terça-feira, 8 de maio de 2012

Demóstenes, Fux e a exigência de salvar mensaleiros para ser ministro do Supremo. Será verdade?

Está mais do que evidente que a conversa de Carlinhos Cachoeira com seus operadores era marcada por megalomania, “bravatas” e “conversa fiada”, para usar duas expressões do ministro Luiz Fux, do Supremo. Parecia haver ali certa competição para demonstrar influência. Mais um pouco, e o contraventor diria exercer influência na Casa Branca e no Pentágono: “Esse trem aí a gente vê lá com o Obama, com aquela moça lá que nasceu em Anápolis. O Dadá vai ligar pra CIA…” Também o senador Demóstenes Torres gosta de provar a sua desenvoltura e capacidade de mexer os pauzinhos, de marcar reuniões com este e com aquele, pouco importa se do governo ou da oposição… Já expus aqui como, em maio do ano passado, depois que VEJA publicou a reportagem sobre a Delta, ele entrou em ação: na aparência, para investigar tudo; na prática, para não investigar nada. Em conversa com o bicheiro, chega a se orgulhar de sua ação bem-sucedida. Para todos os efeitos, cobrou que o Senado apurasse a denúncia feita pela revista; de fato, comemora a pouca repercussão. Todos ali alimentavam certa fantasia de “donos do mundo”, jactando-se do talento para enganar todo mundo o tempo todo.

É nesse cotexto, pois, que Demóstenes diz a Carlinhos Cachoeira, como revelam Fernando Mello, Breno Costa e Leandro Colon, na Folha de hoje, que Demóstenes diz a Cachoeira que um amigo seu fora convidado para integrar o Supremo. Teria rejeitado a oferta porque o governo Dilma impunha duas condições: que votasse a favor do Ficha Limpa e que absolvesse os mensaleiros. O convidado teria recusado, então, a proposta, aceita, sustenta Demóstenes, por Luiz Fux, que já teria cumprido a primeira parte do acordo. Restaria entregar a segunda: livrar a cara do “chefe da quadrilha” e dos quadrilheiros. Já entro no mérito. Mais alguns detalhes dessa hipótese, que não está só na boca de Demóstenes, como sabem Brasília e todo o mundo político.

Sendo verdadeira a pressão, Rosa Weber teria sido escolhida sob as mesmas condições. E não é segredo pra ninguém que Lula e José Dirceu se articularam para adiar para 2013 o julgamento do mensalão. Caso alcancem seu objetivo, mais dois ministros deixam o Supremo: Cezar Peluso, em setembro, e Ayres Britto, em novembro. O PT, de modo fundado ou não, dá como certo que Peluso votará contra os interesses da “quadrilha”. E tem dúvidas sobre o voto de Ayres Britto. Embora, em linhas gerais, o ministro seja afinado com valores mais à esquerda, também se mostra sensível ao chamado “sentimento da sociedade”… E boa parte da sociedade quer mensaleiros na cadeia porque já se cansou desses vigaristas.

Existirá mesmo esse “amigo” de Demóstenes? Terá sido o convite feito nessas condições? Estaria impondo o governo condições para nomear ministros, que entrariam no tribunal, então, carregando não um notório saber — ou mesmo um perfil ideológico, o que é legítimo —, mas uma sentença? Seria coisa de uma gravidade formidável, próxima do crime de responsabilidade. A votação dessa coisa juridicamente amalucada chamada “Ficha Limpa” (qualquer advogado minimamente informado sabe que se trata de uma inconstitucionalidade; se é bem-intencionada ou não, isso é outra história) jogou o STF num grande nó. Expus os detalhes do rolo aqui no dia 14 de dezembro do ano passado. O voto de Fux foi, para dizer pouco, errático.

Estou endossando a suspeita contra ele? Não! Estou só lidando com matéria de fato. Em tese, custo a acreditar que alguém se preste a tal jogo, embora os dias recentes nos demonstrem, para usar uma metáfora frequente de leitores, que os Poderes da República estão cheios de “Carminhas” — referência à megera da novela das 21h —, com a sua falsa santidade e suas falsas convicções.

Vamos ver: cedo ou tarde, o julgamento do mensalão virá. É bobagem, obviamente, essa história de que só é legítimo votar pela condenação dos mensaleiros. Fosse assim, julgamento pra quê? Os fatos são sobejamente conhecidos. Vamos ver como cada ministro justificará o seu voto. Fux, obviamente, nega que tenha sido indicado nessas circunstâncias e caracteriza os diálogos como “bravatas” e “conversa fiada” de Cachoeira e sua turma, o que também é verdade.

De tudo, o que se tem como certo — aí, sim, sem sombra de dúvidas — é que Lula e Dirceu querem adiar o julgamento para 2013, quando Peluso e Britto já não estiverem mais na corte. Se dois ministros ainda desconhecidos se lhes afiguram mais seguros do que os dois ministros conhecidos, boa a intenção não é, certo?

Por Reinaldo Azevedo

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