Na entrevista concedida ao
Jornal Nacional, Marina teve a cara de pau de dizer que só ficou em terceiro
lugar no Acre na eleição de 2010 porque teve de enfrentar inclusive a máquina
do governo do Estado em favor de Dilma. É mentira! Marina é governo no Acre
desde 1999. Seus aliados estão no poder.
Quando fiz a cobrança à agora
candidata do PSB à Presidência sobre o seu silêncio em relação aos haitianos,
não conhecia ainda o artigo que reproduzirei abaixo. Foi publicado no jornal
acreano “Página 20” no dia 26 de abril. Seu autor é ninguém menos do que Fábio
Vaz, marido de Marina e então Secretário Adjunto de Desenvolvimento Florestal,
da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens) do Acre.
ATENÇÃO! ELE SÓ DEIXOU O CARGO NA SEMANA PASSADA, DEPOIS QUE SUA MULHER SE
TORNOU A CANDIDATA OFICIAL DO PSB.
No texto, como vocês poderão
ler (eu o publico com todos os erros do original, sem correção nenhuma), Fábio
Vaz defende com unhas e dentes — e sem nenhum argumento — a ação indecorosa do
governador Tião Viana e destila uma impressionante carga de ódio, preconceito e
ignorância contra São Paulo e contra os paulistas.
Leiam o texto, especialmente os
trechos em destaque. Volto em seguida.
*
Irresponsável quem, cara-pálida?
Irresponsável quem, cara-pálida?
Na última semana, talvez
desapercebido por muitos, assistimos a um exemplo de como é o nosso país no
quesito solidariedade humana. Na sabedoria popular é comum a afirmação de se
identificar nos mais pobres o sentimento de solidariedade para o próximo. Nos
mais ricos encontra-se na maioria das vezes o desprezo, o preconceito e a
prepotência com seu semelhante. Não sei se é assim tão dispare, mas que o
comportamento e pronunciamento do Governo de São Paulo, especialmente a
secretária de estado de Justiça Social, daquele estado contribuiu para
reafirmar o pensamento popular.
O episódio em que a secretária
de SP, na mídia nacional, chamou o Governo do Acre e a Sejudh daqui de
“irresponsável”, por dar encaminhamento aos haitianos que entraram no Brasil
pelo Acre, esse, sim, caracteriza-se uma enorme irresponsabilidade
institucional e de desonestidade intelectual. Evidenciou para os mais atentos a
visão desumana com os mais necessitados, beirando o preconceito, da gestora
pública do estado de São Paulo.
A desonestidade se refere a
ideia que a secretária tentou passar que o Acre estava encaminhando os
imigrantes haitianos para São Paulo como fosse jogando um “problema” para
frente de maneira desarticulada e inconsequente. A “desonesta” (intelectual)
secretária de SP sabe que todos os haitianos estão sendo regularizados no
Brasil por meio de expedição de visto provisório de caráter humanitário. Pois
bem, isso significa que podem se dirigir para qualquer parte deste país
livremente.
Sabemos todos, pelo menos nós
do Acre, que o acolhimento que o Governo Estadual, Prefeitura e sociedade deram
e ainda dão a esses imigrantes é digno de exemplo e louvor. Acredito que, se o
Estado pudesse financeiramente, ainda seria melhor. Em matéria de solidariedade
e demonstração de amor com o próximo, o acolhimento foi do tamanho da alma dos
acreanos.
Vale lembrar que todas as ações
do Acre sempre foram feitas com articulação com Ministério da Justiça e o das
Relações Exteriores, com apoio do Ministério do trabalho, Saúde entre outros.
Aqui vale uma ressalva: o apoio do Governo federal está aquém das suas
possibilidades, penalizando o Estado por duas vezes. A primeira não tendo
competência de controle sobre as fronteiras. Segundo deixando ao governo local
os custos de um tratamento digno que passou ser a imagem do País.
Para quem acompanha a vida
cotidiana, a história econômica e política do país com atenção vai identificar
na posição da secretaria de SP apenas uma fagulha do que é a diferença
econômica, política e social do Brasil. Ela espelha como é identificado os mais pobres e
desfavorecidos na região mais rica do país.
