanto, a frase de uma brilhante e respeitada filósofa negra paulistana de que “entre direita e esquerda, eu sou preta”, uma vez que coloca no mesmo patamar os interesses de quem pretende concentrar a riqueza e poder e àqueles que sonham em distribuí-la e democratizá-la. Afirmação esta, que pressupõe alienação da população negra em relação às disputas políticas e ideológicas, como se suas demandas tivessem uma singularidade tal que estariam à margem das concepções econômicas, de organização social, políticas e culturais, que os conceitos de direita e esquerda carregam. 

Quem demonstrou esta “singularidade tal” que seu texto afirma foi sua “esquerda”, seu Ramatis, com suas “políticas afirmativas”, que mais excluem do que incluem. O tempo mostrará a razão! 

As elites brasileiras sempre utilizaram indivíduos ou grupos, oriundos dos segmentos oprimidos para reprimir os demais e mantê-los sob controle. Capitães de mato negros que caçavam seus irmãos fugidos, capoeiristas pagos para atacarem terreiros de candomblé, incorporação de grande quantidade de jovens negros nas polícias e forças armadas, convocação para combater rebeliões, como a de Canudos e Contestado, são exemplos da utilização de negros contra negros ao longo da nossa história. 

Assim como brancos, mestiços, mamelucos, coloridos (ops, sem o duplo “l”) foram “usados” (sua expressão) para votar no ‘mito”, no salvador da pátria, na verdade única e incontestável que vocês pregam. Vade retro, seu Ramatis! 

Havia entre eles quem acreditasse ter conquistado de maneira individual o espaço que, coletivamente, era negado para o seu povo, iludindo-se com a idéia de que estaria sendo aceito e incluído naquela sociedade. Ansiosos pela suposta aceitação, sentiam necessidade de se mostrarem confiáveis, cumprindo a risca o que se esperava deles, radicalizando nas ações, na defesa dos valores dos poderosos e da ideologia do “establishment” com mais vigor e paixão do que os próprios membros das elites. A tragédia, para estes indivíduos – de ontem e de hoje -, se estabelece quando, depois de cumprida a função para a qual foram cooptados são devolvidos à mesma exclusão e subalternidade social dos seus irmãos. 

Quanta balela, seu Ramatis....a afirmativa que faz não corresponde à verdade: Pelé, Joaquim Barbosa e tantos outros que por ai estão, trabalhando em suas áreas, continuarão trabalhando, vivendo de seus MÉRITOS e COMPETÊNCIAS... Querer negar isto é, no mínimo, querer posar de imbecil. Agora, fácil é garantir a sobrevivência nas “tetas” estatais, fundar um instituto e disto sobreviver, à custa de falar besteira. 

São inúmeros os exemplos deste descarte e o mais notório é a história de Celso Pitta, eleito prefeito da maior cidade do país, apoiado pelos setores reacionários, com a tarefa de implementar sua política excludente. 

E desenvolveu a política do ‘nada faz”, “sem competência”, etc. Fez curso com o Sr?

Depois de alçado aos céus, derrotando uma candidata de esquerda que, quando prefeita privilegiou a população mais pobre – portanto, negra – foi atirado ao inferno por aqueles que anteriormente apoiaram sua candidatura e sua administração. Execrado pela mídia que ajudou a elegê-lo, abandonado por seus padrinhos políticos, acabou processado e preso, de forma humilhante, de pijama, algemado em frente às câmeras de televisão. Morreu no ostracismo, sepultado física e politicamente, levando consigo as ilusões daqueles que consideram que a questão racial passa ao largo das opções político/ideológicas. 

Só o negro é pobre, então? Sem comentários. Aliás, o padrinho político dele é o mesmo de seu candidato, Haddad. Paulo Maluf, quem diria, virou ídolo da “esquerda”. 

A esquerda, por suas origens e compromissos, em que pese o fato de existirem pessoas racistas que se auto intitulam de esquerda, comporta-se de maneira diversa: foi um governo de esquerda que nomeou cinco ministros de Estado negros; promulgou a lei 10.639, que inclui a história da África e dos negros brasileiros nos currículos escolares; criou cotas em universidades públicas; titulou terras de comunidades quilombolas e aprofundou relações diplomáticas, econômicas e culturais com o continente africano. 

Não conseguiu efetivar ainda os alegados acima e negou tantos outros direitos....E tenta amordaçar a imprensa, acabar com o Estado Democrático de Direito, instituir o Pensamento Único (P.U.), acabar com a oposição.... Que governo bom, hein? Ditadura, o retorno! 

Joaquim Barbosa se tornou o primeiro ministro negro do STF como decorrência do extraordinário currículo profissional e acadêmico, da sua carreira e bela história de superação pessoal. Todavia, jamais teria se tornado ministro se o Brasil não tivesse eleito, em 2003, um Presidente da República convicto que a composição da Suprema Corte precisaria representar a mistura étnica do povo brasileiro. 

E por causa disto, deve obediência ao senhor vassalo? 

Com certeza, desde a proclamação da República e reestruturação do STF, existiram centenas, talvez milhares de homens e mulheres negras com currículo e história tão ou mais brilhantes do que a do ministro Barbosa. 

Tão ou mais brilhantes que você para exprimir opiniões, com certeza existem! 

Contudo, nunca passou pela cabeça dos presidentes da República – todos oriundos ou a serviço das oligarquias herdeiras do escravismo – a possibilidade de indicar um jurista negro para aquela Corte. Foi necessário um governo de esquerda, com todos os compromissos inerentes à esquerda verdadeira, para que seu mérito fosse reconhecido. 
A despeito disso, o ministro Barbosa, em uníssono com o Procurador Geral da República, considera não haver necessidade de provas para condenar os réus da Ação Penal 470. Solidariza-se com as posições conservadoras e evidentemente ideológicas de alguns dos demais ministros e, em diversas ocasiões procura ser “mais realista do que o próprio rei”. 

