segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A violência que assusta

A violência explodiu no Rio de Janeiro e deu as caras no noticiário. Acontece de tempos em tempos. Daqui a pouco ela submerge de novo.

As horríveis consequências do câncer da droga e do narcotráfico só são notícia em situações muito particulares: quando produzem imagens fortes (como no sábado) ou quando a tragédia vaza dos bolsões sociais em que deveria ficar confinada.
Quando isso acontece, o mercado consumidor e a turma do lado de fora do muro vestem-se de branco e pedem "paz".

Mas, e as Olimpíadas de 2016? De duas, uma. Ou dá-se um jeito definitivo até lá, o que é improvável, ou haverá um armistício. Não é por ser bandido que o traficante é burro. E governantes costumam ser pragmáticos.

O recrudescer da insegurança no Rio chama o debate. Além das estatísticas, que já não são boas, a vida tem revelado outro fato: o tráfico de drogas e a violência que ele produz deixaram de ser um problema só das grandes concentrações urbanas, espalharam-se pelo país. E seguem a rota do dinheiro.

Quanto mais dinheiro, mais crime. Óbvio. Não há comparação, por exemplo, entre as estatísticas de criminalidade na periferia de São Paulo, ou do Rio, e os números do sertão nordestino.

Mas a pobreza não é muito maior no sertão do Nordeste do que na região metropolitana do Rio, ou de São Paulo? E a taxa de criminalidade não deveria ser proporcional ao grau de pobreza, à escassez das oportunidades para ganhar a vida?

Tem algo que não fecha nesse diagnóstico.

Alguns anos atrás, com o governo Luiz Inácio Lula da Silva já de vento em popa, um estudo apoiado pelo Ministério da Saúde procurou desenhar o mapa da violência no Brasil. A conclusão foi interessante.

As regiões mais pobres (semiárido nordestino, Vale do Jequitinhonha) são bem menos violentas do que as áreas metropolitanas, do que a fronteira agrícola do Norte e do Centro-Oeste e do que as fronteiras com o Paraguai e a Bolívia.

Querem mais? O governo de Lula gaba-se de ter feito a maior inclusão social da História do Brasil. Segundo o governo, nunca antes neste país tantos pobres passaram para a classe média e nunca tantos jovens pobres receberam oportunidades de estudo e ascensão social.

Dado que a violência e a insegurança também cresceram, estamos diante de um buraco na teoria. De duas uma: ou o governo Lula não é essa brastemp no campo social, ou então não dá para relacionar mecanicamente mais prosperidade com menos criminalidade.

Este governo melhorou a situação dos pobres, até os adversários reconhecem. O furo na tese está na segunda opção. Só melhorar os indicadores sociais não ataca os problemas da segurança.

É bonito o presidente da República dizer que prefere construir escolas a erguer presídios. Pega bem entre os intelectuais e coloca os críticos na defensiva. Mas é um discurso que, como outros, esgota-se em si, vira fumaça quando entra em contato com a realidade. O país precisa de escolas e precisa também de prisões.

Assim como precisa de uma Justiça que consiga traçar com clareza a linha demarcatória entre honestos e criminosos. Assim como precisa de leis que sirvam para punir proporcionalmente os crimes, de acordo com a gravidade.

Não pode querer paz verdadeira um país que deixa solto o jornalista famoso e influente que, em ato de fria vingança, mata com um tiro pelas costas a ex-namorada. E apesar disso continua a viver a vida aqui fora como se nada tivesse feito de errado.

O país precisa de um governo que seja duro contra o crime e os criminosos, sem "coitadismo" e sem sociologismo barato. Duro com a mesma intensidade que Lula impulsiona iniciativas para melhorar a vida dos pobres. O ideal seria juntar as duas características.
Fonte: Blog Noblat

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