Todos sabemos como são tratados
pela elite de SP os nordestinos, bem vindos apenas para suprir o exército de
força de trabalho para as diversas atividades econômicas como usinas de cana e
construção civil. Conhecemos pelo noticiário como são tratados os irmãos
imigrantes bolivianos em trabalhos análogo a escravidão de grandes marcas de
confecções naquele estado. Não podemos esquecer ser uma das regiões com maior
déficit habitacional e existência das maiores favelas e condições sub-humanas
do país.
Deixemos de lado a violência de
polícia, crime organizado que deixam um governo acuado por chefes em presídios.
Ora quem morre são os mais pobres sempre. Solução para os ricos: condomínio,
carros blindados, seguranças particulares.
Se analisarmos de maneira mais
profunda como eles (SP aqui como os ricos) olham o resto do país e a nossa
região, aqui é apenas espaço de consumo para seus produtos e fonte de recursos
naturais para suas indústrias e serviços. Paramos para pensar quanto saiu
ganhando SP com a isenção e impostos para a indústria automobilística e quanto
nós perdemos? Ganharam vendendo mais carros, inclusive para nós. Perdemos,
exportando nossas renda somada à redução de transferência constitucional (FPE e
FPM) para o Estado e Municípios. Resultado final: eles ficaram mais ricos e
nós, mais pobres. Alguns compraram mais carros, mas a maioria perdeu renda.
Onde se compra mais madeira
ilegal fruto de desmatamento e outras ilegalidades. Não vou falar, pois acharão
que estou com perseguição com SP (lembro: nasci lá). De onde vem o cartel para
impedir que empreendimentos nas regiões mais pobres do país de consolidem como
os nossos voltados para proteína animal como aves, ovos, suínos e peixes? Se o
Acre não for competitivo, e ser justo com os nossos, eles nos engolem.
Falo tudo isso não contra os
“paulistas”, como foram chamados os que vieram do Sul do país nos anos 70. Falo
contra a mentalidade de uma falsa elite, pois se assim fossem lideravam vários
aspectos da vida de um país ao invés de pensarem nos pobres como “problema” ou
como “instrumento de acumular mais riqueza”. Nesse quesito, nossa “elite”
local tem demonstrações dignas não só com os imigrantes haitianos, mas em outras
oportunidades, como foi especialmente o caso do Acre Solidário nas catástrofes
do Rio. A Secretária de SP, de maneira
“articulada” ou “consequente”, ligou para seu correlato no estado do Acre e se
colocou solidária?
Falo não esperando que a
secretária de SP leia ou que a sua elite tome consciência de seu papel. Falo
para nós acreanos nascidos ou que escolheram aqui para viver. Para nos
indignarmos com o que foi dito por esta senhora. Que esta indignação reafirme
nossos atos. Que nossos líderes políticos (com destaque o Governador),
empresarias, religiosos, comunitários e funcionários envolvidos saibam que o
que fizeram e ainda fazem está certo. Que temos orgulho de sermos solidários,
humanos e sempre estender uma mão para o nosso próximo. Que o nosso caminho de
desenvolvimento é difícil e tem muitos poderosos contra de maneira “invisível”.
Que queremos um Acre sempre melhor, mas não copiando o que uns “ricos” tem de
pior. Que o Acre seja sempre inclusivo, do ritmo da Amazônia e cheio de um povo
rico de amor.
*
Fábio Vaz – Secretário Adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens)
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Fábio Vaz – Secretário Adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens)
Voltei
Em matéria de desonestidade intelectual, o sr. Fábio Vaz não deixa ninguém com inveja. Seu texto ataca a secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa de Sousa Arruda, que, em nenhum momento, afirmou que os haitianos não poderiam vir para São Paulo. O que ela criticou foi a decisão do governo do Acre de meter os pobres coitados em ônibus para largá-lo na capital, sem nenhuma articulação prévia com o governo do Estado ou com a Prefeitura, o que mereceu crítica até dos petistas que administram a capital. Mas isso é o de menos no seu artigo.
Prestem atenção aos trechos em
destaque. Segundo Fábio Vaz:
– “Nos mais ricos encontra-se na maioria das vezes o desprezo, o preconceito e a prepotência com seu semelhante”. Isso só não vale, claro!, para os ricos que apoiam Marina Silva.
– Por ter nascido em São
Paulo, Vaz acha que pode falar o que lhe dá na telha. Ocorre que ele é tão
paulista como Ciro Gomes. Só nasceu no Estado. Sua carreira política foi feita
no Acre.
– Segundo o marido de
Marina, os paulistas maltratam nordestinos e só os querem para serviços
subalternos. É o mesmo discurso de Lula. Ignora que este é o segundo estado com
mais nordestinos do Brasil — só perde para a Bahia. Será que isso se deve à
cultura dos maltratos?
– A má-fé deste senhor é
de tal sorte que finge ignorar que os bolivianos que trabalham em condições
inadequadas em São Paulo, no mais das vezes, têm sua mão de obra explorada por
outros bolivianos. De resto, conter a imigração ilegal é um trabalho que cabe
ao governo federal. Será que também essa culpa deve recair sobre os ombros dos
paulistas?
– Segundo o marido de
Marina, São Paulo, vejam vocês, é um Estado que explora… o Acre e as demais
unidades da federação!!! Os paulistas, na sua fantasia, são os ricos
espoliadores. Ele inventou o anti-imperialismo federativo! Imaginem uma reforma
tributária — como Marina diz que pretende fazer — movida com esse espírito. Até
a redução de impostos da indústria automobilística, uma escolha do governo
federal para preservar empregos (inclusive os dos nordestinos), é vista por
esse senhor como uma benesse aos ricos.
– São Paulo também seria o
responsável pelo desmatamento da Amazônia e pelo atraso das outras regiões do
país. Em seu delírio, há um cartel de paulistas para impedir o desenvolvimento
das outras regiões do país. Lendo o seu texto, a gente conclui que o que
atrapalha o Brasil é São Paulo!
– E há este trecho
encantador: “Deixemos de lado a violência de polícia, crime organizado que
deixam um governo acuado por chefes em presídios. Ora quem morre são os mais
pobres sempre. Solução para os ricos: condomínio, carros blindados, seguranças
particulares”. É asqueroso! Este senhor é governo no Acre há 16 anos. O Estado
não chega a ter 800 mil habitantes, população correspondente à da soma do
Grajaú com o Jardim Ângela, dois dos 96 distritos da capital paulista. Mesmo
assim, depois de quatro mandatos petista-marinistas, o Acre tem mais do que o
dobro de homicídios por 100 mil habitantes do que São Paulo. Refaço aqui um
desafio que fiz em coluna publicada na Folha: em 16 anos, vamos ver em que
Estado, relativamente, os indicadores sociais avançaram mais: se no Acre ou em
São Paulo.
Encerro
Não adianta vir com conversa: “Ah, isso, quem pensa, é o marido de Marina, não Marina”. Papo furado! Ele sempre foi um de seus mentores políticos. Esse é o ambiente que ela respira.
Vejo Marina, depois da morte de
Eduardo Campos, tentando se reinventar como defensora da disciplina fiscal e do
tripé da estabilidade — votou contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade
Fiscal —, como amiga do agronegócio (“só do virtuoso”, claro!) e como
admiradora do empreendedorismo paulista. Comigo, não cola! Se eu tivesse um
banco, talvez bastasse a promessa de “independência do Banco Central”. Como não
tenho, interessa-me a Marina inteira, em toda a sua dimensão.
O que vejo acima é uma peça de
ódio a São Paulo e de defesa de um ato indecente do governo do Acre ao qual
este senhor servia. E, agora, o silêncio de Marina sobre a “exportação” de
haitianos está mais do que explicado.
Tivessem nascido bagres, teriam
tido uma advogada entusiasmada.
Por Reinaldo Azevedo
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