segunda-feira, 11 de julho de 2011

Culpado sozinho?

Certo, culpado é o ministro.

Pintou e bordou. Ninguém viu, ninguém notou, ninguém advertiu, ninguém repreendeu, ninguém levou um papo com ele. Fez o que quis, subordinado nenhum reparou, seus iguais na hierarquia não deram falta de nada, seus superiores não fizeram perguntas. Ele é culpado.

Esclarecido esse ponto, é de se colocar uma pergunta inevitável nas circunstâncias: se ele é o culpado, quem à sua volta é inocente?

Anda faltando inocente nessas histórias todas. Vamos deixar de lado as mais antigas e começar do “mensalão”: em todo Palácio do Planalto só o Dirceu sabia? No Congresso todo era só o Roberto Jefferson que sabia? No mundo dos negócios e dos bancos era só o Marcos Valério – o “carequinha” – que sabia?

Agora neste caso: o homem foi Ministro desde 2004, com breve intervalo para se eleger senador. Ocupou esse cargo, cuja importância para o país será difícil exagerar, com inacreditável liberdade e autonomia de movimentos. Fez o que quis e entendeu.

Ninguém, nunca, lhe pediu notícia sobre o que andava fazendo, ninguém conferiu, ninguém viu o que se passava?

Enriqueceu a família em proporções absurdas para tão pouco tempo. A firma do filho teve resultados financeiros espantosos e ninguém notou? A Receita Federal não tem instrumentos que apontem pessoas jurídicas com resultados desse porte em tão pouco tempo?

E os subordinados do Ministro? Ninguém sabia de nada? Ele fazia tudo sozinho sem que nenhum deles percebesse? Como? Ia de noite para o gabinete?

Nunca ninguém – do governo ou da oposição - comentou nada do que se passava no Ministério dos Transportes com alguém de nível hierárquico comparável com o do ministro no governo? Ou a um prócer de seu partido?

E os órgãos de supervisão não notaram nada? A Presidência da República, onde sobejam os órgãos de planejamento e controle da administração pública, não deram conta de nada? Estavam fazendo o quê? Tricô?

Será esse um risco inerente ao chamado ”presidencialismo de coalizão”? O de ver inerme um partido aliado apossar-se de um segmento do Poder Público, e um de seus integrantes dispor dele a seu talante e em proveito próprio?

Aí não há coalizão, há um seqüestro. Não há mais um governo, há diversos governos. Não há Ministérios: há sesmarias, capitanias, satrapias. No alto, vagam Presidentes.

São todos muito decorativos, cada um a seu estilo. Mas sobre eles um dia cairá a parte que lhes cabe.

O culpado do momento pode ser o Ministro. Mas não há quem se possa dizer que seja inocente nesse mafuá.

Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação

Nenhum comentário: