terça-feira, 25 de agosto de 2009

Do Blog Josias de Souza, um excelente texto, abaixo reproduzido:
O PMDB, como se sabe, é um partido 100% feito de déficit público. Está no poder para fazer negócios.

Exerce o comando à sua maneira, delegando tarefas. Introduizu na política uma prática comum às empresas: a terceirização.

Hoje, confia os afazeres da Presidência da República a Lula. Reserva para si apenas a tarefa de cobrar resultados.

Assim, o PMDB dispõe de mais tempo para mandar e desmandar no país. A estratégia já havia funcionado bem com FHC.

Sob Lula, o PMDB alcançou a perfeição. O Planalto de fachada vagamente socialista resultou em ótimos negócios.

De olho no mercado futuro de 2010, o PMDB diversifica seus investimentos. O partido já não se contenta com tudo. Quer mais um pouco.

Avesso ao risco, a legenda evita colocar todos os ovos num mesmo cesto. Aplicou um Quércia na apólice Serra e um Temer em Dilma.

Qualquer que seja o resultado do empreendimento eleitoral, a pantomima estará assegurada.

Ao expor os seus produtos na vitrine do horário eleitoral, PSDB e PT atacarão o tipo de política que o PMDB personifica.

De certo modo, será o PMDB esculhambando, por meio de seus terceirizados, o PMDB. Será o PMDB prometendo corrigir os erros que o PMDB cometeu.

E o país elegerá uma nova encenação. Um executivo do PMDB, que manterá tudo exatamente como está, com ares de quem muda absolutamente tudo.

Rendido à lógica negocial do PMDB, o PT protagoniza o caso mais dramático de flexibilização das fronteiras ideológicas.

À medida que Lula foi atualizando o guarda-roupa -do macacão até o Armani-, deslizou, quase sem sentir, para o outro lado.

Súbito, acordou de mãos dadas com Sarney e Renan. No princípio, houve certo pejo. Agora, Lula parece confortável no papel de terceirizado.

É como se o velho sindicalista tivesse se convencido de que quem ele era no passado não estava preparado para o sucesso.

Não tendo escrito nada, Lula esqueceu do que falava. Virou mais tucano que o próprio FHC. Mimetiza a edulcorada retórica do arranjo, do possível.

Lula abandonou as convicções que lhe emprestavam aquele ar de sapo-cururu. Acha que não deve nada ao seu passado, muito menos explicações.

Como administrador do balcão do PMDB, Lula barganhou a própria alma. Vendeu-a, sob a submissão do PT, aos ex-ladrões.

Lula esforça-se agora para aniquilar o que parecia restar de sua maior virtude: a presunção da superioridade moral.

Aproveitando-se do pano de fundo da decomposição do Senado, Lula integrou-se por inteiro à baixeza comum a todos os políticos.

Lula empenha-se para provar que é capaz de ceder a todas as abjeções políticas, inclusive a rendição às alianças esdrúxulas.

Além de aniquilar o PT, Lula vitimou a semântica. Deu à capitulação o nome de “governabilidade”.

A afronta ao léxico é a prova insofismável de que, em política, o cinismo também pode ser uma forma de resignação.

Lula tornou-se uma evidência viva de que, com o passar do tempo, qualquer um pode atingir a perfeição da impudência.

No mensalão, Lula e o PT haviam perdido a virgindade. No “Fica Sarney”, a ex-virtude prostituiu, no bordel do arcaísmo, o restinho de castidade.

O presidente sem-história oferece aos com-nódoas a oportunidade de limpar os prontuários. O passaporte para a remissão é a aliança com Dilma.

Incorporando-se à caravana, o PMDB, um partido a favor de tudo e visceralmente contra qualquer coisa, preservará os seus negócios.

Sobre a lápide do ex-PT, o velho PMDB manterá o acesso às verbas e aos cargos. A presidência, evidentemente, será mantida como parte da cota do Sarney.

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