quinta-feira, 14 de maio de 2009

Baixaria brasileira

Microfones desligados para impedir a CPI da Petrobras

Por mais de uma hora e meia, no fim da tarde de hoje, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), o presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), e Tasso Jereissati (PSDB-CE) insistiram com a Mesa do Senado, para que fosse lido o requerimento de Álvaro Dias (PSDB-PR), de criação da CPI para apurar possíveis irregularidades na gestão da Petrobras, mas de nada adiantou.

Primeiro, Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a sessão, recusou-se a fazê-lo, alegando que, de manhã, numa reunião de líderes, realizada na Presidência da Casa, decidira-se fazer a leitura depois de o presidente da Petrobras ser ouvido, no Senado, em audiência pública. Argumentou também ter de respeitar a hierarquia. É apenas o terceiro secretário da Mesa. E não se rendeu aos tucanos.

Depois, foi a vez do primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), que, acompanhando a discussão pela televisão do seu gabinete, foi para o plenário e assumiu a presidência – mas para manter a recusa, sob o mesmo argumento de que obedecia à decisão dos líderes.

De nada adiantaram os sucessivos chamados de Virgílio para que Sarney, que estava em Brasília – e devia estar acompanhando a sessão, pelo rádio ou pela televisão – fosse ao plenário e assumisse a presidência da sessão.

Virgílio disse que não pudera participar da reunião de líderes por estar participando, em plenário, àquela hora, de sessão especial comemorativa dos 100 anos de criação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Contestou a alegação de que estivera representado pelo líder do DEM, José Agripino (RN).

“Normalmente, ele me representa ou eu a ele, em reuniões para discutir pauta de votação”, explicou, acrescentando não ter sido informado de que se trataria também da CPI da Petrobras. “Se soubesse, teria deixado a sessão especial e ido lá”, afirmou.

Os três senadores tucanos se revezavam nos argumentos de que defendiam simplesmente direito da minoria. “O requerimento tem 32 assinaturas, mais do que as 27 exigidas pela Constituição para a criação automática de uma CPI”, assinalou Virgílio, acrescentando não poderem líderes passarem por cima disso.

“Nem estou falando por mim, isoladamente, pois é decisão unânime da minha bancada.” Frisou que se os líderes, por maioria, podem decidir pelo adiamento da leitura de um requerimento de CPI então se frauda o direito da minoria.

Os tucanos reiteraram que, ao contrário do querem fazer crer governistas, não se trata de CPI “contra” a Petrobras, mas “a favor” da empresa. “Queremos apurar possíveis irregularidades e chegar aos culpados”, assinalou Jereissati. “Feito isso, a empresa sai fortalecida. Não vamos fazer nada de forma irresponsável.”

Heráclito continuava irredutível, até que Jereissati passou a informação de que o primeiro vice-presidente da Casa, o tucano Marconi Perillo (GO), deixara seus compromissos em Goiânia e estava voltando, num jatinho, a Brasília. “Pronto, está resolvida a questão”, disse Arthur.

Era só questão de mais um pouco de tempo. Mas então, rapidamente, a segunda vice-presidente, Serys Slhessarenko (PT-MT), correu para a Mesa, assumiu a presidência e encerrou a sessão, sob veemente protesto dos tucanos.

Ainda assim o líder do PSDB não se deu por vencido. Tão logo Serys deixou a mesa, ele sentou no lugar dela, declarou reaberta a sessão e deu a palavra a Jereissati. A intenção dele era prolongar a sessão até a chegada de Perillo. Só algum membro da Mesa, no exercício da presidência, poderia ler o requerimento.

Finalmente, por ordem do senador Heráclito Fortes, os micrones do plenário foram desligados e a manobra de Virgílio abortada.

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