Provas existem os borbotões, Sr. Ramatis. O senhor sabe ler, por acaso? Ou é a clássica “cegueira ideológica” que lhe aflige? E, para relembrar, nenhum Ministro deve ser vassalo de um Presidente da República, pouco importa quem ele seja. Mas, o senhor pensa ao contrário hoje, não é mesmo? Pena que na época de FHC era contra isso. Pensamento volátil o seu, não? Ou seria um caso de bipolaridade? 

Cumpre exatamente o roteiro escrito pela grande mídia ao optar por condenar não uma prática criminosa, mas um partido e um governo de esquerda em um julgamento escandalosamente político, que despreza a presunção de inocência dos réus, do instituto do contraditório e a falta de provas, como explicitamente já manifestaram mais de um dos integrantes daquela Corte. 

Lógico que um integrante iria absolver até com o flagrante, afinal, foi advogado de um dos réus, do partido...E o outro, identificado com a ideologia “dominante”, absolve até a mosca que rondava o local dos acertos...Agora, imputar ao Ministro pecha de “influenciável” só porque votou contra os interesses criminosos da quadrilha, é argumento falacioso e demonstra bem a sua ignorância sobre as leis brasileiras. Aliás, leis estas que os seus “amigos” querem ignorar. 

Por causa “desses serviços prestados” é alçado aos céus pela mesma mídia que, faz uma década, milita contra todas as iniciativas promotoras da inclusão social protagonizadas por aquele governo, inclusive e principalmente, àquelas que tentam reparar as conseqüências de 350 anos de escravidão e mais de um século de discriminação racial no nosso país. 

Então o Ministro está ‘a serviço de alguém”? E o Toffoli, e o Lewandowski, que descaracterizaram o crime descrito no art. 288 do Código Penal, o senhor não fala nada? 

O ministro vive agora o sonho da inclusão plena, do poder de fato, da capacidade de fazer valer a sua vontade. Vive o sonho da aceitação total e do consenso pátrio, pois foi transformado pela mídia em um semideus, que “brandindo o cajado da lei, pune os poderosos”. 
Não há como saber se a maximização do sonho do ministro Joaquim Barbosa é entrar para a história como um juiz implacável, como o mais duro presidente do STF ou como o primeiro presidente da República negro, como já alardeiam, nas redes sociais e conversas informais, alguns ingênuos, apressados e “desideologizados” militantes do movimento negro. 

O senhor está lançando a candidatura do Ministro para Presidente do Brasil? Se não fosse você que lançasse, eu até votaria. Mas, se está fazendo isso, qual interesse você possui neste ato? Esclareça. 

O fato é que o seu sonho é curto e a duração não ultrapassará a quantidade de tempo que as elites considerarem necessário para desconstruir um governo e um ex-presidente que lhes incomoda profundamente. 
 Elaborar o maior programa de transferência de renda do mundo, construir mais de um milhão de moradias populares, criar 15 milhões de empregos, quase triplicar o salário mínimo e incluir no mercado de consumo 40 milhões de pessoas, que segundo pesquisas recentes é composto de 80% de negros, é imperdoável para os herdeiros da Casa Grande. Contar com um ministro negro no Supremo Tribunal Federal para promover a condenação daquele governo é a solução ideal para as elites, que tentam transformá-lo em instrumento para alcançarem seus objetivos. 

O STF não está julgando o Governo, mas integrantes deste, que cometeram crimes. Desqualificar este fato é ignorar a lógica, a realidade e a verdade. Volte para seu mundinho faz de conta. 

O sonho de Joaquim Barbosa e a obsessão em demonstrar que incorporou, na íntegra, as bases ideológicas conservadoras daquele tribunal e dos setores da sociedade que ainda detém o “poder por trás do poder” está levando-o a atropelar regras básicas do direito, em consonância com os demais ministros, comprometidos com a manutenção de uma sociedade excludente, onde a Justiça é aplicada de maneira discricionária. 

Discricionária seria a atitude de absolver criminosos e vender isto como “o máximo da moralidade”. Vá ler a Constituição da República Federativa do Brasil. Aprenda antes a lei que vige no país. 

A aproximação com estes setores e o distanciamento dos segmentos a quem sua presença no Supremo orgulha e serve de exemplo, contribuirão para transformar seu sonho em pesadelo, quando àqueles que o promoveram à condição de herói protagonizarem sua queda, no momento que não for mais útil aos interesses dos defensores do “apartheid social e étnico” que ainda persiste no país. 
Certamente não encontrará apoio e solidariedade nos meios de esquerda, que são a origem e razão de ser daquele que, na Presidência da República, homologou sua justa ascensão à instância máxima do Poder Judiciário. Dos trabalhadores das fábricas e dos campos, dos moradores das periferias e dos rincões do norte e nordeste, das mulheres e da juventude, diretamente beneficiados pelas políticas do governo que agora é atingido injustamente pela postura draconiana do ministro, não receberá o apoio e o axé que todos nós negros – sem exceção – necessitamos para sobreviver nessa sociedade marcadamente racista. 

Que ameaça tola, seu Ramatis. Quem disse que um Ministro do STF irá apelar a um “meio de esquerda”? Quanto delírio, hein! 

Ah, só para esclarecer: este tal de Ramatis Jacino é professor, mestre e doutorando em História Econômica pela USP e presidente do INSPIR – Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial. Alguém já ouviu falar? Garanto que o governo já, liberando verba pública para mantê-lo...

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