domingo, 12 de dezembro de 2010

Complexo de Lula se esconde entre Sarney e ACM

Ricardo Stuckert/PR


Na semana passada, em viagem ao Maranhão, Lula abespinhou-se com a pergunta de um repórter. Vale a pena recordar.

A indagação soou apropriada: agradeceria o apoio dado pela oligarquia Sarney ao seu governo?

E Lula, destemperado: "Eu agradeço [o apoio do Sarney]. E a pergunta preconceituosa é grave para quem está há oito anos comigo em Brasília...”

“...Significa que você não evoluiu nada do ponto de vista do preconceito, que é uma doença. O presidente Sarney é o presidente do Senado...”

“...Colaborou muito para que a institucionalidade fosse cumprida. Você devia se tratar, quem sabe fazer psicanálise, para diminuir um pouco esse preconceito".

Pois bem. Na noite desta sexta (10), de passagem pela Bahia, Lula revelou-se, ele sim, candidato a umas boas sessões de análise.

Ao lado do governador Jaques Wagner (PT), o presidente festejou os êxitos de um programa local, o Topa (Todos pela Alfabetização).

Discursou por quase meia hora. A certa altura, afagou Wagner. Enalteceu-lhe o feito de ter prevalecido na Bahia sobre a oligarquia comandada por ACM. Disse:

“Já imaginou? Um cara galego, lá do Rio de Janeiro, vir aqui pra Bahia e ser eleito no primeiro turno... Derrotar a oligarquia que governava esse Estado...”

“...É por isso que eu acredito em Deus. Eu acredito em Deus, entre outras coisas, por essas coisas que acontecem e não têm explicação sociológica, filosófica”.

Ora, qual a diferença entre Sarney e ACM? Nenhuma. Ou, por outra, uma: Sarney não passou um minuto na oposição.

“O Estado não existe pra atender aos senhores que sempre se serviram do Estado”, disse Lula em Salvador. Beleza.

No poder desde as caravelas, o oligarca Sarney serve-se do Estado há cinco décadas. Nos últimos oito anos, com o diligente auxílio de Lula.

No fatídico pronunciamento, Lula reiterou que, depois de “desencarnar”, vai “continuar na vida política, agora muito mais à vontade”. Correrá o país.

“Quando chegar aqui na Bahia, sem compromissos, sem segurança, sem protocolo, sem crimonial pra encher o saco...”

“...Sozinho, como nos velhos tempos, vou poder tomar um negocinho qualquer –não vou dizer o que é—, sem preocupação com a imprensa...”

“...Sem preocupação com a fotografia, vamos conversar mais livremente, sem preocupação com as palavras”.

Antes de inaugurar a temporada de viagens e de se entregar aos inebriantes prazeres de “um negocinho qualquer”, Lula talvez devesse procurar um psicanalista.

Se estivesse economicamente a perigo, poderia recorrer à psicanálise de grupo, dividindo a conta com o repórter que o inquiriu no Maranhão.

Por sorte, deixa a presidência de caixa alta. Pode bancar um psicanalista individual. Desses que oferecem sofá de veludo e abajur lilás.

Em algum ponto entre Sarney e ACM, escondem-se os complexos de Lula. O tratamento não é garantia de cura. Porém...

Porém, com sorte e boa análise, Lula pode pegar todas as suas deformações e juntá-las num único complexo. O complexo da governabilidade.

Verá que, em dois reinados, presidiu um ponto de encontro entre a maluquice político-administrativa e os malucos com fins lucrativos.

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