segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Quem diria...ou, a política e suas nuances

Renan vira ‘escudo’ protetor da oposição contra o PT

Roosewelt Pinheiro/ABr

Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) tornou-se, para o Planalto, um aliado de dois gumes. No gogó, Renan é governista. Na prática, distancia-se do PT e faz aliança tática com os oposicionistas PSDB e DEM.

Nas próximas horas, serão rateados entre os partidos os postos de comando na Mesa diretora e nas comissões do Senado.

Em combinação com o Planalto, o petismo ergueu a tese segundo a qual a divisão das poltronas deve levar em conta os blocos partidários, não os partidos.
Se prevalecesse tal entendimento, PSDB e DEM, já alquebrados pela artilharia eleitoral de Lula, seriam humilhados pelo PT.

No comando de um bloco que inclui outros cinco partidos (PSB, PR, PRB, PCdoB e PDT), o PT desceria ao front com uma tropa de 30 senadores.

E a infantaria oposicionista, reduzida a dez tucanos e cinco ‘demos’, evoluiria do Waterloo de 2010 para uma espécie de exílio napoleônico de Santa Helena.


Renan, que dispõe da alternativa de tonificar o seu PMDB num bloco com PP e PTB, converteu seus exércitos em escudo protetor da oposição.
Para o general pemedebê, prevalecem os partidos, não os blocos. A oposição perde poder, mas livra-se da asfixia tramada pelo PT e torna-se devedora de Renan.

Pela regra da proporcionalidade, cada partido escolherá as poltronas que deseja ocupar segundo o tamanho de sua bancada.

Maior legenda do Senado, o PMDB reacomodará José Sarney (AP) na cadeira de predidente. Será a quarta presidência dele. Mais dois anos.
Ao desbancar o PSDB do posto de segunda maior bancada, o PT desalojará o tucanato da 1ª vice-presidência. O posto será ocupado, em sistema de rodízio, por Marta Suplicy (SP) e José Pimentel (CE). Um ano para cada um. Resta definir quem vai primeiro. O PMDB tem a prerrogativa de escolher mais uma posição na Mesa, a 2ª vice-presidência. Só então o PSDB, terceira maior bancada, fará a sua pedida.

O tucanato cairá da 1ª vice para a 3ª Secretaria. É uma espécie de prefeitura do Senado. Dispõe de orçamento anual de cerca R$ 3 bilhões. Trata-se de um cobiçadíssimo ninho de escândalos à espera de moralização. Ex-reduto do DEM, vai ao colo do tucano Cícero Lucena (PB). Ex-prefeito de gestão duvidosa, Lucena chega à posição enrolado em ação do Ministério Público. Sua biografia não rima com a higienização que o posto pede.

Na fila do rateio, vêm a seguir o DEM e o PTB, ambos com cinco senadores. Na legislatura que termina, os 'demos' eram 13. Saíram das urnas com seis. Mas um deles, Eliseu Resende (MG), morreu. Líder do DEM, o senador José Agripino Maia (RN) agarra-se ao regimento para tentar “ressuscitar” Eliseu. Agripino alega que vale a conta da época da diplomação, não a de hoje. Seja como for, o ex-poderoso DEM terá de optar por uma secretaria subalterna –3ª ou 4ª.

Num esforço para atenuar o prejuízo, Agripino rogou a Renan que o PMDB ceda para o DEM a 2ª vice-presidência. Aguarda por uma resposta.

Rateados os postos da Mesa diretora passa-se à divisão das comissões. São duas as mais relevantes: a de Justiça e a de Assuntos Econômicos.
A primeira será do PMDB. A outra, do PT. O PSDB cobiça a de Infraestrutura, por onde passam as nomeações para agências reguladoras e os projetos do PAC. Se vingasse a manobra do PT –blocos em vez de partidos— o tucanato daria adeus à Infraestrutura. Graças a Renan, conserva as chances de obter o posto.

O DEM, que controlava a poderosa comissão de Justiça, terá de se contentar com coisa menos relevante –Agricultura, Assuntos Sociais ou algo assemelhado.

Como Renan não dá ponto sem nó, o PT e o Planalto farejam na movimentação dele um cheiro de 2013.
Expurgado da presidência do Senado em meio a denúnicas, o senador tramaria retornar ao posto nas pegadas de Sarney. Renan adula a oposição para reunir apoios que lhe permitam dar as cartas no Senado nos dois últimos anos da gestão Dilma Rousseff.

Até ontem, o PSDB chamava Renan de adjetivos impublicáveis. Hoje. é fiador do partido.

Depois, querem reclamar que o povo tenha ética e caráter. Vá entender...

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