O
MTST, os ditos “trabalhadores sem teto”, está descontente com os serviços de
telefonia. Na quarta, seus militantes protestaram na Anatel e nas respectivas
sedes da TIM, Claro e Oi. Não deu tempo de ir à da Vivo. A turma agencia também
essa causa. Um comunicado parece inaugurar a fase holístico-roqueira do
socialismo: “Se acham que a gente vai se contentar só com nossa casa, estão
enganados. Queremos moradia, transporte público de qualidade, telefonia e
internet, e a gente não aceita pagar caro, não”. É o “aggiornamento” dos Titãs
–”A gente não quer só iPhone…”– e o embrião de um novo partido.
Guilherme Boulos, um dos
comandantes do MTST e colunista desta Folha, traz consigo o charme irresistível
da renúncia. Oriundo da classe média-alta, com formação intelectual, prefere
dedicar-se à categoria dos “Sem” –até dos “Sem-Sinal” de telefonia. Lembro-me
do fascínio que tive ao ler, aos 15 anos, “Minha Vida”, a autobiografia de
Trótski. Largou as benesses do pai abastado para morar no quintal do jardineiro
Shvigovski, o revolucionário “do pomar”. Um encanto!
A coisa meio chata para
mim é que eu lia o livro com um fio de lâmpada sobre a cabeça, na cozinha de
modestíssimos dois cômodos, à beira de um córrego fétido. Não demorei a
entender que certa renúncia é um privilégio de classe, não uma superioridade
moral. Dispensar a riqueza abre a vereda para a terra da santidade. A
trajetória contrária é coisa de um parvenu. Muita gente com dificuldades de
acreditar em Deus crê nos profetas.
(…)
Lula foi a encarnação do delírio das esquerdas à espera do “intelectual orgânico” da classe operária. Mas ele se aburguesou sem nunca ter buscado a altitude das ideias. Boulos, não! Ele nos devolve ao refinado Iluminismo francês. Os seus sem-teto são os “sans-cullotes” das fantasias jacobinas –que são, desde sempre, fantasias… burguesas!
Por Reinaldo Azevedo
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